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Gostaria de começar essa conversa lançando uma questão: o que uma escola ensina para o mundo quando impede que um professor com modificações corporais exerça o seu ofício?
Se a Declaração Universal dos Direitos Humanos coloca em seu artigo 1º que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” e no artigo 23º que “todo ser humano tem direito ao trabalho” e “a condições justas e favoráveis de trabalho”, percebemos que quando a escola se torna essa instituição que impede profissionais de trabalhar por conta de seus corpos ela está indo contra os direitos humanos e negociando a dignidade das pessoas. Nesse sentido, caminhando contra todos os debates das últimas décadas no campo da educação e inclusiva.
Foi em 2018 que o francês Sylvain Helaine – também conhecido como Freaky Hood – se tornou notícia no mundo por ter o corpo bastante tatuado, perfurado, modificado e trabalhar com educação. Na ocasião escrevemos sobre o assunto AQUI no FRRRKguys.
Em 2020, o professor retorna aos noticiários, dessa vez denunciando que fora impedido de trabalhar por conta de seu corpo. Algumas manchetes carregam o suave tom do julgamento e depreciação, usando expressões como “não bastasse ter o corpo, o rosto, a língua” ocupado por tatuagens e outras recorrem ao sensacionalismo barato e que nada contribuem para a construção de um diálogo minimamente saudável.
A imagem do professor com pouca ou nenhuma roupa, mostrando a extensão de suas tatuagens, com expressões corporais, faciais dramáticas e caricatas colaboram com a construção de um imaginário e narrativa da abjeção. E veja, o problema que pontuamos é o uso que se faz das imagens para construir a mensagem que se quer passar.
Tratando agora o caso de discriminação, Sylvain contou que em 2019 trabalhava em um jardim de infância no subúrbio de Paris, França. Pais e mães reclamaram da aparência do professor, principalmente após uma criança de 3 anos – que não era seu aluno – ter se assustado e tido pesadelos com ele. Ao Le Point, o professor disse:
“Sempre provoco um momento de espanto nas crianças e nos pais. Mas, quando me apresento e eles veem que sou um professor como os outros, tudo vai bem”
Segundo as notícias, um porta-voz da escola explicou que se fez um acordo e que o professor passaria a trabalhar com crianças acima de 6 anos. O acordo ao que parece não foi tão acordado assim, Sylvain contou que faltou apoio da instituição e que a decisão o entristeceu. Ele acredita ainda que a sua presença ajudaria as crianças a aprenderem na prática a se relacionarem com as diferenças e diversidades humanas de uma forma menos violenta.
“Talvez quando forem adultos [os alunos], sejam menos racistas e menos homofóbicos e tenham a mente mais aberta.”
O jornal Le Figaro coletou alguns depoimentos na frente da escola. Enquanto um pai concordava com o diretor dizendo que também não contrataria o professor, estudantes já trazem outras perspectivas explicando que se acostumam e, inclusive, com explicações cirúrgicas de que a tatuagem não muda o caráter de ninguém.
Retornamos agora a pergunta inicial, o que as escolas querem ensinar para o mundo quando usam de estratégia de exclusão? Responda a sua própria maneira. Pense.