Entrevista com a artista multimídia San Mascarenhas

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Fotos: divulgaçãodesvioscoletivos                                                                          Foto: Caroline Moraes

Quem passou pelo Palco Arte Corporal da Virada Cultural de 2012, pode conferir o trabalho da artista multimídia San Mascarenhas, que vem trabalhando com a performance art. Dentro de suas pesquisas houve um encontro com a prática da suspensão corporal. Assim sendo, San passou a fazer parte de um pequeno número de artistas contemporâneos brasileiros que usam a suspensão corporal como parte de suas obras.
A entrevista abaixo busca apresentar e conhecer mais sobre a artista e suas motivações, inspirações e intenções…

T. Angel: Você tem formação em Rádio e TV e tem atuado como artista da performance, como foi a sua trajetória para chegar na performance art?
San Mascarenhas:  Bom Angel, imaginar, criar até se perder… Minha veia sempre pulsou nesse fluxo,  quando tenho uma sensação, a imagem poética vem junto. Amo criar vídeo arte e há uns 20 anos mais ou menos, fiquei imaginando como seria interagir com as imagens ou como dilatar o sentir delas. Um dos passos (após o nascimento de minha filha) mais significativos e certeiro que esse caminho é realmente pra continuar mergulhando de cabeça. Foi graças a um vídeo de ação poética contemporânea onde realizo uma colagem de sensações a mira do olhar puro como sujeito e a realidade ilusória reconhecida no choro profundo, intitulado“MosaicO colagem de sensações”, resolvi permanecer de vez nessa história… Ainda mais após fazer como aluna ouvinte de mestrado em Artes Visuais na Udesc, quando morei em Florianópolis (em 2005) onde foram uns professores Bascos nos dar um curso e um deles disse -”sus videos tienen mucho sentido” (traduzindo “seus vídeos fazem/tem muito sentimento”) Foi a deixa! rs Nunca mais parei, ainda bem: salve os Bascos! rs

T. Angel: Quando você concebeu a idéia de utilizar o seu corpo para a arte?
San Mascarenhas: Desejando experimentar outra linguagem, sair do cômodo fácil sabe? rs Mesclada ao vídeo sendo também poiesis e como emanar de modo mais visceral a sensação que essa imagem carrega pra mim…

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T. Angel: Quais as principais dificuldades em se trabalhar com arte multimídia atualmente?
San Mascarenhas:  É uma arte que requer investimento, como em meu caso até agora não consigo investir o quanto preciso, então me valho do que tenho: corpo, sensações, projeções… Meu corpo, minha tela viva, meu figurino, as imagens que crio através das sensações…

T. Angel: Existem poucos artistas contemporâneos que utilizam a suspensão corporal como ferramenta ou parte de seus trabalhos e você o faz. Conte-nos como e quando aconteceu o seu contato com a suspensão?
San Mascarenhas: Foi bem ao acaso que me enviou essa surpresa. rs Estava na casa do Otávio Donasci, porque ele me auxiliava com o VerTe fronteYra, fui lá pra falar sobre o “CorposentidO” no que havia pensado no movimento e fui expor as possibilidades técnicas pra gente conversar sobre e na hora que ia verbalizar, ele falou : “- Antes dá uma olhada nesse video da Sara”. No caso sua ex aluna da PUC, a Sara Panamby, era um vídeo da sua conclusão de curso Meu Corpo Ritual, acho que é esse o nome, e era ela fazendo suspensão. Doido porque na hora fiquei vendo o vídeo sem pensar em nada! O movimento que iria conversar com ele, desejava performar uma “marionete de certezas falsificadas” ou os seres robotizados… Enfim, nada falei com ele sobre o que pensei, outros assuntos saíram, fui pra casa e eureka: ”presa em ganchos é a própria marionete viva”. Daí pra suspender foram duas semanas que conversei com Filipe Espíndola, pessoa a qual tive a honra de estrear na suspensão, pelas mãos e energia desse hiper profissional que me foi recomendado, tendo a amada Milze como assistente … Tudo ok e apaixonante, claro, e Sara Pananby dando um auxílio energético essencial. Tinha recém chegado em São Paulo e naquele momento no estúdio do Donasci, em que ele pediu pra todo mundo sair e apagou as luzes me deixando só comigo mesma, voando e sentindo. Aquele instante foi extremamente mágico, foi o único momento que me senti LIVRE e PLENA na recém cidade… Super agradeço ao Donasci por esse presente!!!

