Arte e ativismo na América Latina: em agosto acontecerá circuito de falas, escutas e trocas no Rio de Janeiro

0 Flares 0 Flares ×

PRESENTE! CORPOS-SUJEITOS, RESISTÊNCIA E INSUBORDINAÇÃO

T. Angel. Fluído. 6ª Mostra Exercícios Compartilhados, São Paulo Foto: Leonardo Waintrub

Quando escolhemos o CORPO como tema do segundo ano do projeto ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA, nos deparamos com uma imensidão complexa e bela, e ao mesmo tempo desafiadora. Como dar conta de corpos que são maiores do que qualquer projeto, maiores do que eles próprios? Como dar voz à diversidade de narrativas diante das limitações inerentes ao desenho de um projeto específico? A resposta foi a construção coletiva de uma programação paralela, possível graças ao engajamento e às proposições de artistas e pesquisadores que trabalham e pensam o corpo a partir de seu potencial micro-político e transgressor.

Tendo em vista esse desafio, criamos um evento multidisciplinar que será realizado em dois sábados: 26 de agosto e 2 de setembro. Não esperamos com isso esgotar o assunto, ao contrário. A conversa está só começando. 
Todxs os corpos são bem vindxs!

PROGRAMAÇÃO DO DIA 26 DE AGOSTO

16h00
NÓS SOMOS PORQUE ELXS SÃO
Eu-Você- Nós-Elxs: disposições precárias, temporárias e em constantes conformações através de encontros e desencontros. O que está em jogo para os corpos dissidentes, fora das hegemonias de cor, raça e classe (listando apenas os principais sistemas estruturantes da diferença) quando seus campos de atuação cultural se inscrevem em um dos mais, senão o mais elitizado e excludente de todos? Como as políticas neoliberais descoladas e ao mesmo tempo marginalizantes que envolvem o circuito da arte contemporânea acabam por influenciar a produção de artistas negrxs? Como a gente faz nossos corres de arte, diante de tantos outros corres, que nos deixam em condições precarizantes? Esses fatores nos colocariam em desvantagem ou daí produziríamos também nossa potência? A presente proposição tem como objetivo estimular uma conversa pluriversal com todxs os presentes sobre as condições sempre adversas de ser artista visual afrodescendente no maior país negro da diáspora forçada africana. Para tanto, como disparadores de nossa
dinâmica de partilhas contaremos com 7 artistas que se dispõem de saída como ativadores de reflexões a partir de suas vivências.

São elxs: Aline Besouro, Jandir Jr., Lyz Parayzo, Marina .S. Alves, Millena Lízia, Rafa Éis e Renata Sampaio. Contudo, todxs estão convidadxs para dividir suas experiências, pois o formato de nossas falas fluirá através da composição ancestral-utópica da roda de conversa: em que ninguém está atrás ou na frente de ninguém, estamos todxs um ao lado dx outrx.

18h00
O MANIFESTO FREAK E OUTRAS CONVERSAS SOBRE O CORPO MODIFICADO
Partindo de vivências e experiências nos meios das modificações corporais do Brasil e inspirado no body hackitivism, na teoria queer, teoria crip e em todas as teorias em curso sobre possibilidades de vidas desviantes, a educadora, historiadora, artista e ativista T. Angel discorre sobre aquilo que podemos chamar de teoria freak ou a teoria dos anormais.

19h00
A COMPLEXIFICAÇÃO DOS CORPOS: ESPREMIDOS RELATOS ENTRE A FAVELA E A CADEIA
Thainã de Medeiros e Samuel Lourenço conversam sobre as sanções à mobilidade dos moradores dos bairros periféricos. O prisionamento
destes corpos acontece em diversas esferas: no encarceramento em massa de jovens negros, na dificuldade de mobilidade social, nas
limitações de locomoção e na falta de liberdade de trânsito pela cidade.

21h00
PERFORMANCE “INAPTO” (30?)
com T. Angel

Inapto – Adj. Que não possui nem demonstra capacidade e/ou aptidão.
Que não é capaz; sem habilidade.

