Na véspera do dia que se comemora o Dia do Piercing e também o Dia do Orgulho LGBTQ+ o presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, fez a sua transmissão ao vivo semanal no Facebook. Ambas as datas são insignificantes pra ele. A primeira ele muito provavelmente desconheça. A segunda ele despreza e tem trabalhado arduamente para sua extinção. Não da data, mas das pessoas que são contempladas por ela.
Diretamente de Osaka, Japão, onde participa do encontro do G20, o atual presidente do Brasil tem causado desconforto internacional e tem sido tratado e representado como uma figura tóxica. Estamos 0% surpresos.
Durante a transmissão na noite desta quinta-feira, Bolsonaro – o pai mostrou uma bijuteria, um pingente e talheres cujos valores somam a quantia de US$ 1.450 (R$ 5,5 mil), segundo ele — indicam ser esta uma oportunidade para a economia brasileira. Desde a sua campanha, o agora presidente, fala sobre investir na exploração do nióbio. Embora estudos já tenham apontado sua ineficiência, economicamente falando.
Além de ir no sentido oposto da sensatez, coerência e da razão – há algum tempo – o presidente do Brasil aproveita para sublinhar o seu viés ideológico da exclusão das pessoas LGBTQ+. Na transmissão ele diz:
“Temos aqui um pequeno cordãozinho. Ele é azul, porque é azul, mas tem de várias cores, de acordo com a têmpera do nióbio (…). A vantagem disso, em relação ao ouro, primeiro são as cores, que variam, e ninguém tem reação alérgica ao nióbio. Alguns têm a ouro. Às vezes a mãe bota um brinquinho na orelha da menina. Menina, para deixar bem claro. E tem reação. Disso aqui, não tem.”
Tínhamos a impressão que a discussão sobre furar a orelha, independentemente do gênero da pessoa, já tinha sido resolvido nos anos 90 do século passado. Mas na realidade paralela do Brasil bolsonarista de 2019 a ideia retorna com força quando a figura que representa a liderança de um país diz e sublinha que que brincos nas orelhas são somente para meninas.
Se faz importante relembrar que a perfuração da orelha de crianças – que não podem decidir por si – fere a noção do consentimento, como já escrevemos AQUI tempos atrás. Importante lembrar também que adornos corporais existem para pessoas independentemente do gênero. Brincos são para meninas, menines e meninos que quiserem – por iniciativa pessoal – ter suas orelhas perfuradas. Algo que para nós que perfuramos orelhas, lábios, nariz, mamilos e genitais é muito óbvio.
Assim como a pastora e Ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, diz que “a nova era começou, e que agora menino veste azul e menina veste rosa”, o presente Bolsonaro diz que “a mãe bota um brinquinho na orelha da menina. Menina, para deixar bem claro”. Tanto em um caso quanto em outro a mensagem que acompanha as frases é quais identidades e pessoas podem existir e, principalmente, quais devem ser exterminadas. A nova era, que eles dizem, na realidade é tudo o que há de mais de antigo no mundo: ódio e extermínio dos diferentes e das diferenças.
Dentro da comunidade da modificação corporal brasileira existem muitas pessoas que apoiaram e apoiam o atual presidente e suas ideias, o que por si é uma contradição. Resta saber agora como essas pessoas vão receber a notícia de que para Bolsonaro – o pai somente meninas podem ter as orelhas perfuradas.