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T. Angel: Você tem um único trabalho que envolva suspensão?
San Mascarenhas: Até o momento sim, mas já estou na gestação do segundo, somente um único movimento na performance autoral, cujo nome completo é “PerformancePoyesesMultimídiaHolográfica – VerTefronteYra” composta por quatro movimentos, cada qual com uma linguagem performática distinta: 1ø AcuadO uso só cenário virtual com textos e imagens no corpo sendo este a tela viva; 2ø “CorposentidO” uso o que batizei como SuspensãoMultimídia com um cenário virtual e outro distinto em meu corpo, exacerbando as “Marionetes de certezas falsificadas”. Foi o modo visceral que encontrei pra repassar a sensação de um ser mentalmente roborizado; 3ø Libere as Máguas uso cenário virtual e dança;  4ø e ¨ltimo E.P.A.N.D.E. as fronteYras com cenário virtual, ópera na voz da cantora lírica Cecília Valentim e recitando poesia dissolveno meu ser no etéreo, através da Multimídia Holográfica de Otávio Donasci, um mestre multicriador e mestre na Multimídia.

T. Angel: Quantas vezes ele já foi apresentado?
San Mascarenhas: Integral com seus 4 movimentos, a hora está por vir… Apresento pockets dele em aberturas de shows, eventos em geral, no Desvio Coletivo, casas Poieses, caso do “Poetas del Mundo na Casa das Rosas”, Virada Cultural onde infelizmente a multimídia falhou…..entre outros lugares.

T. Angel: Percebeu ou soube da reação do público? Te interessa em saber?
San Mascarenhas:  Na verdade o termo interessa não cabe em mim não… Me motiva e me toca pra caramba saber ao menos que uma pessoa ficou mexida com o que foi mostrado, porque falo muito das sensações sagradas do ser, esse tema pra mim é único, até hoje não tive a menor vontade ou impulso pra criar outro tema, sei lá, talvez por essa essência minha Pisciana com Câncer, vixi! rs É só visceralidade e fascínio pelo além visto, nessa hora entra a lua Ariana pra dar uma mexida mais radical! rs

 

T. Angel: Com quais profissionais (que suspendem) você já trabalhou?
San Mascarenhas:  Contigo T. Angel! rs E quero suspender mais e mais até atingir infinitas vezes! rs Mas houveram os amorosos profissionais que perfuram e suspendem, porém só me perfuraram Filipe Espíndola (o primeiro) e Luciano Iritsu, será ele forever!

 

T. Angel: Você faz algum processo de “preparação” antes e depois de uma suspensão?
San Mascarenhas:  Sinto a suspensão como uma Arte Yogue Meditativa, por precisar da respiração, do centramento, momento da perfuração e entrega… Muito completa pra mim essa arte de suspender.

 

T. Angel:  Outro ponto muito interessante, em uma análise do seu trabalho e corpo, é que a suspensão na contemporaneidade está muito ligada ao meio da body modification. Percebemos que algumas pessoas e autores não conseguem dissociar uma prática da outra. Você é um exemplo de que essa relação não é restrita e que a dissociação deve existir. Você fez um piercing (nostril) recentemente e uma pequena tatuagem. O que pensa dessa relação? Qual a sua relação com a body modification?
San Mascarenhas:  Angel amado, os termos “devem”, “tem que” são demasiadamente impositivos/impeditivos, não é saudável pra mim esquecer que o ser é LIVRE , ele pode suspender sem nunca ter feito body modification ou nunca ter feito body modification e amar suspender, por exemplo meu caso, tenho uma micro tatuagem de anel e um micro piercing nostril e não significa que tenha aversão por body modification, acho interessantíssimo a relação de corpo dele consigo mesmo… Esses variados olhares e atitudes é que colorem e expandem a vida e os seres.

