No último domingo, 21, aconteceram as Paradas do Orgulho LGBTQIAPN+ de Belo Horizonte, Minas Gerais e Osasco, Grande São Paulo. Em ambas, foram formados e instaurados os Blocos des Freaks. Foi a primeira vez que algo assim aconteceu e vamos nos debruçar para escrever algumas notas sobre essa articulação para que seja a primeira de muitas outras tantas vezes. Seguimos…
O Bloco des Freaks surgiu enquanto reverberação do Manifesto Freak. Surgiu enquanto resposta para pergunta: temos e lemos o Manifesto Freak e agora o que faremos? Seguimos….
A primeira formação e instauração do Bloco des Freaks aconteceu na Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de São Paulo em 2017. Entre as milhões de pessoas que se reúnem anualmente no evento, estávamos lá, um pequeno punhado de freaks começando algo. Enquanto uma micro organização pirata e nomadista que bagunça a paisagem de arco-íris. Mas nós também não fazemos parte do arco-íris? Sim, fazemos. E do terremoto e do vulcão. Muitos corpos e corpas freaks ocupando o espaço público geram sismos e cismos. As pessoas não entendem muito, algumas ficam curiosas, outras perturbadas… O sismo. O cismo.
Quando além dos nossos corpos e corpas esquisitas e monstruosas passamos a levar símbolos que estamos construindo para e sobre nós, a curiosidade aumentou. O que significa essa bandeira? O que as cores querem dizer? O que são vocês? Por que estão aqui? São as perguntas que vão chegando de pessoas que são trajadas por algum tipo de coragem maior que a curiosidade.
As respostas variam de acordo com o contexto e como a abordagem é feita. De modo geral, explicamos que a bandeira é sobre as pessoas freaks, que as cores são esquisitas, vibrantes, policromias barulhentas, como nós. Estamos ocupando esses espaços enquanto uma articulação de micropolítica para fortalecimento das lutas contra o conservadorismo, o neonazismo e o fascismo tropical que afeta diretamente o tempo e a qualidade de vida de pessoas dissidentes. Estamos ocupando esses espaços para lembrar que queremos dançar ao som da destruição da normatividade compulsória. Estamos ocupando esses espaços para defender o direito de decidir sobre os usos que podemos produzir com as nossas corpas e corpos. Não podemos esquecer que o corpo é político. Seguimos…
O Manifesto Freak publicado em 2016 é um chamamento para o que podemos construir enquanto comunidade. Modificamos os nossos corpos e as nossas formas e precisamos igualmente, na mesma potência e medida, modificar a nossa consciência e pensamento enquanto um efetivo e radical processo de transformação. Modificação corporal sem consciência de classe é armadilha para assimilação e captura pela normatividade compulsória sustentada e alimentada pelo capitalismo. Poderíamos ir além sobre as capturas e assimilações, mas por agora, ficaremos aqui. É temporariamente suficiente.
O Bloco des Freaks que se iniciou em 2017 é um chamamento de ocupação. Iniciamos na Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de São Paulo, mas desde então, marchamos para outros lugares. Seguiremos nos fortalecendo para que possamos nos organizar e endossar outras manifestações e lutas igualmente importantes. Esperamos ver o Bloco de Freaks em manifestações grevistas da classe trabalhadora em seus diferentes seguimentos; na luta contra o desmonte da educação pública nas esferas municipais, estaduais e federal; nos atos contra o feminicídio e contra todas as violências sofridas pelas mulheres, o que implica inclusive em todo aparato institucionalizado de controle de seus corpos; nas manifestações contra o genocídio da população preta; nas manifestações contra o extermínio dos povos indígenas; na marcha da maconha, na luta antimanicomial; nas batalhas em defesa das artes e da ciência; na defesa do meio-ambiente; etc, etc, etc… Esperamos que o Bloco des Freaks se espalhe e se instaure em muitos espaços e tempos.
Agora temos e lemos o Manifesto Freak, o que podemos fazer é nos organizarmos cada vez mais coletivamente e ocuparmos não apenas as nossas corpas e corpos, mas as ruas, com seus clamores, calores, canções e pulsões. O Bloco des Freaks em Belo Horizonte e de Osasco mostraram possibilidades e caminhos. Precisamos caminhar juntes. Seguimos!