Documentário GORDA discute o preconceito contra mulheres gordas

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Foto: divulgação

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Não é novidade para ninguém que a sociedade atual perpetua um padrão de beleza muitas vezes inalcançável, especialmente para os corpos femininos. Com isso, cria-se uma obsessão em ter um corpo perfeito. Dessa forma, o preconceito contra mulheres com corpos não-padronizados é uma triste realidade.

Por isso, a gordofobia – hostilização e desvalorização das pessoas gordas -, se estende em diversos âmbitos sociais, seja ele o mercado de trabalho, relacionamentos amorosos ou até mesmo na representação midiática.

GORDA, disponível na internet a partir do dia 21 de novembro, irá tratar da temática sob um novo viés. Com direção de Luiza Junqueira, o documentário aborda a relação de três mulheres gordas com seus corpos, cujos depoimentos irão revelar vivências únicas. Diferentemente da forma difamatória como geralmente são representadas na maioria das produções culturais, GORDA concede espaço para que essas mulheres falem por si – e isso muda tudo.

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Foram escolhidas três mulheres em diferentes estágios de autoaceitação para participar do projeto; desde as mais “bem resolvidas”, até as que possuem uma autoestima abalada e problemas em relação à sua autoimagem:

Cláudia Rocha, de 38 anos, é muito confiante de si. Após vencer um câncer, decidiu que se amaria dali para frente e criou um blog, o Gordivah, onde ela incentiva esse amor próprio aos seus seguidores.

Elisa Nesi não se sente totalmente confortável no próprio corpo quando está fora de casa. Além do machismo e gordofobia, ela também lida diariamente com o racismo. Mesmo com essa insegurança, a jovem de 20 anos, ao frequentar espaços mais elitizados – como a faculdade em que estuda – segue com a cabeça levantada. Através de seus relatos, explica que está no processo de mudar esse sentimento dentro de si.

Dandara Aryadne, de 24 anos, apresenta um posicionamento ambíguo, já que, apesar de sua consciência política, não consegue se libertar da necessidade de ser validada pelas pessoas de seu convívio. Por ser estudante de artes plásticas, sabe que padrões estéticos mudam de tempos em tempos.

“Eu, no fundo, acho que não preciso emagrecer 1g e nem formatar nada aqui. Tô muito bem.”, ela comenta. Porém, entre sorrisos envergonhados, responde um sonoro “não” quando lhe perguntam se ela se considera bonita.

A proposta do filme surgiu a partir da inquietação da diretora, Luiza Junqueira. Ela, que também é gorda, produziu em 2013 um curta-metragem chamado “Espelho Torcido”, no qual expõe imagens de seu corpo em uma tentativa de olhar sob uma diferente perspectiva para cada dobrinha, estria e celulite que possuía.

Após o curta alcançar uma boa aceitação do público, Luiza notou o potencial do projeto e se motivou a proporcionar o mesmo sentimento de orgulho do próprio corpo a outras mulheres. A partir disso, o conceito do documentário GORDA, seu trabalho de conclusão de curso na ECO – UFRJ, começou a ganhar forma.

Luiza, então, criou uma página explicativa sobre o filme no Facebook e um formulário online que convidava mulheres gordas a participar – a partir do qual Cláudia, Elisa e Dandara foram as escolhidas. Em menos de uma semana, a página alcançou mais de mil curtidas e o formulário obteve mais de 550 inscrições. A popularidade do projeto, nesse momento ainda em estágio inicial de produção, só confirmou a urgência da abordagem do tema no cenário audiovisual.

O título do documentário, obviamente, não foi decidido por acaso. A palavra, de carga negativa, acaba ganhando uma releitura que desmistifica todo esse histórico ofensivo. De certa forma, tal atribuição física é até celebrada – a partir do momento em que vira símbolo identitário de resistência.

A diretora também percebeu que convocar uma equipe formada apenas por mulheres para a realização de GORDA seria fundamental. Além da linguagem própria que isso traz ao filme, a cumplicidade entre produção e personagens é bastante visível, uma vez que as entrevistadas se sentiram em um ambiente acolhedor – e por isso, à vontade – para trazerem seus fortes desabafos à tona.

A estética do filme também é estrategicamente pensada pela produção. A parte do figurino, por exemplo, surgiu do impasse em encontrar roupas de numeração adequada para as personagens. O obstáculo foi superado com a ideia de confeccionar vestimentas inspiradas em deusas greco-romanas, exaltadas no período renascentista. Desse modo, Claudia, Elisa e Dandara, cada uma com suas singularidades, são agora as nossas deusas contemporâneas.

Sendo assim, GORDA sugere que a beleza feminina está principalmente centrada na relação da mulher consigo mesma. A gordofobia é socialmente naturalizada de tal forma que, em muitos dos casos, as próprias vítimas fazem do seu corpo um alvo de desprezo. Somente a partir de um esclarecimento individual é que elas finalmente se amarão e conseguirão espalhar o conhecimento adiante para combater o preconceito.

Colocando a gordofobia como pauta, o projeto sensibiliza o espectador, fazendo com que surja nele um poderoso sentimento de empatia. Por isso, o filme conversa não só com as mulheres gordas, como também com quem promove os discursos de ódio que as afetam.

CONTATOS
https://www.facebook.com/curtagorda
https://www.youtube.com/channel/UCVEVuanoMK9tGclfWLghaKw

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