Caso envolvendo tatuadora e injúria racial vai parar na justiça

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Foto: reprodução/Instagram

Em 30 de Junho escrevemos AQUI sobre o caso da tatuadora que foi acusada de racismo após ter suposta conversa exposta no Facebook. Terminamos a nossa matéria dizendo que crime de injúria racial com certeza já tinha acontecido, só nos restava saber de quem foi a real autoria e torcer para que a pessoa fosse identificada e autuada dentro da lei.

O caso levanta o peso do racismo no Brasil. A tatuadora que foi acusada nas redes sociais por injúria racial ganhou mais 10 mil seguidores em sua conta no Instagram, logo depois da polêmica se tornar pública. Quanto mais o caso era viralizado, mas seguidores ela ganhava. O que é estranho e digno de atenção, uma vez que tudo segue em investigação dentro dos parâmetros da lei. Mais estranho ainda quando não vemos o mesmo acontecer com a jovem negra vítima do crime de racismo. Independente de quem cometeu o crime, importante destacar o peso do racismo estrutural, que impacta na forma que se realiza a defesa de algumas pessoas pessoas e no acolhimento de outras. Obviamente que temos aqui um impacto racial na simetria entre defesa e acolhimento que se manifesta no número de seguidores que buscou uma e não outra jovem.

O parágrafo acima não é uma crítica e nem um sinal de alguma acusação da nossa parte sobre a ação da tatuadora. É uma crítica ao racismo estrutural que faz com que as pessoas escolham para quem se direciona sua solidariedade e apoio, antes mesmo de que a justiça esclareça a situação de um crime de racismo.

Estivemos em contato com Anna Silva, a jovem de 21 anos que – até o presente momento – foi a vítima da situação toda. Ela usou sua conta no Instagram para falar sobre o assunto e reforçar sua luta contra o racismo. No começo de Julho, Anna também divulgou uma nota de esclarecimento, o seu texto diz:

“Sofri um ataque extremamente racista no dia 30/06 em que apontaram meu cabelo crespo como “horrível”, e descendentes de negros e negras apontados como “filhotes de escravas”.

Eu não apontei em momento algum culpados, apenas mostrei fatos e informações que estão chegando até mim, o tempo todo. Julgar e apontar os responsáveis não é o meu papel.

Estou me orientando com meu advogado para tomar todas as atitudes necessárias, a Polícia Científica já foi acionada e uma perícia será feita para descobrir os responsáveis pelo ataque!

Todas as providências estão sendo tomadas perante a lei, e estou ciente de todos meu direitos e deveres! Logo a verdade aparecerá!

Fiquem tranquilos, Deus não falha! Ele está ao meu lado e apoiando nossa luta!

Peço que compartilhe essas palavras, para que todos entendam a situação, a justiça será feita!

Mais uma vez agradeço o carinho, respeito e apoio de todos, Deus os abençoe!
Uma noite de muita luz pra vocês!”

Quando questionada por nós se em algum momento recebeu alguma mensagem ou pronunciamento em privado da tatuadora, a resposta dela foi que em nenhum momento esse contato aconteceu. A nossa pergunta buscava entender se havia acontecido algum tipo de pedido de desculpa, amparo ou solidariedade.

A tatuadora teve por alguns dias a sua conta no Instagram com todas as informações ocultadas. A jovem também buscou a justiça para resolver o caso e novamente reforçou publicamente a sua inocência. Há cinco dias atrás publicou em sua conta no Instagram o Boletim de Ocorrência em que relatava todo o ocorrido e disse que dali em diante não trataria mais da discussão em redes sociais, mas na justiça. No documento está pontuado que ela foi vítima de calúnia, difamação, ameaça e injúria racial por ser branca e loura.

Consideramos bastante problemático ver pessoas brancas abrindo queixa de injúria racial mesmo diante de um crime real de injúria racial. Problemático porque abre brecha para uma relativização do racismo contra a população negra e indígena. Problemático porque abre brecha para a falácia do racismo reverso. Talvez – somente talvez – como a acusada aponta estar sendo lesada por fakes – e que inclusive, segundo ela, nem foi a primeira vez – caberia um apontamento sobre falsidade ideológica, o que não apareceu na queixa.

O caso seguirá em investigação e seguiremos acompanhando. Para finalizar, consideramos que seja urgente que a comunidade da modificação corporal se debruce em uma discussão madura, sincera e radical sobre os efeitos hediondos do racismo. Como já nos ensinou Angelas Davis, não basta apenas não ser racista, é preciso ser antirracista.

Ah! Fortaleçam o trabalho da Anna Silva enquanto influencer e se acheguem em sua conta para levar algum suporte e amor. Nós estamos por lá com ela.

ACESSEM:
https://www.instagram.com/annasilvas_/

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