Bagel head: manipulação temporária do corpo

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1016357_171325229714425_1800118705_n(Foto: Leandro Albuquerque, 2013)

Bagel head – popularmente chamada de cabeça de rosquinha no Brasil – é um tipo de modificação corporal temporária, vista pela primeira vez em 1999 na Modcon do Canadá com o trabalho do fotógrafo Jerome Abramovitch. Inclusive, é ele que está na capa do famoso e importante livro homônimo Modcon, elaborado por Shannon Larratt. A técnica consiste em injetar através de uma agulha, solução de salina médica na testa por um período de 2 horas, seguida da manipulação do inchaço da área.

saline2(Foto: reprodução BMEzine)

Falamos que se trata de uma modificação corporal temporária, porque ela tem uma duração que varia entre 6 e 24 horas. Keroppy Maeda, responsável em levar a técnica para o Japão, conta que o próprio corpo absorve isso.

Uma história curta sobre o procedimento, segundo Shannon Larratt,  diz que o Jerome utilizou a técnica para criação de conceito para performance art e para o seu trabalho com fotografia, isto, após ver a cena do fetiche em que o uso de injeção de salina já acontecia. Diga-se de passagem, na comunidade fetichista a técnica é empregada em diversas partes do corpo, por exemplo, é comum a inflação de peito (para todas as identidades de gênero), pênis, escrotal, clitóris, ânus, lábios e o BMEzine tem uma vasta galeria – fotografias, entrevistas, textos e etc – sobre esse assunto. O que Jerome Abramovitch fez foi apenas extrapolar o uso da técnica e levá-la para novas direções.

Em 2012, depois de aparecer em uma exagerada matéria do Taboo na National Geograpic, a prática foi chamada como a última tendência do Japão por mídias genéricas e principalmente de cunho sensacionalista. Falamos em sensacionalismo, pois enquanto as grandes mídias ocidentais – por exemplo, Huffington Post, CNN, Mashable, The Sun, e Daily Mail – falavam sobre “a nova moda” ou “a nova tendência” do Japão, pessoas ligadas com a subcultura do país diziam que a maioria das pessoas japonesas não sabiam que isso existia e, mesmo dentro da própria comunidade da modificação corporal. Na ocasião, Shannon também escreveu uma crítica sobre o assunto no ModBlog, dizendo que eles – a imprensa – não veem isso frequentemente, mas quando o fazem “eles, ignorante e divertidamente, insistem em chamar de a última tendência“.

O problema maior das pessoas profissionais do jornalismo tratarem determinados assuntos dessa maneira leviana, é que isso pode acarretar em perseguição para a população que vivencia tais práticas. Temos que ter em mente que foi de modo bastante parecido que um deputado brasileiro escreveu um projeto de lei para criminalizar o eyeball tattooing no país. Parecido no sentido de que ele se debruçou em matérias jornalísticas sensacionalistas, inverídicas, e em um falso discurso de “a última tendência brasileira é pintar os olhos”, quando na verdade no momento em que o projeto de lei foi escrito não havia nem 50 pessoas que tinham passado pelo procedimento. A imprensa não está preocupada com a verdade e nem com as pessoas e, precisamos ter isso muito claro em nossas cabeças. Enquanto a distorção feita pela injeção de salina é apenas estética e temporária, a distorção feita pela imprensa deteriora o cognitivo da população e isso sim é feito em massa e deveria gerar uma preocupação.

Continuando com  a parte histórica, segundo registros, o procedimento bagel head chegou no Japão em 2007, levado pelo fotógrafo Keroppy Maeda. Ele realizou aproximadamente 10 vezes por ano em ocasiões especiais, tais quais festas underground fetichistas. No Brasil, os registros são poucos, especificamente o bageal head vimos acontecer através do trabalho de Leandro Albuquerque, body piercer de Campinas, São Paulo. Em 13 de julho de 2013 ele fez alguns procedimentos, motivado pelo desejo de realizar um trabalho novo. O profissional nos contou que conheceu a técnica através do trabalho de Maeda e do programa Taboo.

1069794_171325223047759_1922314001_n(Foto: Leandro Albuquerque, 2013)

Os riscos em torno do procedimento, segundo o dermatologista Omar Ibrahimi que é especializado no uso de injeção de salina em procedimentos estéticos, estão em usar salina muito concentrada e causar uma desidratação extrema. Outro risco é o uso de salina não estéril e ocasionar uma infecção bacteriana ou fúngica. O piercer Leandro Albuquerque reforça a importância com o cuidado de higienização e uso de material descartável para evitar qualquer risco de contaminação.

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Para concluir, o que é preciso deixar claro é que a técnica não é nova e tão pouco uma tendência, nem aqui e nem em qualquer outra parte do mundo.

REFERÊNCIAS:
http://www.thestar.com/news/world/2012/10/16/bagel_head_body_modification_has_roots_in_canada.html

http://blog.japantimes.co.jp/japan-pulse/bagel-head-trend-is-a-big-distortion/

http://news.bme.com/2012/09/24/the-so-called-latest-trend-bagelheads/

http://www.huffingtonpost.com/2012/09/26/bagel-head-forehead-injections-japan-saline_n_1916188.html

http://ac360.blogs.cnn.com/2012/09/27/ridiculist-bagel-heads/

http://mashable.com/2012/09/27/bagel-heads/

http://www.thesun.co.uk/sol/homepage/news/4558191/Bagel-head-surgery-trend-on-rise-in-Japan.html

http://www.dailymail.co.uk/femail/article-2208051/Bagel-head-trend-Are-saline-injections-Japans-extreme-beauty-look-yet.html?ITO=1490

http://www.businessinsider.com/is-the-bagel-head-trend-dangerous-2012-9

 

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