Sim! Temos o primeiro registro de freefall suspension no Brasil

O The SINNER team, time russo de suspensão corporal, trouxe ao mundo em 2010 a possibilidade da queda livre com ganchos (freefall suspension). Desde 2011 temos escrito AQUI sobre eles e as evoluções de seus trabalhos, que inspiram profissionais e entusiastas da suspensão ao redor do mundo.

Em 2017 enquanto filmávamos a segunda temporada de Sauntering em São Paulo, entrevistamos o Matheus Carrera, conhecido como Pombo Morcego. Na ocasião, ele já trazia o desejo de fazer uma suspensão corporal com impacto, projetando mais adiante a queda livre com ganchos.

O tempo passou e o sonho não morreu. Eis que em 2025 chegou o momento de realizar a suspensão em queda livre no Brasil. Pombo Morcego estabeleceu conexão com o Lucius Don da equipe suiça Sungift Suspension, que estão em atividade desde 2002. Sobre a experiência que aconteceu no começo de Novembro, Pombo nos disse:

“Fui corajoso, né? Tudo assim, daí tem essa coisa, né? Pum, pulei, bom, já fechei o olho imediatamente, porque dá um medo do caralho. Você pula, fechei o olho, me encolhi assim com o corpo, mas quando eu senti os ganchos tensionando eu abri o olho, porque eu falei, tá bom, o sistema me pegou, já não estou mais caindo. (risos) Já não tô mais caindo. E daí você entra num swing cabulosão, assim um balanção que te leva de volta até o ponto zero. Extensiona os ganchos. Você volta, tipo, de novo para o gancho tensionado. É muito gostosa essa sensação. E tipo o tranco ali, né? Do gancho começando a tensionar. O gancho tensionando, ele é diferente dos trancos que a gente está acostumado a fazer nos suicides chutados, spinning beam e essas coisas tudo. Que é tudo uns trancos secos, uns socos dos ganchos, né? Porque o sistema ele amortece. As cordas dinâmicas, muita corda, então, tem um amortecimento muito grande mesmo, sabe? E, porra, esse amortecimento ele se sente total assim no gancho, é muito macio o tranco, é um tranco macio, ele é forte né? É uma força absurda que tipo que a gente pula, né? Vai caindo pra um lado e daí o sistema quando aciona ela, ele puxa a gente com tudo pro outro dessa força agir que é o mais intenso de tudo da experiência assim, mas ao mesmo tempo nas costas, nos gancho, é macio esse esse impact. (…) E aí você desce e é muito doido mesmo, assim ó, falei mano, foi uma paulada louca e foi um negócio que tipo aconteceu de uma forma muito orgânica tudo, sabe? Porque quando nós fomos apresentar “A história do olho” na Alemanha, no começo do ano passado, eu fiquei um pouco mais, eu rodei pela Europa lá e fui lá pra casa do Lucius lá, né? Já tipo, intimar ele no freefall. Só que era inverno, né? Fevereiro. Inverno do caralho na Europa, sem condição de montar um esses rigging de hope jumping, super trabalhoso pra fazer um salto na neve, sabe? Ou no inverno, no friaco da porra, não tinha condição. Então, nós fez os rolê de suspensão lá na casa deles, surgiu uma galera normal assim tudo e tipo ele me explicou tudo. Ficou tudo e ele falou eu estou com a viagem marcada pra América Latina, né? Para tudo, vou começar pelo México ali e vou descendo pela América Central até a América do Sul, daí eu termino a viagem no Brasil e nós fazemos o freefall. E daí ele começou essa viagem em outubro do ano passado no México ali e daí chegou. Toda vez que eu falava com ele falava ó, aqui tantos meses mais ou menos acho que eu estou chegando aí. É sempre umas estimativas. A gente não tinha, nunca teve uma data certa assim, né? Até que tipo um, aí sei lá, acho que mais ou menos um mês ele falou “oh, bum”! Tal dia eu estou chegando aí, enfim, em São Paulo. Pá, não sei o quê, vamos dar-lhe. Daí a gente teve, tipo, uma semana. De entre tipo a confirmação de que ia rolar mesmo o bagulho e o dia que ia rolar. Então a gente conseguiu uma semana ter a certeza uma semana antes assim, sabe? Pum! Daí nessa uma semana já mobilizei todo mundo ali que pulou junto com nós, enfim. Pá! pá! pá! pum! organizando fomos atrás do que faltava. E fizemos acontecer. Nossa foi muito louco assim foi um sonho realizado, né? Você lembra depois daquele daquela suspensão que eu fiz no vídeo lá que você gravou comigo, lá tudo eu falava dessa porra. Está feito, T., conseguimos, conseguimos, assim, demorou mas mas nós conseguimos e foi, nossa, foi especial!”

