Em Janeiro de 2014 publicamos AQUI no FRRRKguys uma matéria analisando a bifurcação da língua (tongue splitting). O tempo passou e fomos assistindo as transformações que envolvem o meio, o procedimento e uma das modificações corporais mais comuns – e seguras – dentro da comunidade.
Para entendermos sobre algumas mudanças que envolvem a bifurcação da língua conversamos com o body modifier Marcos K, também conhecido como Cabelo.
Levamos até ele as perguntas mais frequentes que recebemos e as dúvidas que também acumulamos. Você confere a nossa conversa logo abaixo, repleta de imagens do trabalho do profissional em diferentes estágios.
FRRRKguys: Estamos conversando em 2020, você poderia nos contar quais técnicas seguem sendo usadas para realização do tongue splitting (bifurcação da língua)? Qual a mais popular hoje?
Marcos K: Eu diria que a bifurcação de língua não é uma técnica, e sim um procedimento que reúne o uso de diversas técnicas para realizar a bissecção dos dois grupos musculares, entre elas: os primeiros passos, a forma de proporcionar a hemostasia (ato de conter a hemorragia), escolha da incisão, material e técnica da sutura e o pós cuidado. Sendo assim a variação do conjunto de técnicas escolhidas por cada profissional é bastante vasta ainda que com a intenção de obter o mesmo resultado. As principais diferenças estão nas recomendações de cuidado no pós, na técnica e profundidade da incisão e na escolha do material e técnica da sutura. Em relação a popularidade das técnicas utilizadas atualmente vejo cada vez mais profissionais descartando o uso das pinças para hemostasia, o que aumenta o grau de dificuldade do procedimento porém garante uma melhor recuperação.
FRRRKguys: Os primeiros registros da bifurcação da língua no ocidente datam 1997 e 1998, segundo o BMEzine. Durante esses anos, em sua opinião, quais foram os principais avanços do procedimento?
Marcos K: Eu vejo avanços no procedimento de um modo geral, mas principalmente na qualidade da técnica sutura e hemostasia, no acesso à informação e a melhores materiais, que combinados permitem uma melhor recuperação e resultado.
FRRRKguys: Legalmente falando, qual a situação da bifurcação da língua atualmente?
Marcos K: A bifurcação, assim como outras notificações corporais, seguem à margem, não só por se utilizarem de técnicas cirúrgicas, mas também por atacar uma suposta moral, e só são permitidas legalmente quando autorizadas pelo estado ou instituições de saúde. “Só quando não forem contrárias à Lei injuntiva, à Moral, à Ordem Pública, são lícitas as limitações voluntárias dos direitos de personalidade” (VASCONCELOS, 2006, p. 156).
O Código Civil Brasileiro de 2002 limita a modificação corporal, ainda que realizada por um médico, apenas para se adequar a um padrão ou fins terapêuticos e não para exercer o direito à expressão da nossa personalidade enquanto indivíduos.
FRRRKguys: Já em 2000 o BMEzine apontava que a bifurcação da língua era uma das técnicas mais populares, seguras e com maior grau de satisfação pessoal. Como você enxerga o procedimento hoje? Segue sendo muito popular, segura e com alto grau de satisfação?
Marcos K: De todas as modificações, as mais populares são reconstrução de lóbulos e bifurcação de língua, que com os avanços da técnica são cada vez mais seguros e com maior grau de satisfação. No caso da bifurcação existe o fator da discrição, sendo um procedimento reservado e na maioria das vezes só aparente quando a pessoa tem a intenção de mostrar, não atrapalhando a convivência na vida social da pessoa, o que acredito também influenciar na hora da escolha do procedimento.
FRRRKguys: Qual o tempo médio do procedimento?
Marcos K: Não existe uma regra por variar com as técnicas escolhidas pelo profissional e a anatomia de cada cliente, mas uma média seria algo em torno de uma hora de procedimento.
FRRRKguys: Quais os principais riscos e cuidados que existem antes, durante e depois do procedimento?
