Ceará: Profissionais da tatuagem escrevem repudio contra tatuador que fez discurso fomentando a cultura do estupro

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O país se chocou com a informação de que uma jovem de 16 anos foi estuprada por 33 homens no Rio de Janeiro. Obviamente que há uma parcela rançosa da população que – munidos de uma insensatez e frieza – tentam encontrar formas de culpabilizar a vítima. Quando não – pessoas embasadas em um discurso religioso – sugerem que o estupro deveria ser feito em lésbicas. O que nos mostra que o ser humano sempre pode descer um nível a mais.

O primeiro ponto que queremos tratar, reforçar, sublinhar, destacar é que nenhuma pessoa merece ser estuprada. Não vamos nos desculpar pela repetição ou redundância porque nos parece absurdo que essa informação ainda não tenha ficado clara na cabeça de todas as pessoas. Ainda, queremos enfatizar que a cultura de estupro precisa ser combatida com muito afinco em todos os espaços e todo o tempo por todas as pessoas.

A cultura do estupro permite que as sugestões de que mulheres devam ser violadas, abusadas, violentadas e estupradas circulem livremente aos quatro ventos. Além das sugestões, existem os estupros em si. Tenha em mente que a cada três horas, uma mulher é estuprada no Brasil. Somando um total de oito vítimas de violência sexual por dia. Esses dados representam apenas os casos que são denunciados pelo telefone 180 do Governo Federal. Muitas mulheres acabam não denunciando por vergonha ou medo do agressor. Sem contar as que são assassinadas. O que significa que o número de oito vítimas por dia está muito distante da realidade, esse número infelizmente e assustadoramente é muito maior. E só é maior porque existe uma cultura do estupro que permite isso.

A CADA TRÊS HORAS UMA MULHER É ESTUPRADA NO BRASIL!
A CADA TRÊS HORAS UMA MULHER É ESTUPRADA NO BRASIL!
A CADA TRÊS HORAS UMA MULHER É ESTUPRADA NO BRASIL!

Somando ao número de pessoas que justificam ou endossam a cultura do estupro temos o tatuador Diógenes Pedrosa do Ceará. Um homem branco, de olhos claros, forte e que faz muitas postagens sobre política no Facebook com uma clara inclinação para a extrema direita e o fascismo. Acredita que o Deputado Bolsonaro será o presidente que devolverá o Brasil para os brasileiros, seja lá o que isso queira dizer. Chama a presidenta Dilma de “vagabunda, burra e criminosa” (sic) e sugere que ela sofra violência física. É um negacionista da Ditadura civil e militar brasileira, não acredita que passamos por um golpe político, enaltece repetidamente o General Ustra e diz que “história não escolhe lado, ela apenas esclarece” (sic). Bem, convenhamos que esclarecimento é algo está em falta na vida desse cidadão. O que não teria problema se não conferisse sério risco e violência em potencial para segurança de pessoas.

No dia 07 de maio de 2016, o tatuador escreveu um texto em que diz ter pesquisado muito e que concluiu que as feministas merecem rola. Convida as pessoas para “dar uma chance para essa mulherada” (sic) e diz “rola nelas!”. Isso é a cultura de estupro.

Não nos estranha que esse sujeito seja um ferrenho defensor e eleitor de Bolsonaro, uma vez que esse político já fez declarações públicas do tipo “não estupro porque você não merece” para a deputada Maria do Rosário. E ele o fez porque a cultura do estupro permite que assim se faça. E pior, permite que ela encontre coro em outras vozes de homens. Como o Pedroso, quantos?  Não saberíamos contar tamanha a quantidade.

Devolver o Brasil aos brasileiros é uma ideia no mínimo temerosa, ela pode significar devolver – se é que algum dia deixou de ser – para os brasileiros homens – os tais cidadãos do bem – que acreditam que há mulheres que mereçam ser estupradas ou que há mulheres que pedem para ser estupradas. Nenhuma mulher merece ser estuprada em nenhuma parte do globo. Nenhuma mulher pede para ser estuprada. Apenas parem com esse discurso hediondo que alimenta diretamente a cultura do estupro e faz dela ser o que é.

O caso do tatuador se tornou público após as pessoas profissionais de tatuagem do Ceará organizarem e publicarem uma carta aberta e um repudio contra essa atitude, que já conta com assinaturas vindas do Rio de Janeiro, São Paulo e muito fortemente do próprio Ceará.

A carta diz que:

“NOTA DE REPÚDIO.
Nós tatuadores em consenso e abaixo assinados, viemos através desta nota repudiar as afirmações proferidas pelo “tatuador” Diógenes Pedrosa (BRADOCK) em seu perfil pessoal do Facebook. Em nenhum momento queremos espalhar ódio contra a referida pessoa, mas sim, deixar claro que a classe não compactua de nenhuma forma com o comportamento e pensamento do mesmo. A classe dos tatuadores repudia qualquer ato de violência e preconceito sendo assim a favor do respeito e do bom senso. Acreditamos que está na hora de toda a sociedade refletir sobre a situação das mulheres em nossa cultura e seus direitos”

É a primeira vez na história da tatuagem nacional que vemos uma organização do tipo da classe lutando declaradamente contra a cultura do estupro e violência sexista. O que é muito importante levando em consideração o nosso momento político atual, levando em consideração a informação que a cada três horas uma mulher é estuprada no Brasil.

Denunciar esse tatuador agora e da forma que aconteceu não se trata apenas de dizer que a classe de tatuadores e tatuadoras não compactua com a cultura do estupro. Significa também buscar proteger e zelar pela segurança das clientes de profissionais assim. É um risco eminente.

Estamos com total e plena consciência de que não se trata de um caso isolado e que existem incontáveis homens tatuadores que acreditam nas mesmas ideias do tatuador Pedrosa. O que esperamos é que a classe não aceite isso mais, que se organizem e que repudiem todo e qualquer profissional que alimente a cultura do estupro e violência sexista. A luta é de todos e todas nós.

A CADA TRÊS HORAS UMA MULHER É ESTUPRADA NO BRASIL!
A CADA TRÊS HORAS UMA MULHER É ESTUPRADA NO BRASIL!
A CADA TRÊS HORAS UMA MULHER É ESTUPRADA NO BRASIL!

 

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