O primeiro salto dos oito que aconteceram, foi realizado por T. Dark. Com dois ganchos nas costas e uma altura de 108 metros, assistimos algo que acrescenta e modifica a história da suspensão corporal brasileira. Em relato exclusivo para o FRRRKguys, ele nos contou sobre sua experiência dividas em duas partes:

Depois de anos aguardando e vivendo até esse momento, finalmente ele chegou. Com suporte da equipe Rope Trips e do Lucius Sungift conseguimos realizar o primeiro freefall com ganchos da América Latina, sendo realizados 8 saltos, um deles sendo com 4 ganchos astronaut na Pankhada Tattoo. A Unificarte abriu o salto junto do mascote Tamy, tamanduá da suspensão com 2 ganchos nas costas, ganchos esses que foram as primeiras peças produzidas pelo irmão Orleans, que faleceu a um tempo atrás. Os voos aconteceram com consciência e potência. Todos ali foram por livre e espontânea vontade e só tinha nós de gancho. O paredão tinha mais de 100 metros de altura com uma queda livre de 80 metros podendo chegar a 140km por hora. Os saltos foram filmados pela equipe de Rope Jump e as imagens oficiais vão sair logo, logo. Esse momento marca uma nova etapa do momento de suspensão corporal no Brasil. Assim como na pandemia, começamos uma missão nômade pelo sul do país se expandindo para o mundo todo, acessando palcos de teatros, convenções de tatuagens, eventos de trance, entre outros eventos noturnos, acessando praças e locais públicos por toda parte do mundo, marcamos uma era onde o underground segue vivo e honrando os mestres que moldam nosso caminho. A Unificarte em comunhão com diversos mestres do mundo mais uma vez da passos conectados a história e agradece por tudo. Esses saltos trazem uma nova percepção sobre como não existem barreiras quando se diz sobre suspensão corporal. Ela une pessoas do mundo todo e aterra também. Próximos saltos virão. Com planos de penhascos ainda maiores e com isso vem muita responsabilidade e estudos pelo caminho. A Unificarte irá se retirar como já iria fazer e retornará com mais força e uma nova forma no próximo ano em alguma parte do mundo.”

Salto livre de T. Dark. Foto: Reprodução / Instagram

“Um mano que aos 13 anos descobriu a Body Mod Extreme e vive isso desde então. Que cresceu vivenciando experiências de Body Art e hoje em dia tem 26 anos. Molda corpos há 12 anos e se suspende há 8. Já me suspendi de diversas formas e na minha performance “Chuva Ácida”, tomo trancos bem maiores que o que senti nesse salto, então, sobre o puxão, a dor e a sensação, tudo foi incrível e eu estou louco pra sentir novamente. Por outro lado minha programação mental me faz querer me manter seguro em locais altos, então, enfrentei uma quebra de paradigmas no meu primeiro salto. Foi meu primeiro salto de qualquer modalidade de esportes em altura, eu fiz porque os ganchos me trouxeram essa vontade, há muitos anos bebo vídeos e aguardo a oportunidade de fazer com segurança algo assim. Eu e o Pombo não queríamos fazer de qualquer forma e sim trazer alguém que já fazia isso e que gostaríamos de ter a presença conosco. Tudo se alinhou como tinha de ser. Recebemos a notícia de que rolaria e que a equipe de rolê jump apoiou a ideia e depois disso foi eu lidando com minha mente e meus rituais internos pra poder soltar tudo pra saltar. Enquanto não passei os ganchos eu estava totalmente pego e com mil coisas na mente. Quando tomei as ganchadas, ali de pé, já com os equipamentos de segurança, a vibe aterrou, eu comecei tremer e com isso veio tudo que faço antes de um voo forte, soco no ar tremedeira a ponto de quase explodir e um tabaquinho. Montei uma fita de ancoragem pro tamy e travei ele na minha cintura com o ganchinho dele passado também. Na hora do salto eu não conseguia pensar em nada, só que aquele capacete tava feião e que era alto pra caralho. (risos) Quando a contagem chegou a 1 e eu deveria pular, minha mente não deu nenhum comando, eu travei e ouvi alguns risos, a contagem reiniciou e eu fui entendendo que ali era o único local que eu deveria estar naquele momento e que aquele salto seria o fechamento de ciclo e abertura de um novo. Antes de chegar no 1 novamente eu despenquei lá de cima e por alguns segundo me senti leve a ponto de poder mudar os movimentos do meu corpo, minha primeira reação foi segurar na corda como na performance e em seguida soltar pra não dar merda, foi tudo muito rápido e logo senti a sensação dos ganchos, quando olhei em volta fui lançado novamente pra cima e por mais alguns segundos senti que estivesse flutuando no espaço, foi só gritaria e a sensação de que todos iriam conseguir fazer isso. Pude ficar alguns minutos refletindo e sentindo os ganchos até a descida e quando desci quis correr pra gritar pra galera pular que seria muito bom. Deu vontade de fazer novamente e a cada momento que passa parece que muda algo aqui dentro. Minha ideia real sempre foi saltar de paraquedas com ganchos, então, foi o primeiro passo para quem sabe em um futuro poder realizar isso com segurança também, o mais legal é sentir o movimento de tudo e saber que enquanto eu acreditar que dá pra viver da terra vamos seguir na busca vivendo. Nada aconteceria se fosse só uma pessoa. A cena necessita de mais comunhão e de menos barulho por ego ou status. Enquanto uns gritam, outros estão estudando muito pra fazer com que os próximo passos sejam de honra e com segurança. E, por fim, eu só posso agradecer a FRRRKguys por me apresentar muito do que encontrei na net no passado e a T. Angel por acreditar desde sempre. Marcamos uma história que espero que seja respeitada, assim como as outras que eu respeito no Brasil. E pra quem achou demais, é sim demais. É sim arriscado e não não vamos parar. Luz pra nós.”

Assista o registro oficial da experiência CLICANDO AQUI.