Luto: a comunidade freak se despede da Tayda Lebon

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No dia 14 de Outubro de 2021, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos, morreu Tayda Lebon. Freak, trans, pansexual e latina, foi uma artista potente de múltiplas linguagens, atuou no campo da música, maquiagem e da tatuagem. A notícia sobre o seu falecimento foi anunciada pelo periodista Franco Torchia.

Tayda nasceu na Argentina e nos últimos anos foi viver nos Estados Unidos com seu pai, um famoso guitarrista do rock argentino. O portal Ciudad Magazine contou que Tayda foi a inspiração de Charly García para o tema de 1980 Desarma y sangra da banda Serú Girán. A famosa música, que foi interpretada inclusive pela cantora argentina Mercedes Sosa, leva na letra:

“Tu tiempo es un vidrio

tu amor un faquir,

mi cuerpo una aguja

tu mente un tapiz.

Si las sanguijuelas no pueden herirte

no existe una escuela que enseñe a vivir.”

Em uma entrevista para La Nación em 2017, a artista refletia sobre sua transição de gênero e vida:

“Todes temos uma viagem individual, mas tem que ser verdadeire consigo mesme, porque o barbante vai e vem, mas o tempo vai e nunca volta, ele se perde. Não o deixe ir sem estar feliz. Sempre haverá pessoas que odeiam o que você faz. Você se lembra de quem estava com você em todas. Em todas! Quem te protegeu quando você estava sozinhe? Quem é a pessoa que você considera melhor amigue? Quem estará com você até o seu último suspiro? Você! Todes vão passar: família, amigues, casais, você só tem você mesme para sempre, até o fim. A quem você vai pedir permissão? Você precisa? Seja feliz! É o melhor que temos.”

Tayda tinha tornado pública a tensa relação com a mãe, que não aceitava a sua transição de gênero. Tornou pública também a relação de amor e afeto com o pai, que a aceitava e a apoiava. Em entrevista para Rock & Pop em 2017, a artista falou sobre as questões familiares envolvendo a sua transição:

“Tendo a família que eu tenho, imaginei que a minha transição iria ser muito mais fácil, que iria ser uma bom exemplo para outras famílias, porque é muito bom ter histórias positivas, de gente que pode fazer uma transição com o apoio da sua família. Existem muitas pessoas que têm essa sorte. Eu com minha família, pensei que iria ser um bom exemplo. Mas bem, uma surpresa constante de coisas: a metade da minha família não gostou. Não me escreveram e nem disseram nada. Eu me surpreendi muito com muita gente que conheço, que, possivelmente, não sinto que me apoiam.”

Dentro da comunidade da modificação corporal e comunidade freak, Tayda tinha uma relação bastante íntima, não apenas por ser uma tatuadora e modificada. No começo do ano 2000 estava no trânsito entre Buenos Aires e São Paulo, fortalecendo as bases do que vivemos hoje. Era bastante próxima da La Negra e Javier Maidana com a Piel Magazine. Lembro da primeira convenção de tatuagem que a encontrei em São Paulo, era uma figura expansiva e que transpirava criatividade através de seu corpo e subjetividade manifestas em modificações corporais.

Foto: reprodução/Piel Mag

Tayda Lebon se suicidou, segundo o periodista Franco Torchia, ela estava há meses pedindo por ajuda. Infelizmente não houve tempo. Como já dizia a canção, “su tiempo es un vidrio”.

A nossa comunidade perde uma grande potência humana e referência. É mais um corpo jovem, freak e trans que cai. Que Tayda descanse em paz. Deixamos aqui os nossos mais sinceros sentimentos para todas as pessoas que foram atravessadas por sua força, amor e por sua arte e que puderam – em algum momento no tempo – cruzar suas experiências nesse plano. Nosso enorme agradecimento por tantas inspirações ao longo desses anos. Descanse na força!

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