Fabi Fernandes conta sobre sua carreira como piercer e sobre a cena da modificação corporal potiguar

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Fotos: Arquivo pessoal de Fabi Fernandes

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A história nacional do body piercing contemporâneo tem a presença de mulheres desde o seu início, embora essa informação apareça usualmente esfumaçada, quando não é simplesmente apagada. Mas no começo foi uma, depois duas, três e hoje tantas profissionais que não podemos mais contar. Nos cursos e workshops que visitamos é sempre muito forte (no sentido de participação ativa) a presença das mulheres, é bem verdade que em muitos casos elas são a maioria. Embora isso de algum modo seja subvertido e o que fica para nós como informação é que se trata de uma área predominantemente masculina.

Principalmente nos últimos anos a questão de gênero tem sido muito forte em nosso trabalho e pesquisa. Muito além dos concursos de beleza, cartazes de convenções de tatuagem e capas de revistas – que em alguns casos, em nosso entendimento, contribui com a objetificação da mulher e só – queremos saber mais sobre as mulheres na comunidade da modificação do corpo. Porque desde sempre conhecemos o lado da história de que haviam profissionais mulheres no Brasil e, fora do país isso é muito mais forte ainda, o que também não chega até nós. O livro ‘The Piercing Bible‘ escrito por Elayne Angel é um exemplo dos tantos que poderíamos citar.

Então, aonde estão elas? Por que não as vemos nos constantes workshops nacionais que acontecem, ministrando as aulas? Por que não as vemos nas palestras em seminários nacionais, ministrando ou coordenando as atividades? Por que não as vemos nos documentários, programas de TV e matérias de jornais? Por que é sempre a figura do homem que se destaca dentro desse cenário? Essas são algumas perguntas que buscamos respostas, embora já tenhamos alguma previamente, por exemplo, a clara noção do sistema patriarcal, machista e heteronormativo que vivemos e o quanto isso também afeta a comunidade da modificação do corpo. Mas há outras nuances pra se entender e só conseguimos fazer quando nos propomos a dialogar e gerar diálogos sobre a questão. Esse é o lugar que nos encontramos há algum tempo.

Em uma recente lista que fizemos de profissionais mulheres do piercing, encontramos mais de 50 profissionais espalhadas pelo Brasil, algumas delas com quase duas décadas de carreira. É ainda um número muito fora do que acreditamos ser a realidade. Tem mais mulheres profissionais do que podemos contar por aqui. Vamos seguir com as nossas pesquisas pois é certo que isso gerará impactos em toda nossa produção que não é só virtual.

Saímos do eixo Rio e São Paulo e fomos para Natal, Rio Grande do Norte, ouvir a história da Fabi Fernandes. Profissional do piercing há mais de uma década e que tem uma relação muito intensa com as modificações e usos do corpo. Fabi nos contou em uma entrevista exclusiva sua história e impressões sobre a cena da modificação do corpo nacional. Mulher, modificada, nordestina e piercer, é sempre um grande prazer ouvi-la e principalmente compartilhar sua história com todas as pessoas que nos acompanham. Boa leitura!

T. Angel: Fale pra gente quando e como começa o seu interesse pelas modificações corporais?
Fabi Fernandes: Desde criança acredito. Sempre gostei de agulhas, achava fascinante o que o nosso corpo pode suportar e ao ver as pessoas com perfurações, tatuagens, imaginava: nossa, quanta dor eles sentem e conseguem… E imaginava se eu também conseguiria, então me furava só para sentir a sensação, tudo escondido dos meus pais, isso por volta de 8 anos e com o tempo só me interessava mais, mas eram outros tempos, né? Não se tinha internet, informação, então o que eu conseguia ver, já me encantava! Esse foi meu primeiro interesse sem nem saber que era modificação corporal!

T. Angel: Quando você percebeu que poderia ser uma body piercer?
Fabi Fernandes: Com 12 anos, eu sabia que era aquilo que queria para minha vida, porém eu tinha que seguir todo um ciclo, no caso até meus 18. Fiz tudo que meu pais queriam, né? Terminei os estudos, fiz cursos, comecei a trabalhar com 16 e aos 18 finalmente ia ser quem eu sempre quis ser. Com meu primeiro salário fiz minha primeira tattoo, tive as primeiras perfurações, suspensões, scar, consegui fazer um curso inicial de perfurações corporais e estou até hoje, fazendo o que amo fazer!

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T. Angel: Você tem atuado em Natal, gostaríamos de ouvir como tem sido essa vivência e experiência.
Fabi Fernandes: Isso, comecei em Natal, na mesma loja durante 12 anos e é a mesma que estou até hoje  Por aqui não foi nada fácil, não era tão valorizado, não tinha uma grande clientela, mas resisti e nunca desisti. Sabe quando você só têm aquela “mixaria” e você vai e compra mais joia e economiza de todas as formas, para poder estudar mais e acredita lá no fundo, que vai dar certo? Era eu e eu pensava isso um dia vai mudar e eu vou conseguir ser valorizada, fazendo o que faço. A cada ano que passa tenho mais clientes e inclusive fiéis, que voltam e trazem novas pessoas  e confiam no meu trabalho e não é só dinheiro é algo muito maior, é respeito, é confiança e muito amor envolvido!

T. Angel: Fale um pouco sobre suas percepções da cena da modificação do corpo em Natal?
Fabi Fernandes: Natal têm muitas pessoas tatuadas, com piercings, alargadores, mas modificações mais extremas não e isso ainda choca muito as pessoas por aqui. Por ver um alargador muito grande, uma língua bifurcada, implantes, suspensões, mas com o tempo está mudando e têm que ter muita paciência para lidar com as reações, olhares e perguntas de pessoas leigas no assunto.