Como se operam os sistemas de segregação e exclusão do acesso de determinadas pessoas ao mercado de trabalho.
O que está debaixo do véu da hipocrisia que acoberta e faz girar essa velha roda é um sistema normativo, controlador, reacionário e autoritário por onde se selecionam não apenas quem entra no mercado de trabalho, mas sim, quem deve ou não existir. Eles dizem com um sorriso cordial cínico que não estão contratando, que as vagas foram todas preenchidas, que não temos o perfil para o cargo ou para a empresa ou, ainda, debruçados no discurso médico, carimbam em nossas testas que somos inaptos. Nós dizemos com o rosto lavado de sorriso que eles são capacitistas, cisterroristas, heteronormativos, racistas, gordofóbicos, meritocráticos e eugenistas. O que de fato está inapto?

***

PROGRAMAÇÃO DO DIA 02 DE SETEMBRO

16:00
APROVEITE SUA PRÓSTATA – CINEMA KUIR
A questão é bem simples e direta. Como uma parte da anatomia masculina pode ser renegada em nome de uma suposta virilidade? Ainda
mais essa parte sendo o equivalente ao ponto G masculino. Vinicius Nascimento – editor de cinema, video e TV. ativista, integrante do Cinema KUIR. diretor do “Aproveite sua próstata” junto com Priscilla Bertucci. Daniela Avellar – trabalha com cultura e artes visuais. é uma das integrantes do Cinema KUIR e dj residente da festa Rave Gótica. roteirista da “Aproveite sua próstata”.

17h30
ESBOÇANDO PLATAFORMAS: CORPO COLETIVO E ENTIDADE
Em um mergulho profundo entre instituições psiquiátricas e terrenos baldios, o artista Jeferson Andrade traça uma análise teórico-prática de formas de vida que estão na borda da produção de narrativas. Transdisciplinaridade e inteligência coletiva como mecanismos de produção de conhecimento. Através de uma nova gestão do corpo, como podemos evocar uma comunidade por vir ou mesmo uma entidade?

19h00
MAIS DADOS, MENOS INVISIBILIDADE
Quantas pessoas trans ocupam cargos públicos no país? Que porcentagem de mulheres empresta seus nomes a ruas e praças? A maioria masculina na chefia da mídia impacta a forma como as mulheres são retratadas? A jornalista Maria Lutterbach apresenta “Gênero e Número”, uma iniciativa independente de jornalismo que garimpa, analisa e difunde dados em resposta a perguntas como essas para qualificar o debate sobre os direitos das mulheres e da população LBTQIA+ no país e na América Latina. Tornar dados acessíveis é estratégico não só para embasar discursos de mudança e construção de políticas públicas, mas sobretudo para revelar corpos e
sujeitos repetidamente invisibilizados.

20h30
PRAZER É RESISTÊNCIA
A artista visual e dj Susana Guardado encontra na música e na sua experiência sensorial a “possibilidade de construir narrativas coletivas sem palavras”. Na pista de dança, local de participação e partilha onde se desenvolvem momentos rituais sem transcendência, formulam-se as questões que irão servir de base ao seu trabalho visual: as relações interpessoais na sociedade ocidental contemporânea; a música como elemento agregador, contaminador, condutor, gerador de imagens e momentos, capaz de produzir e convocar memórias; e, sobretudo, a vivência pessoal da artista destas mesmas realidades, numa incessante procura de identidade e auto-conhecimento. Por isso, o trabalho de Susana Guardado não define, apenas sugere; sugere a sua própria história que se pode, ou não, identificar com outras histórias, abrindo campo à estimulação da memória, convidando à viagem e à criação de novos sentidos. Nas ruas, nas festas híbridas e construídas coletivamente (fora dos mecanismos tradicionais), arte, hedonismo e contracultura se encontram. Prazer é poder que emana do corpo.

