(Foto: South Tyrol Museum of Archaeology/Eurac/Samadelli/Staschitz
O corpo de Ötzi, o homem de gelo, uma múmia de 5.300 anos de idade foi encontrado em 1991 nos Alpes de Venoste (em alemão Ötztaler Alpen, por isso o nome da múmia) desde então, vem sendo analisado e estudado. Recentemente novas análises, com tecnologias mais avançadas, reacenderam os debates acerca do corpo. As questões atuais buscam entender se as marcas corporais de Ötzi seriam o que entendemos como tatuagem ou alguma outra forma mais antiga de acupuntura.
Vale lembrar que a palavra tattoo (do taitiano tatau) só surgiu em 1769, do encontro do navegador britânico James Cook (1728-1779) com os povos polinésios. Em outras regiões e tempos não sabemos com precisão qual seria o nome que a técnica de pigmentar a pele recebeu. Há de se ter em mente que Ötzi viveu em 3.300 a.C. no norte da Europa.
As novas análises apontam que Ötzi apresenta 61 tatuagens, produzidas por incisões finas seguidas por fricções com carvão. As marcas não são facilmente identificáveis devido a cor escura da pele da múmia e a própria posição em que o corpo se encontra.
(Foto: EURAC/M.Samadelli/M.Melis)
Para determinar com precisão a localização e o número exato das tatuagens, o pesquisador Marco Samadelli e seus colegas do Museu de Arqueologia do Sul do Tirol, na Itália, utilizaram técnicas inovadoras de fotografia multiespectral não invasiva, que captam diversos comprimentos de onda, do infravermelho ao ultravioleta. Foi preciso descongelar levemente o corpo para remover algumas camadas de gelo que o envolvia.
(Foto: EURAC/M.Samadelli/M.Melis)
A maioria das figuras consistem em marcas lineares e paralelas, com distância entre 2 mm e 8 mm. As marcas têm entre 1 mm e de 3 mm de espessura, e 7 mm e 40 mm de comprimento. Em duas regiões, no joelho da perna direita e no tornozelo do pé esquerdo, as linhas formavam uma transversal perpendicular. A maior concentração de desenhos foi encontrada na parte inferior das pernas, enquanto as tatuagens mais longas foram detectadas em torno do pulso da mão esquerda. As tatuagens visíveis, que já haviam sido documentadas, estão na região lombar.
(Foto: South Tyrol Museum of Archaeology)
Novas tatuagens também foram localizadas no canto inferior direito da região torácica, formando quatro linhas paralelas de 20 mm a 25 mm de comprimento, segundo o pesquisador Samadelli “isso é particularmente interessante, já que representa a primeira tatuagem identificada na parte frontal do tronco do Homem de Gelo“, acrescentou.
(Foto: South Tyrol Museum of Archaeology)
Anteriormente acreditava-se que as tatuagens seriam uma espécie de tratamento ou diagnóstico de problemas de saúde (levando em consideração inclusive onde as marcas se localizavam), como dor lombar e doença articular degenerativa dos joelhos, tornozelo e punho. Apenas um adendo, alguns povos africanos utilizaram ao longo da história práticas de marcas corporais similares com motivações profiláticas. Outros estudos associaram as marcas a uma forma primitiva de acupuntura, já que as tatuagens foram encontradas sobretudo ao longo dos meridianos de acupuntura usados para tratar a dor nas costas. No entanto, a “tatuagem recém-identificada no peito da múmia parece contradizer essa teoria, já que essa marca não está localizada perto de uma articulação”, argumenta Samadelli.
Os pesquisadores observaram que o Ötzi também sofria de condições que também poderia provocar dor na região torácica, como pedras da vesícula biliar, vermes intestinais e aterosclerose. “Portanto, não se pode descartar que as tatuagens do Homem de Gelo são, de fato, parte de um tratamento terapêutico“, concluíram.
Marco Samadelli e os demais pesquisadores agora querem usar o mapeamento completo das tatuagens para investigar os motivos da aplicação, incluindo sua relação com os pontos de acupuntura, afirmando que:
“Futuros estudos comparativos, com base nos problemas de saúde revelados pelos exames radiológicos e estudos moleculares, poderiam comprovar se as tatuagens tinham fins terapêuticos, diagnósticos ou uma finalidade mais simbólica”.
Por agora o que temos é que independente da motivação das marcas corporais de Ötzi, elas existem e fazem parte da história humana e isso não pode ser pormenorizado.
O estudo completo desse caso pode ser visto no Journal of Cultural Heritage. É bem provável que ouviremos algumas outras novas descobertas com o passar do tempo e o avanço da tecnologia.
Fontes:
Complete mapping of the tattoos of the 5300-year-old Tyrolean Iceman. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1296207415000023#>. Acesso em 23 de Julho de 2015.
Múmia de 5.300 anos de idade tinha 61 tatuagens no corpo, revela análise. Disponível em: <http://www.brasil.discovery.uol.com.br/noticias/novas-tatuagens-sao-encontradas-em-otzi-o-homem-do-gelo/>. Acesso em 23 de Julho de 2015.
Tatuagens mais antigas do mundo são encontradas em múmia. Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2015/01/tatuagens-mais-antigas-do-mundo-sao-encontradas-em-mumia.html>. Acesso em 23 de Julho de 2015.
Ötzi the 5,300-Year-Old Iceman has 61 Tattoos. Disponível em: <http://www.iflscience.com/plants-and-animals/tzi-5300-year-old-iceman-has-61-tattoos>. Acesso em 23 de Julho de 2015.