Marcos K: Os principais riscos são relacionados a higiene e biossegurança. A parte prática é segura (se feita com um profissional) e tendo sido respeitados todos os protocolos de biossegurança o procedimento é não oferece riscos. Eu costumo recomendar que a pessoa se alimente e durma bem na semana anterior ao procedimento, durante o procedimento os principais cuidados são com contaminação cruzada e a qualidade da sutura que vão influenciar diretamente na cicatrização, e para o pós a recomendação de que se evite alimentos sólidos ao menos nos primeiros quatro dias. Bastante alimentação gelada, especialmente nos primeiros dois dias, que é quando o inchaço está sendo formado, repouso e muita atenção com a higienização da região.
FRRRKguys: Sabemos que cada corpo funciona de uma forma, mas de modo geral, qual o tempo médio da cicatrização? O que é comum no processo? Quais seriam os sinais de alerta que algo pode estar indo errado?
Marcos K: Uma cicatrização completa demora alguns meses porque isso implica na regeneração total dos tecidos, mas bem antes disso, com uma média de duas a três semanas a língua e suas funções já estão normalizadas e não necessita de nenhuma atenção especial, é quando a maioria das pessoas considera estar cicatrizado, faltando só o tempo para o corpo finalizar seu processo natural de cura e regeneração dos tecidos. Apesar de cada corpo reagir de uma forma de uma forma diferente são comuns algum nível de inchaço, desconforto, e é possível um pouco de sangue junto à saliva no primeiro ou segundo dia, mas pouco, qualquer sangramento constante ou substancial pode ser um sinal de que a sutura não foi muito bem feita, e ainda assim o risco de hemorragia é mínimo, porém sem uma sutura de qualidade a chance de contaminação é maior e da redução no comprimento da incisão no resultado final são muito maiores.
FRRRKguys: Embora a bifurcação da língua, como conhecemos, já tenha passado dos vinte anos, ainda é comum a dúvida em relação ao paladar e fala depois da realização do procedimento. O que você pode nos contar sobre isso?
Marcos K: Com um procedimento bem feito nenhuma dessas questões é um problema, mas existe sim a possibilidade de comprometer essas duas áreas se não for realizado de forma correta. O principal risco para a dicção é uma sutura mal feita, podendo causar tensão no tecido e fazendo com que o músculo cicatrize retraído, e tanto a dicção como o paladar podem ser comprometidos se houver parestesia lingual, cujo um dos sintomas é perda de sensibilidade no músculo e pode ser causada por danos nos nervos que existem na região.
FRRRKguys: No passado era comum a ideia de que algumas pessoas cortassem a língua mais de uma vez para aprofundar a bifurcação. Percebemos que hoje o primeiro procedimento já é bastante profundo e depois da cicatrização a separação fica bem acentuada, não sendo necessário a realização de outros procedimentos. O que você pode nos contar sobre isso?
Marcos K: Esse é um resultado dos avanços nas técnicas, hoje em dia com melhores condições de promover a hemostasia, com melhor acesso à informação e consequentemente a uma sutura de melhor qualidade a chance de retração do procedimento durante a cicatrização reduziu muito.
FRRRKguys: Quanto mais profundo o corte maior se torna o risco?
Marcos K: Existe sim um risco maior indo mais profundo, uma vez que é possível danificar a glândula sublingual ou o nervo causando parestesia lingual e podendo comprometer a sensibilidade da língua.
FRRRKguys: Para quem pretende realizar a bifurcação de língua, quais seriam suas recomendações?
Marcos K: A principal é que procurem um profissional confiável, que conversem com pessoas que fizeram o procedimento com esse profissional para terem referências, respeitem as recomendações que forem dadas quanto aos cuidados e cuidem da sua saúde antes do procedimento para ter uma boa recuperação.
FRRRKguys: Uma dúvida que sempre surge é sobre o procedimento e a língua geográfica. O que você pode nos contar sobre?
Marcos K: Língua geográfica, também chamada de glossite migratória é um distúrbio benigno e portanto não compromete em nada o resultado de uma bifurcação, em alguns casos apenas aumenta um pouco o grau de dificuldade do procedimento. A principal característica são lesões erosivas avermelhadas com bordas irregulares, cinzento-esbranquiçadas, um pouco salientes, que fazem lembrar os contornos de um mapa geográfico e podem migrar de uma área para outra da língua, mas não existe uma comprovação de uma causa ou tratamento voltado para essa condição.