Carlos Martiel: o corpo do silêncio (barulhento)

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Carlos Martiel (nascido em 1989, Havana) é um artista contemporâneo que vive e trabalha em Nova Iorque, Estados Unidos da América, e Havana, Cuba. Se formou em 2009 na Escuela Nacional de Bellas Artes “San Alejandro” em Havana. Entre 2008 e 2010, estudou na Cátedra Arte de Conducta, dirigida pela lendária artista Tania Bruguera.

Descendente de imigrantes haitianos e jamaicanos que emigraram para Holguin, província de Cuba, em meados da década de 1920, segundo o C& América Latina, “Carlos Martiel se interessou desde jovem por questões ou problemas relacionados a seu corpo, pelas liberdades em Cuba, pelos limites do permitido, pela experiência migratória e pela racialidade, entre outros temas que aborda a partir da performance como meio de empoderamento“. Temas como colonialidade, dissidências de sexualidade e HIV/Aidsfobia atravessam sua vida e obra.

O trabalho de Martiel já foi incluído em diversos festivais de performance ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Em um grande resumo, o seu trabalho – que é político – envolve ações duracionais e explorações sobre os limites físicos. Alinhado com a arte corporal e uma linhagem da arte da performance da radicalidade do corpo que encontra eco com os Acionistas Vienenses.

Em entrevista ao Gayletter, o artista cubano afirma que o trabalho mais doloroso foi Condecoración Martiel, Carlos. Sobre a obra em questão, Kelly Martínez escreveu para Performatus:

“Sua peça mais recente (…) mostra uma medalha muito parecida com aquela que o governo cubano outorga aos cidadãos proeminentes. Dentro dessa medalha, há um pedaço da pele do artista, que foi extraída cirurgicamente e posteriormente dissecada por um conservador. O galardão foi acompanhado por um vídeo da cirurgia e por fotos dos detalhes técnicos da obra, as quais foram tatuadas ao redor da cicatriz pós-operatória. Ao fazer uso de uma ironia muito refinada e através de elementos precisos e simples, Martiel faz referência direta a algumas autoridades (cubanas) que, apesar de estarem constantemente proliferando discursos sobre a desagregação, fizeram realmente muito pouco para melhorar a vida da população negra da ilha, a qual continua vivendo em péssimas condições socioeconômicas, ainda que possuam os mesmos deveres e direitos de cidadãos que os demais”

As imagens do seu trabalho circulam pelas redes sociais, para além do espaços das artes, promovendo uma reflexão política sobre si e sobre o corpo.

Trophy, 2016. Foto: Annamaria La Mastra
Continent, 2017. Foto: Walter Wlodarczyk
Stampede. Foto: Michael Duke
South Body, 2019; Foto:  Jordan Spencer
Fundamento, 2020. Foto: Jorge Sánchez
Monumento I, 2021. Foto: Walter Wlodarczyk

O trabalho propõe um monumento temporário para corpos que historicamente foram e continuam sendo discriminados, oprimidos e excluídos por um discurso hegemônico eurocêntrico e patriarcal. Carlos Martiel fica de pé nu em um pedestal no centro do espaço, seu corpo está coberto por sangue de migrantes, latines, afro-americanes, pessoas doas povos originários da América, mulçumanes, pessoas judias, queer e trans. Corpos que são considerados “minorias” e grupos marginalizados nos Estados Unidos por um discurso supremacista eurocêntrico.

TIerra de nadie, 2022. Foto: Eliot Leblanc

Tierra de nadie reflete o impacto sofrido pelas populações africanas em suas diásporas. Pessoas que foram forçadas à escravidão e submissão através de uma violência sistêmica, e cujas terras foram ocupadas e invadidas por potências mundiais. Em alguns casos, esses países continuam extraindo lucro econômico da miséria, divisão de terras e políticas predatórias criadas no período colonial. O artista ocupa a galeria com oito bandeiras do tamanho de uma mão perfurando sua pele na metade superior do torso. As bandeiras utilizadas são as dos países europeus que invadiram, colonizaram e impuseram uma divisão territorial da África entre a década de 1880 e até o início da Primeira Guerra Mundial: Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália, França, Portugal e Espanha.

REFERÊNCIAS

Site oficial do artista
http://www.carlosmartiel.net/

Carlos Martiel
https://amlatina.contemporaryand.com/pt/people/carlos-martiel/

Carlos Martiel: um sussurro sobre o chão da pólis
https://performatus.com.br/traducoes/carlos-martiel/

Carlos Martiel em entrevista para Tyler Akers
https://gayletter.com/carlos-martiel/

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