Na madrugada do último sábado, 14, a artista Pedro Galiza saia de uma festa na Rua Augusta, São Paulo, e solicitou um carro da 99. Momentos de pânico e horror se seguiriam na viagem que quase levou a sua vida. Abaixo compartilhamos o relato na íntegra da artista publicado nas redes sociais enquanto denúncia da tentativa de assassinato que sofreu:
“Na madrugada desse sábado, saindo de uma festa na R. Augusta, solicitei um motorista na @voude99 pra ir embora. A corrida a princípio apresentava um valor, e quando cheguei ao meu destino, estava um preço absurdamente maior e não tinha como pagar o motorista de imediato. O motorista ao invés de aceitar uma possível negociação, como me permitir entrar em casa para pegar o dinheiro que faltava, ele me sequestrou e começou a me agredir verbalmente no carro acelerado. Ele tentou me violar de várias formas, e me coagiu a dar meu celular à ele sob ameaça de tirar minha vida com um tiro, mesmo não apresentando nenhuma arma. Até que entreguei meu celular desbloqueado, então ele mandou eu descer do carro EM MOVIMENTO. Eu me neguei, e isso o fez ficar mais truculento. Pedi para ele desacelerar para que eu pudesse então descer. Ele fingiu que ia parar e na hora que abri a porta e coloquei os pés no chão, ele arrancou com o veículo e acelerou propositalmente. Eu caí e tive o corpo arrastado por um curto trajeto, até me soltar e correr para pedir ajuda num posto de gasolina onde me prestaram socorro. A adrenalina não me fez perceber que tinha feito um profundo corte na cabeça, e nem percebi de imediato meu corpo todo esfolado, principalmente minha face. Tive os devidos socorros, estou sob observação por ter lesionado uma importante parte do crânio. Agora… o nome do motorista é Ronaldo, e as demais informações o aplicativo da @voude99 não me forneceu ainda, mas deixo a foto dele nesse post. Fiz boletim de ocorrência e abri inquérito policial para que esse homem seja encontrado e preso. Faço também esse post para expressar minha vulnerabilidade perante esse cenário. Eu tenho passado por processos muito difíceis nesses últimos tempos, tenho tido sofrimentos enormes com uma depressão, entre tantas outras coisas. Viver o trauma dessa noite me dói mais que qualquer ferida… Eu não mereço isso, ninguém merece isso. Minha família me cuida aqui, também meus amigos queridos estão perto. Vamos nos cuidar…. e gostaria de pedir aqui na rede o cuidado de todos. Somos frágeis e o mundo tem sido cruel.”
A empresa 99 foi negligente e omissa com o caso brutal de violência e só passou a oferecer algum tipo de suporte mínimo depois do caso receber alguma notoriedade e comoção pública. O motorista segue com todos os dados da Pedro Galiza, por conta do seu celular desbloqueado, o que desperta um pânico que ele a procure e termine o que começou.
A artista pede que o caso seja publicizado e denunciado para que a sua experiência traumática não se repita com outras pessoas mais. Não é caso isolado. Assim como não é caso isolado a omissão das empresas de aplicativos diante de violências, sobretudo, contra grupos minorizados e dissidentes.
Pedro Galiza é uma jovem artista, preta, freak e queer, o que nos leva a hipótese de que toda violência descabida e hedionda direcionada para ela tem a sua razão de ser e que passa bem longe de uma mera negociação sobre pagar a conta de uma viagem. A violência sofrida por ela tem nome e nós a conhecemos muito bem.
Pedimos justiça por Pedro Galiza. O caso está sendo investigado pelas autoridades competentes e a artista conta com suporte de profissionais da advocacia.
Para Galiza, desejamos que o tempo e sua teia de afetos a ajudem em seu processo de cura que vai muito além das feridas físicas. Você não está sozinha.