***
SOBRE OS PARTICIPANTES

26 DE AGOSTO

ALINE BESOURO
Sua atuação artística tem como conexão o interesse em alguém e a
possibilidade de narrar alguma coisa tendo como suporte diversas
materialidades e possibilidades. Integra diversas propostas coletivas, tais
quais o Grupo MAd, voltado para performances, pesquisas sobre relações
entre-corpo e de criação de dispositivos relacionais, desde 2012; a Bendita
Gambiarra, projeto de ilustração e construção artesanal, desde 2014; e
também o grupo Antessala, grupo editorial que possui como principal
publicação o jornal de mesmo nome, cuja pesquisa perpassa assuntos
sobre ditadura, proposição curatorial e memória. Na área de proposições
artísticas-educativas, destaca-se o projeto Transcrições, de início em 2015,
voltado para pessoas transexuais e travestis e o laboratório Coser, que
acontece desde 2015.

JANDIR JR.
Desenvolve o site processofolio.tumblr.com e, junto com Antonio Gonzaga
Amador, performa a Amador e Jr. Segurança Patrimonial LTDA., que
consiste em ações específicas realizadas pelos artistas trajando uniformes
de segurança em espaços dedicados à exposição de obras de arte.

 

LYZ PARAYZO
Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Manicura e puta-pornô-
terrorista, iniciou seus estudos na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque
Lage e começou a invadir galerias de arte com intervenções estético-
políticas. Como um vírus, subverteu os protocolos de poder dos espaços
institucionais borrando as fronteiras do que é oficial. Tem o corpo como
principal suporte de trabalho e sua performatividade diária como
plataforma de pesquisa. Suas bombas-plásticas desestabilizam as
tecnologias heteronormativas e coloniais, são projeções anabolizadas da
sua existência. Vem desenvolvendo video-instalações com conteúdo pós-
pornográfico, joias bélicas e atualmente está pesquisando as
performances de gênero e classe a partir da cor em seu “Salão Parayzo”,
dispositivo itinerante no qual atua como manicura.

MARINA S. ALVES
Ativista visual que encontrou na fotografia de espetáculos de dança e na
fotogradia documental a motivação para desenvolver uma autoria. É
fotografa do núcleo de criação e produção audiovisual AGÔYÁ, sediado no
Centro Afrocarioca de Cinema, Lapa/RJ, composto por mulheres que
utilizam a imagem como meio de visibilização critica de temáticas político-
sociais e atua como professora de fotografia digital na Coordenadoria de
Arte e Oficinas de criação da UERJ.

MILENA LÍZIA
Mestranda de Estudos Contemporâneos das Artes – UFF. Graduada em
Comunicação Visual (2009) e com especialização em Montagem
Cinematográfica (2012). Começa em 2010, por meio de oficinas na Escola
de Artes Visuais do Parque Lage, sua pesquisa em arteS. Foi o uso da
tecnologia (geralmente em dispositivos low-techs de vídeo, animação e
fotografia) que a despertou para uma poética voltada para x(s) corpx(s) e
sua(s) relação/ões com o(s) mundo(s).

 

RAFA ÉIS
Natural de Porto Alegre – RS. Desde 2007 colabora com projetos
pedagógicos de museus, centros culturais e projetos independentes
vinculados às artes visuais. Integrante-fundador do Coletivo E, grupo
independente de artistas-educadores. Em 2017 concluiu seu mestrado em
processos artísticos pelo PPGARTES-UERJ. Atua como orientador de
oficinas artísticas (artes visuais) no Centro Cultural UERJ/COART.

RENATA SAMPAIO
É artista multidisciplinar. Seus trabalhos orbitam o corpo negro feminino e
questões ligadas à identidade, intimidade e territorialidade. Trabalhou em
diversas instituições e exposições artísticas como arte educadora
investigando as possibilidades da educação com a performance.

T.ANGEL
Trabalha com educação pública em Osasco, Grande São Paulo. Graduadx
em história, é artista e ativista pelos direitos dos animais humanos e não
humanos. Nas últimas décadas tem pesquisado as modificações corporais
sob uma perspectiva histórica. Parte dessa pesquisa tem atravessado o
seu próprio corpo, na realidade é de onde tudo se iniciou. O ponto de
partida foi a própria carne. Em 2015, publicou o livro “A Modificação
Corporal no Brasil”, 1980-1990 (Editora CRV) e em 2016 publicou
eletronicamente o “Manifesto Freak”. Partindo dessas escritas e
experiências, surge a proposta para se desenvolver uma conversa e um
exercício de reflexão acerca das subjetividades e corporalidades que não
se encaixam nos padrões do discurso hegemônico.

