Exposição “Araetá: A Literatura Dos Povos Originários” chega em agosto ao Sesc Ipiranga

Release e texto original – reproduzido na íntegra – do Sesc São Paulo.
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Com curadoria de Ademario Ribeiro PayayáKaká Werá Jecupé e Selma Caetano, a exposição ocupa diferentes espaços da unidade e dá visibilidade a cosmovisões de 50 povos, prestando tributo a Davi Kopenawa e destacando os escritores Ailton KrenakDaniel Munduruku e Eliane Potiguara.

Com abertura à visitação em 31 de agosto de 2023, a exposição Araetá – A Literatura dos Povos Originários apresenta ao público um expressivo recorte da produção literária de autoria indígena por meio de publicações de escritores e escritoras que representam mais de 50 povos originários. Com visitação até 17 de março de 2024, a mostra também reúne ilustrações, fotografias, artesanias e objetos artísticos, e cataloga mais de 334 títulos publicados por 105 diferentes editoras do país.

Richard Werá Mirim | Reprodução Sesc São Paulo

Realizada em parceria do Sesc com o Ministério da Cultura e o Instituto Cultural Vale, a exposição foi idealizada por Selma Caetano, curadora e produtora executiva do Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa –, que divide o projeto curatorial da mostra com o pedagogo, teatrólogo e poeta Ademario Ribeiro Payayá e com o ambientalista e escritor Kaká Werá Jecupé.

“O acervo apresentado na exposição é composto por cantos, contos, mitos, narrativas, poesias, ensaios, romances e títulos relacionados à criação do mundo, à ancestralidade, à vivência dessa ancestralidade no presente, ao bem viver e ao papel dos anciãos nas comunidades indígenas. Há, também, a presença de livros com uma forte carga política vinculados ao ativismo e à militância com os quais os indígenas têm superado e resistido, há séculos, à invisibilidade”, explica Selma.

Fenômeno que experimenta um crescente interesse do público leitor, a edição de livros com autoria indígena tem como uma das pioneiras a escritora Eliane Potiguara, que deu início a sua produção nos anos 1970, quando imprimia textos mimeografados em um formato designado por ela como “poema-poster”.

Pedagoga, Eliane é um dos destaques da mostra, que também exalta as importantes colaborações de lideranças como Ailton Krenak, autor de uma série de livros que registram reflexões filosóficas e um ativismo ambiental que se contrapõe ao modo de vida ocidental, e Daniel Munduruku, escritor com mais de 60 livros publicados, que colabora como consultor literário da exposição.

Araetá – A Literatura dos Povos Originários também presta tributo ao escritor e xamã Davi Kopenawa, dedicando ao líder Yanomami o espaço intitulado Casa dos Saberes, voltado à experiência sensorial e estética da arte que inspira a literatura produzida por diversos povos indígenas no Brasil.

Casa dos Saberes – Foto: Mayara Maluceli | Reprodução Sesc São Paulo

A Casa dos Saberes é também um lugar onde o elo entre a tradição oral e a arte literária fica evidente por meio dos saberes ancestrais transmitidos por xamãs e pajés. O espaço reúne objetos e peças que dimensionam a inventiva artesania dos povos originários, como as cestarias dos Mehinaku e Kalapalo, do Xingu, e as cestarias e esteiras dos Baniwa, dos Baré e Ticuna, oriundos da Amazônia.  

“Nesse momento em que a humanidade enfrenta o desafio de transformar o modo como se relaciona com a natureza, as visões de mundo e modo de ser dos povos originários – transmitidos há séculos por meio da literatura oral e agora acessíveis em centenas de livros de autoria indígena disponíveis na Casa dos Saberes – oferecem ao público uma possibilidade de reflexão sobre o futuro da humanidade”, defende Kaká Werá Jacupé, ambientalista, escritor e curador do espaço. 

O projeto expográfico da mostra também se desdobra por espaços temáticos, apresentados pelo escritor, professor e artista plástico Ariabo Kezo, do povo Balatiponé: Amazonas, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pantanal.

Casa dos Saberes – Foto: Mayara Maluceli | Reprodução Sesc São Paulo

A exposição ainda oferece ao público a Biblioteca Araetá, um trabalho em progresso de pesquisa e catalogação, que disponibiliza para leitura o acervo contemplado nos espaços expositivos.

Biblioteca Araetá – Foto: Mayara Maluceli | Reprodução Sesc São Paulo

Araetá também destaca a expressividade de artistas indígenas que produzem ilustrações para livros, como Uziel Guainê, professor e escultor Maraguá que apresenta dois painéis especialmente criados para a Casa dos Saberes.

Com curadoria de Cristina Flória e Richard Werá Mirim, uma seleção de fotografias indígenas reúne trabalhos de 14 fotógrafos, de 12 diferentes povos, dedicados a retratar suas culturas e evidenciar as nuances e singularidades de cada grupo, exercitando, assim, a autodeterminação e o empoderamento dessas comunidades, como destaca a curadora Selma Caetano.

“Richard, que também tem fotos na exposição, é a expressão de uma geração de jovens fotógrafos ativistas afinados com a proposta de documentar momentos importantes das agendas de mobilização e de resistência em defesa do meio ambiente e dos territórios indígenas”, defende.

A mostra reúne 38 imagens dos seguintes fotógrafos e fotógrafas: Amanda Pankará, André Guajajara, Cristian Arapiun, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Isabella Kariri, Kaiti Topramre, Kamikia Kisedje, Kronün Kaingang, Mre Gavião, Priscila Tapajowara, Palamido, Richard Werá Mirim, Scott Hill e Vherá Xunú.

