Cobertura: arte corporal na Virada Cultural

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Nos dias 16 e 17 de Abril aconteceu em São Paulo a Virada Cultural, evento que conta em sua programação com 24 horas de atividades culturais das mais diversas possíveis e todas oferecidas gratuitamente para o público.

Como anunciamos aqui anteriormente, assim como no ano passado haveria um palco intitulado de Arte Corporal – ou mais especificamente Frrrkcon -, sob a organização de Luciano Iritsu. Se no ano passado, o palco ficou “escondido” dentro de uma galeria, dessa vez ele esteve aberto ao céu, no sentido literal da palavra, estando localizado no Largo do Paissandu, centro antigo da cidade de São Paulo.

Como se esperava (ou não) o palco recebeu diversos trabalhos no campo da body art, arte da performance, demonstrações de suspensões corporais e outras manipulações corporais, como o belíssimo Kavadi realizado por Peco. Na maioria dos casos – e não em todos – a suspensão corporal foi uma ferramenta para a execução de diversos trabalhos de arte. Falamos isso, por defendermos a ideia de que nem toda suspensão pode ser considerada como uma manifestação artística, o que por sua vez não retira a validade intrínseca de valores sentimentais pessoais, ritualística e a forte carga cultural da ação em si. Em todo caso, para muitos curiosos o palco apresentou apenas alguns corpos pendurados por ganchos, perspectiva esta que perde e muito o contexto e a profundidade de cada trabalho.

Esse ano a única atração internacional foi a performer argentina La Negra e os únicos shows de bandas ficaram a cargo dos paulistas do Diva Muffin e do Mr. Ludico. Os artistas citados também se apresentaram na edição passada e é sempre muito bom vê-los em cena.

Os Dj’s fizeram shows à parte, desde as primeiras horas da Virada o público vibrava e dançava em frente ao palco. Essa interação deu um ar bastante especial nessa edição.

Citando os pontos fracos, pois enxergá-los é essencial para que possa haver melhorias, se no ano passado o evento foi marcado por grandes atrasos, esse ano as atrações seguiram a risca a programação, com poucas exceções.

Se há a algo que realmente lamentamos, foi a não apresentação do trabalho “Casulos do Nascimento” de Otávio Donasci, consagrado artista e professor da PUC-SP. Longe de querer encontrar ou apontar culpados, mas em caráter unicamente informacional, uma mistura de fatores fez com que o trabalho se tornasse impossível de colocar em prática no palco, o que gerou um grande mal estar. Muito felizmente ficamos sabendo pelo próprio Donasci, que o trabalho se realizou nas ruas de São Paulo durante a Virada, realmente lamentamos em não termos visto ao vivo, como de fato esperávamos.

Uma outra “ausência” a se comentar foi em relação aos vídeos e fotografias que seriam exibidas e não foi.

Falaremos agora daquilo que foi realizado e fez brilhar aquelas 24 horas de efervescência cultural. Passando um pouco das 22:00, subia ao palco o performer T. Angel com seu trabalho “Burn Burn”, uma discussão sobre a fadiga das velhas teorias que ainda nos contam e sustentam a nossa sociedade.  Da terra, ao fogo e não demorou para chegar a água e por fim ganhar o ar, com um corpo contorcido sustentado por ganchos. O público vibrou!

A atração seguinte “Deuses e Monstros”, trouxe ao palco La Negra, Heitor Werneck e Pink. A plástica de três corpos suspensos no mesmo espaço é fenomenal. Heitor, representando Shiva, enquanto que Negra, Kali, fizeram uma suspensão em posição de lótus e posteriormente cortaram suas cordas e permaneceram em vertical, momento em que Pink também deixou o chão.

Na sequência veio o show de Diva Muffin, com várias intervenções performáticas que foi do strip tease à dominação com ares sado masoquistas entre Emilia Aratanha e T. Angel.

Engana-se completamente quem pensa que lidar com performance é simples. A exemplo, a performance Reunion in Bows que seria apresentada por Emilia Aratanha precisou ser cancelada uma vez que a artista se encontrava sem condições físicas de se apresentar. Tanto a organização quanto a própria performer preferiram cancelar ao ter complicações maiores.

Duas apresentações de suspensões encantaram a madrugada do evento, o suicide realizado pela Sanae e o coma de Roberto Santos.

Durante a manhã, aconteceram as palestras com a performer e pesquisadora Sara Panamby, a antropóloga Claudia Machado e o historiador Thiago Soares (T. Angel). Os discursos ficaram no âmbito de suas respectivas pesquisas e investigações acerca das modificações e artes corporais. O público pequeno que esteve presente foi bastante participativo, o que colaborou para uma atmosfera descontraída.

Enquanto a palestra e o debate se desenrolavam, o cenário de fundo era a preparação para a “atração” seguinte.

A trilha de devoção ao Lorde Murugan anunciava o começo de tudo, em um ritual de preparação que quebrou com a agitação e pressa do cotidiano ocidental. Aos poucos a estrutura do Kavadi era posta sobre Peco. Lança por lança despejada em seu corpo, com flores e frutas. O contraste da imagem que se construía com a arquitetura do centro de São Paulo nos levou a refletir na importância daquele espaço para discussão de culturas que não as nossas. Após a montagem de toda estrutura, Peco saiu em caminhada pela cidade, seguido de amigos, curiosos e olhares que buscavam compreender tamanha beleza e intervenção.

As 13:00 do domingo abençoado por um sol aberto, subia novamente ao palco o performer T. Angel. Dessa vez para apresentar o trabalho inédito de nome “Arco da Histeria“. Parafraseando um comentário sobre o solo, disseram que foi “a tarde que calou o Largo do Paissandu”. Em suma foi um trabalho que visava criar uma reflexão sobre a homofobia no Brasil.

Trazendo um pouco de humor ao palco, Enzo Sato vestido de Spider Man, brincou suspenso no ar e inverteu sua posição inicial, como se estivesse sentado, apenas para os joelhos. Tão logo a clássica cena do beijo de ponta cabeça foi reproduzida por Enzo e sua namorada.

Próximo do fim do evento, tivemos a performance “Ascese amorosa” de Almir Pinheiro.

O fechamento de 24 horas de atividades ficou na responsabilidade do “Compasso do Acaso” de Sara Panamby e Filipe Espíndola, que contou com a participação de outros performers. A performance que tratava o corpo ritualizado da morte era uma releitura do Kuarap, ritual indígena brasileiro. Será que alguém tem dúvida de que foi um fechamento com chave de ouro?

Abaixo vocês podem conferir algumas fotos do que aconteceu durante o evento.

Fotos: Gabriel Hostins

 

Fotos: Leandro Pena

 


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