 

T. Angel: Em suas performances você se apresenta nua, apenas pintada algumas vezes. Como é trabalhar com a nudez – sendo mulher – em uma sociedade absurdamente machista e moralista?
San Mascarenhas: Naturalmente, sou muito centrada no que creio… Assim nascemos, nus sem veste alguma e na minha arte procuro constantemente, em diversas linguagens resgatar essa memória da pureza e liberdade nas pessoas, nunca apago da minha essência que nascemos para ser livres e felizes, por mais trabalhoso que seja, por mais que outros olhares julguem como sendo outra coisa, a mim sinceramente não importa, por estar muito vivo e vibrante no que creio que seja a vida. Claro, uso muitas vezes a projeção de imagens no meu corpo que serve como uma tela viva, descrevo-a como uma projeção mental do contexto que estou inserida… Você contamina seu corpo com seus pensamentos… Tu é o que pensa.

T. Angel: Um dos principais nomes da suspensão corporal no campo da arte contemporânea (e no geral também) é do australiano Stelarc. O respectivo artista fez um número de suspensões e cessou as práticas. Você acha que a suspensão é um trabalho com prazo de validade, no sentido de que o corpo desgasta e cria certas limitações com o passar dos anos? Ou ainda o “prazo de validade” pode ser compreendido como a própria elaboração artística?
San Mascarenhas:  Sinceramente, faço suspensão há 5 anos e tudo em demasia tende ao desgaste. Pelo mental creio que farei a vida toda, porém pela falta de informação desconheço a real possibilidade disso concretizar… Por isso é certo que criarei outras alternativas.

 

T. Angel: Quais os artistas que te influenciam?
San Mascarenhas: Os profissionais que sinto e não os que me influenciam, já que  não sou um ser influenciável… rs É tu T. Angel, por suas criações emanando AMOR pelo próprio ser que és com sua refinada estética e sinceridade, prezo muito isso. Me estimulam, me dilatam, sentir as pessoas da mesma frequência, por exemplo, as que convivi durante a Virada Cultural no palco Arte Corporal… Todos sem exceção, gentis, alegres, alto astral e sem resquício egóico, sou grata por ter conhecido mais essas pessoas, onde pode se ver além do visto… Tive essa benção, também aqui em São Paulo de só compartilhar trabalhos com seres assim

T. Angel: Planos futuros de trabalhos?
San Mascarenhas:  Opa, sempre respirando…rs Mas esse ano o ecletismo impera! rs Um deles foi graças a ti, usar a Suspensão Multimídia no modo co-criativo ou como a atual definição artística, no modo relacional. Através de sua performance, cujo nome evaporou-se agora… rs Feita com Luciano Iritsu e Enzo Sato, onde vendados e deitados com ganchos, numa entrega imensa, eram puxados/guiados por ti… Foi tão forte pra mim, que inspirou-me já ativando minha criação de imediato.

 

T. Angel: Quem quiser saber de sua agenda ou acompanhar uma performance sua, como deve fazer?
San Mascarenhas: Pelo site www.sanmascarenhas.com e divulgações via Facebook.

T. Angel: Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
San Mascarenhas: Ser sincero, verdadeiro e poder se expressar através desses sentimentos em variadas linguagens é nossa vida, algo quase missionário tamanha a visceralidade. rs Cada um vibrando conforme seu repertório e redescobrindo-se até… ver-Te!!!

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