Edgar Kanaykõ Xakriabá | Reprodução Sesc São Paulo

Araetá – A Literatura dos Povos Originários é uma experiência singular de interação com as escritas, oralidades, cosmovisões, pertencimentos étnicos, ancestralidades, geografias e temáticas de exuberante diversidade manifestadas por escritoras e escritores que propiciam um rico diálogo intercultural, como reitera o curador Ademario Ribeiro Payayá, que explica a gênese do nome da exposição. 

“Arae e etá são termos da língua Tupi. Ara é o dia, o que está no alto, o fruto, o mundo. Etá é o plural dessa língua. Araetá, assim, nos remete aos frutos, aos dias, aos mundos da literatura dos povos originários que, nessa exposição, são percorríveis através das histórias criadas por 114 autores. Como numa espécie de Caminho de Peabiru – antiga rota que conectava diferentes povos indígenas do continente Sul-Americano –, Araetá traça um percurso que abrange a diversidade étnica, geográfica e temática de escritoras e escritores indígenas. Nas bordas desse percurso há o convite para um diálogo intercultural”, conclui.

Para todas as idades e inclusiva, a exposição oferece recursos de acessibilidade, como audiodescrição, legendas para pessoas surdas e ensurdecidas – LSE, torres com audioguias, vídeo libras com legendas e folders em tinta ampliada e bancadas inclinadas para toque de obras táteis em 2D. A mostra também contempla um programa educativo que objetiva o atendimento de escolas das redes públicas e privadas, tanto de bairros próximos aos Sesc Ipiranga quanto de outras localidades.

Confira a lista completa de autores e demais colaboradores da exposição:

Adão Karai Tataendy Antunes, Ademario Ribeiro, Agostinho Ïka Muru, Ailton Krenak, Aldevan Baniwa, Aline Rochedo Pachamama, Álvaro de Azevedo Gonzaga, Álvaro Tukano, André Fernando Baniwa, Ane Kethleen Pataxó, Anghtichay Pataxó, Arariby Pataxó, Ariabo Kezo, Aurélio Souza da Silva, Auritha Tabajara, Ava Nomoandyja, Atanásio Teixeira, Beraldina José Pedro, Caetano Raposo, Carlos Eduardo Cadu Araújo, Carlos Papá Mir? Poty, Casé Angatu Xukuru Tupinambá, Catarina Kunhã Nimbopyruá, Chirley Pankará, Claudino Djagwá Ka’agwy Kara’i Tukumbó Lima, Clemente Flores, Cristino Wapichana, Daniel Munduruku, Davi Kopenawa, Débora Arruda, Denízia Kawany Fulkaxó, Edson Kayapó, Edson Krenak, Eliane Potiguara, Elias Yaguakãg, Ellen Lima, Ely Macuxi, Emerson Guarani, Eric Timóteo Iwayr Kâ Kamikawa, Eva Potiguara, Ezequiel Vitor Tuxá, Feliciano Pimentel Lana, Fernanda Vieira, Francisco Luiz Fontes Baniwa Matsaape, Francy Fontes Baniwa Hipamaalhe, Gleycielli Nonato, Glicéria Jesus da Silva Graça Graúna, Gustavo Caboco, Hipru Xavante, Ismael Tariano, Jaider Esbell, Jaime Diakara, Jamille Anahata, Japira Pataxó, Jassanã Pataxó, João Paulo Lima Barreto, José Verá Juão Nyn, Jucicleide Pereira Mendonça dos Santos, Julie Trudruá Dorrico, Juvenal Teodoro Payayá, Kaká Werá Jecupé Kamuu Dan Wapichana, Kanátyo Pataxó, Layo Amõkanewy Lia Minápoty, Lucia Morais Tucuju, Lucio Terena, Luiz Karai, Marcelo Manhuari Munduruku, Márcia Mura, Márcia Wayna Kambeba, Marcos Terena, Maria Cândida Juruna, Maria Kerexu, Marina R. Miranda, Meyriane Costa de Oliveira, Moara Tupinambá Tapajowara, Nankupé Tupinambá Fulkaxó Niara Terena, Olívio Jekupé, Põrõ Israel Fontes Dutra, Renê Kithãulu, Roni Wasiry Guará, Rosi Waikhon, Rupawê Pataxó, Sereburã Xavante, Sereñimirâmi Xavante, Serezadbi Xavante Severiá Maria Idiorê Xavante, Shirley Djukurnã Krenak, Sony Ferseck, Sulami Katy, Telma Pacheco Tãmba Tremembé, Terêncio Luiz Silva, Tiago Hakiy, Tiago Nhandewa, Timoteo Verá Tupã Popygua, Tkainã, Toninho Maxakali, Tõrãmu Kehíri Umusi Pãrõkumu, Uziel Guainê, Vãngri Kaingáng, Verá Kanguá, Werá Jeguaká Mirim, Werimehe Pataxó, Yaguarê Yamã, Ytanajé Coelho Cardoso, Yuhkuro Avelino Dutra.

Confira aqui o catalogo da exposição.

SERVIÇO
Araetá – A Literatura dos Povos Originários
Abertura: 30/8, às 19h, com apresentação do Toré, dança ritualística do povo indígena Pankararu

Visitação: De 31 de agosto de 2023 a 17 de março de 2024, terças a sextas, das 9h às 21h30; sábados, das 10h às 21h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30