Uma das questões que mais tem mobilizado as nossas atividades é o acesso e permanência de corpas e corpos freaks no mercado de trabalho formal. Ainda é – e sempre será – uma arena de disputa, mas que vamos avançando, nos infiltrando… Entremos no jogo com muito molejo e muita consciência da classe trabalhadora que, aos poucos, também vamos fazendo parte.
Aqui no FRRRKguys temos escrito sobre professoras e professores freaks, profissionais da psicologia, maquinista de trem, cientistas da computação e profissionais da programação, arquitetura, jornalismo e etc, etc, etc… Freaks trabalhadoras e trabalhadores, nós estamos em todos os lugares!
Hoje escreveremos sobre mais um profissional freak, o Gabriel Miranda, que tem ocupado um trabalho em um banco em São Paulo. Bancos, por muito tempo, seguiam regras bem rígidas de controle sobre quais corpos e corpas poderiam acessá-los enquanto uma área de trabalho. Pessoas com tatuagens e piercings visíveis quase sempre eram rejeitadas ou precisavam esconder suas modificações com bandagens. Infelizmente alguns bancos seguem com políticas reacionárias e excludentes, mas hoje esse muro começa a ruir…
Gabriel Miranda é um exemplo desta possibilidade. Formado em Letras pela Universidade Paulista, atuou em algumas outras empresas enquanto redator e revisor de textos. Em 2018 conseguiu a vaga de Analista de Conteúdo no Banco Modal, onde hoje atua como Gerente de Crescimento de Produto.
A sua história no banco tem sido acompanhada pela sua história particular com as modificações corporais. As tatuagens vão se espalhando pelo corpo inteiro, adornando sua cabeça e rosto. Altos calibres – os seus favoritos – atravessam seu septo nasal e lóbulos.
Sobre o seu processo, enquanto uma pessoa freak, e sua experiência no acesso ao mercado de trabalho formal, Gabriel nos disse:
“O mercado de trabalho carrega ainda muito fortemente os estereótipos da sociedade. É mais polido e geralmente bem fechado. O que percebi como uma pessoa com o corpo modificado (principalmente no início da carreira) é que é exigido mais de você por isso. Ou seja, você precisa saber mais do que os outros, ser “acima da média” para compensar, sabe? É chato dizer isso, mas acontece, não podemos ser cegos. É preciso ter paciência também, pois as perguntas mais clichês possíveis são bem frequentes: onde dóis mais? você deve gostar de dor né? não vai se arrepender?… por aí vai.
Eu acredito que estar aqui é um gesto político. É importante estarmos em todos os lugares, marcar essa presença para quebrar esses estereótipos.
Particularmente, eu posso dizer que também tive muita sorte. Encontrei pessoas incríveis na carreira, que abriram os braços e portas para mim. Hoje. como líder de um time, diversidade e inclusão é um dos principais pilares na hora de escolher um profissional, quase tão importante quanto a qualificação.“
Além do seu trabalho principal no banco, Gabriel Miranda tem atuado enquanto modelo com destaque em sua atuação junto ao estilista brasileiro João Pimenta e a marca de acessórios Superlover.
Alguns muros estão ruindo. Aos poucos vamos acessando lugares que historicamente nos foram negados. Estejamos todes com muita atenção para que nenhum retrocesso aconteça. Alguns muros estão ruindo… E nós estamos – e ficaremos – de pé.