Marcelo D’Avilla: boylesque e a arte de burlar

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Fotos: Divulgação


Estamos de olhos abertos. Gostamos do novo e de tudo aquilo que oferece quebras ao senso comum. Por isso e para isso estamos sempre de olhos bem abertos. Partindo desse pressuposto é que nos encantamos com o trabalho do boylesque, dançarino e performer Marcelo D’Avilla, possivelmente o primeiro e único brasileiro que carrega o termo “boylesque” com orgulho e muito talento.
Independente de ser o primeiro ou não, o que se faz importante ressaltar é a qualidade e dedicação desse profissional da dança.
Ainda bem que nossos olhos estavam abertos para vê-lo e com muito prazer é que compartilhamos agora uma entrevista com esse super artista. Desde já deixamos os nossos agradecimentos ao Marcelo por ter nos atendido com tanto carinho e atenção.

T. Angel: Quando você sentiu e decidiu que iria estudar dança?
Marcelo D´Avilla: Eu tinha 13 anos quando olhei um videoclipe na Tv com uma coreografia muito bacana numa cadeira. Foi quando minha cabeça fez um estalo e pensei: “É isso que quero fazer!!!”. No dia seguinte eu estava pesquisando na biblioteca da escola por onde eu devia começar. Foi quando descobri o Ballet. Na mesma noite avisei minha mãe que queria que ela me matriculasse no Ballet, ela riu e disse que não iria me pagar esse tipo de “coisa”. Na mesma semana eu corri atrás e consegui uma bolsa de ballet, onde estudei por 6 anos.

T. Angel: Por quais modalidades passou?
Marcelo D´Avilla: Fiz ballet clássico, ballet contemporâneo e neo-clássico (ballet moderno). Além disso fiz Jazz, HipHop, contato improvisação, jazz musical (Bob Fosse) e pole dance.

T. Angel: Como se deu o primeiro contato com o burlesco?
 Marcelo D´Avilla: Sempre fui fã do vintage e das décadas de 20, 30 e 40. Apaixonado pelo musical Chicago, Cabaret e outros, comecei por aí a saber sobre o burlesco, pelo menos visualmente. Mas ainda não tinha especificamente noção do que era. Num convite feito pelo Heitor Werneck, ele me pediu pra montar um personagem burlesco. Foi onde me aprofundei na pesquisa sobre o que de fato era a arte do burlar. Daí montei a gênese da personagem burlesca Sete de Ouros.

T. Angel: Existem outros Boylesques no Brasil?
Marcelo D´Avilla: Até onde eu saiba, não. Já conversei com diversos jornalistas e gente da mídia onde sempre me contam: “- Você é o único a fazer boylesque no Brasil, sabia?” – eles pesquisam mais que eu acho. rs
E fui contatado recentemente por um Boylesque Inglês que está fazendo tese sobre Boylesque. Ele me disse que buscou representantes burlescos em todos os continentes, e aparentemente sou o único boylesque autoproclamado e com trabalho embasado nas vertentes do neo-burlesco performando na América Latina!
Eu mesmo já procurei, e não vi nenhum outro rapaz fazendo boylesque de fato.


T. Angel:Vimos também que você atualmente está participando de competições de Pole Dance, comente.
Marcelo D´Avilla: Na verdade não estou participando de competições de Pole Dance, ainda não sou tão bom! Fui convidado a participar de um festival de pole dance em Ribeirão Preto. Onde desenvolvi uma vertente do neo-burlesco para performar lá. Com a personagem Sete de Ouros performei um strip tease no pole, o que no exterior vemos com o termo Polesque: o “pole burlesque”. Desta forma sou também o primeiro a fazer performances do tipo por aqui.


T. Angel: Vivemos em uma sociedade bastante machista e você sempre praticou “coisas” de que o senso comum costuma nomear como sendo do “universo feminino”. Comente um pouco essa relação e nos conte como é a recepção do seu trabalho.
Marcelo D´Avilla: Como o boylesque vem pra burlar o burlesco comum, que originalmente é uma performance de strip tease feminino onde a burlesca não tira a roupa toda e sim tira todo o sarro do público com a promessa de um strip tease completo. O boylesque tira sarro da burlesca, tirando a roupa e transgredindo o gênero. Normalmente entro como rapaz, fazendo um strip comum, quando ocorre a piada: estou usando lingeries femininas! Dessa forma o público masculino normalmente cai na risada e entende a piada, portanto a receptividade é sempre muito bacana.

T. Angel: Além de ser um profissional dos palcos, você também é professor de dança. O que você exatamente ensina e onde podemos estudar contigo?
Marcelo D´Avilla: Atualmente leciono Pole Dance e DIVAS. Divas é uma aula direcionada para o público feminino (mas também tenho rapazes na aula) e é uma aula onde trabalho a sensualidade e a força da mulher sobre um salto alto. É uma aula bastante dinâmica e com alta perda de calorias. Ambas são lecionadas no Pole Dance Studio Alexandra Valença, em Moema (Al. Maracatins, 1322) Porém ainda posso lecionar ballet clássico, contemporâneo e hiphop. Além de trabalhar também com preparação corporal pra artistas, tanto atores, performers, cantores e etc, pois possuo formação teatral.

T. Angel:  Qual a sua relação com a body modification?
Marcelo D´Avilla: Sou suspeito a falar, embora eu não possua tantas modificações, salvo um piercing e algumas tatuagens, sou muito fã de tatuados, com piercings, alargadores e implantes. Sou fascinado por arte no geral, e creio que a body modification é uma ramificação pessoal do artista. Onde ele consegue fazer do corpo dele o que ele realmente vê de si mesmo. Como ele pode cultivar o corpo dele da melhor forma pra ser visto como realmente deseja ser visto. Além de gostar do trabalhos de diversos artistas que trabalham com a questão do corpo e ter muitas referências do tipo no meu trabalho, claro que não no trabalho como boylesque, mas como performer em ascensão e em criação constante.

T. Angel: As tatuagens te atrapalharam em algum momento da sua vida profissional?
Marcelo D´Avilla: Nunca me atrapalharam em nada, assim como mencionei acima, é um reflexo de quem eu sou através da minha pele.

T. Angel: Corpo para você é?
Marcelo D´Avilla: Objeto pessoal. Objeto de trabalho, objeto de estudo, de busca de limites, de prazer, de sensações. É a única posse que realmente temos, tudo que está nele de fato é nosso.

T. Angel:Existe algum projeto para 2012 e que você queira repartir com os nossos leitores?
Marcelo D´Avilla: Milhares de projetos estão engavetados, inclusive uma nova personagem performática, fora dos padrões burlescos. Logo mais tem coisa nova por aí.

T. Angel:Deixe uma mensagem para todos os meninos que pretendem seguir a trilha da dança e da arte corporal nas suas mais múltiplas leituras.
Marcelo D´Avilla: Rapazeada, não perca tempo em falar o que teu corpo pede pra você dizer! Dêem a cara a tapa, não tenham receios, mas tenham sempre referências e bom gosto. Mesmo que o seu bom gosto seja mal gosto pros demais, seja sempre fiel à sua autenticidade. Pois a maior e melhor marca de um artista é ser autêntico, mesmo que seja tão parecido com outro, dê sempre sua singularidade. E nunca baixe a cabeça, salvo quando for reverenciar.

 

 

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