THAINÃ DE MEDEIROS
Museólogo e jornalista, nascido e criado na Penha, reside há 4 anos no
Complexo do Alemão, onde atua no Coletivo Papo Reto utilizando a
tecnologia para a disputa de narrativa sobre a favela e garantia de direitos
humanos. Usa a capoeira como forma de relaxar e funk para entender a
cidade.

 

SAMUEL LOURENÇO FILHO
Ex-presidiário, membro do “Eu sou Eu: Reflexo de uma vida na prisão”
(grupo composto por egressos) e aluno de Gestão Pública para o
Desenvolvimento Econômico e Social – UFRJ.CINEMA KUIR surge da
necessidade de criar um dispositivo que opere como um espaço para
reflexão de temas que gravitam entre anarquismo e modos de vida e estar
junto que escapam às normas vigentes atrelados a arte e audiovisual.

02 DE SETEMBRO

CINEMA KUIR
É um coletivo de cineclube que opera como um espaço de reflexão sobre
questões que orbitam em torno do anarquismo e dos modos-de- vida-e-
estar-junto, desprendido dos circuitos normativos e institucionalizados da
arte e do audiovisual. Começa suas atividades no ano de 2016 na Galeria
Índica, em Ipanema, onde permanece por uma temporada até migrar para
a Casa Nem, espaço de resistência e acolhimento da população trans. Em
2017, o Cinema Kuir assume uma estratégia mais itinerante e pensa seu
funcionamento através da autogestão. A curadoria busca estabelecer
laços com espaços ligados à arte e à política, estabelecendo situações de
parcerias e colaborações. As sessões do Cinema Kuir são sempre
compostas por um ou mais filmes, seguidas de debates, tensionando
temas suscitados pelas obras, a partir das pesquisas e vivências pessoais
dos seus realizadores. As sessões acontecem sempre de forma gratuita e
colocam-se como um dispositivo aberto. Cinema Kuir é Vinicius
Nascimento, Calí dos Anjos, Daniela Avellar e Helena Assanti.

JEFERSON ANDRADE
Artista, escritor e teórico-ativista. Com uma abordagem conceitual, suas
obras referem a teoria pós-colonial, desenvolve trabalhos de investigação
sobre inteligência coletiva, ciberespaço e novas narrativas. As obras são
baseadas em situações inspiradoras: visões que refletem uma sensação de
indisputabilidade e contemplação serena.

 

MARIA LUTTERBACH
Co-fundadora da “Gênero e Número” e realizadora audiovisual.

SUSANA GUARDADO
Portuguesa radicada no Rio, é artista visual e dj. Idealizadora de diversas
festas e ações coletivas , entre elas, “Bota na Roda”, “Finalmente” e “Novo
Romance”. Atualmente, é uma das gestoras do espaço cultural “Boca”,
localizado na região central da cidade.

***

SERVIÇO

PRESENTE! CORPOS-SUJEITOS, RESISTÊNCIA E INSUBORDINAÇÃO
{{{ Circuitos de falas, escutas e trocas }}}
Quando: 26 de agosto e 02 de setembro (sábados)
Horário: 16h00 – 22h00
Local: Despina | Largo das Artes
Rua Luis de Camões, 2 – Sobrado – Centro
Rio de Janeiro, RJ
Entrada gratuita

***

ARTE E ATIVISMO NA AMÉRICA LATINA é um projeto da Despina, realizado em parceria com a organização holandesa Prince Claus Fund, que se estende por três anos (2016, 2017 e 2018). A cada ano, um tema norteia uma série de ações que incluem ocupações, workshops, conversas, projeções de filmes, exposições, encontros públicos com nomes importantes do pensamento artístico contemporâneo e um programa de residências artísticas. Nesta segunda edição (2017), o projeto tem como tema o CORPO e se estende de maio a outubro. 

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 LinkedIn 0 Pin It Share 0 Reddit 0 Email -- 0 Flares ×

2 thoughts on “Arte e ativismo na América Latina: em agosto acontecerá circuito de falas, escutas e trocas no Rio de Janeiro”

Deixe um comentário