T. Angel: Quais são as suas grandes referências no meio do piercing?
Fabi Fernandes: Primeiro de tudo o Andre Meyer, né? Primeira body piercing clinic no Brasil, suas fotos nas revistas. André Fernandes, Valnei e meu primeiro professor Alien, ele que me ensinou o começo de tudo.

T. Angel: Você acredita que o meio da modificação corporal seja sexista e machista?
Fabi Fernandes: Sim, mas nós mulheres temos que nos impor e exigir respeito, nem que seja na marra e saber colocar essas pessoas em seus devidos lugares.

T. Angel: Passou por alguma situação de preconceito por ser mulher e body piercer?
Fabi Fernandes: Tive muita sorte com isso, sempre fui bem aceita e respeitada, por todos os amigos piercers e na sua maioria homens.

T. Angel: Não vemos hoje no Brasil mulheres atuando no processo de formação de novos profissionais. Por que você acha que isso acontece?
Fabi Fernandes: Sou muita sincera ao dizer que faltam pessoas que queiram realmente o piercing, como um estilo de vida e não apenas como um status e um visual descolado. Isso me entristece e até hoje nunca ensinei a ninguém por causa disso, falta amor, paixão pelo fazer, os que aparecem você vê que é empolgação e isso pra mim não serve e não quero. Não é fácil viver de piercing no Brasil, bons profissionais sabem disso, como é duro ter boas joias, bons materiais, investir na nossa profissão, se deslocar para outras capitais, países… São investimentos em longo prazo ou seja, você tem que gostar muito e tendo movimento bom ou ruim, insistir em evoluir.

T. Angel: Você pretende atuar na formação de novos e novas profissionais?
Fabi Fernandes: Pensei e penso, mas está difícil um pupilo ou pupila de responsa. Não sei se é porque é algo que eu sempre quis e quando consegui agarrei com unhas e dentes e não vejo a mesma garra nessas pessoas.

T. Angel: Como foi participar da LBP – Asociación Latinoamericana de Body Piercing?
Fabi Fernandes: Foi um salto na minha vida, aprendi muito, aproveitei cada segundo, cada aula, anotei tudo, só positividade. Evolui bastante, melhorei muita coisa, desmistifiquei muitas outras e sei que estou no caminho certo.

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T. Angel: Como você se mantém atualizada na profissão?
Fabi Fernandes: Acompanho muito os trabalhos de profissionais nacionais e internacionais, pergunto quando tenho dúvidas e procuro agregar ao meu trabalho o que me agrada. Sempre que posso viajo para estudar com profissionais que admiro.

T. Angel: Gostaríamos de ouvir também sobre sua relação com a suspensão corporal. Como tudo começou?
Fabi Fernandes: Desde a primeira vez que vi em revista fiquei apaixonada e busquei saber com quem já tinha feito. Assim que fiz 18 anos tive a primeira experiência com a Knee (pelos joelhos). Foi uma sensação indescritível, só quem faz sabe o que estou falando. E vejo como uma evolução de si mesmo, ali é você contra você mesmo. A mais intensa foi a O-kee-pa, que pretendo fazer outra em breve.

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T. Angel: Qual a suspensão mais marcante que já realizou?
Fabi Fernandes: Humm, O-kee-pa! Foi a mais intensa pra mim, foi difícil respirar e nas perfurações eu já senti que ela seria diferente de todas as outras.

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T. Angel: Para quem quiser agendar algum trabalho contigo, como deve fazer?
Fabi Fernandes: Estou sempre das 14:00 às 19:00 na loja Artevidatattoo e outros horários somente por hora marcada. Fácil me achar, vou deixar os links de tudo: https://www.facebook.com/fabi.artevidatattoo,  @fabi.artevidatattoo (Instagram) e meu whattsap 084-98702-3786.

T. Angel: Deixe uma mensagem para as garotas que pretendem se tornar profissionais do piercing.
Fabi Fernandes: Primeiro de tudo ame o piercing. É uma profissão maravilhosa, porém, para ser bom você tem que se dedicar de forma responsável e zelar por uma classe que merece respeito, por sua história e por tantos anos de conquistas. Ser bom demora muitoooo e isso leva anos. Faça o seu melhor, seja humana, respeite seus clientes e dedique-se sempre! Muito obrigada, pelo espaço querido Thi e parabéns pelo seu trabalho lindo! Grande beiju no <3.

CONTATOS
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2 thoughts on “Fabi Fernandes conta sobre sua carreira como piercer e sobre a cena da modificação corporal potiguar”

  1. Adorei a entrevista.. Me chamou a atenção isso de terem poucas mulheres ministrando workshops, eh uma triste verdade, e eu acho q em parte, eh culpa nossa (homens), pois dificilmente vejo um coordenador convidando uma profissional mulher pra dividir uma class, eu já havia notado isso a muito tempo, no Brasil nunca participei de um work ministrado por uma mulher, inclusive eu tenho me dedicado um pouco a isso, agora q o meu projeto Piercer Freelancer, tem uma presença feminina, tenho incentivado a Cla e ela já ministrou aulas comigo em umas 3 ou 4 ocasiões, e eu vejo o quanto, mesmo sendo mulher (pensando no esteriótipo machista que temos delas), ela consegue lidar muito bem com uma classe onde a maioria dos alunos é homem, se impor, se fazer respeitar e ainda passar informações de maneira coerente e digna do mesmo respeito que nós (homens), se não até, merecem respeito maior, pois no caso específico da Cla, ela é muito nova, como pessoa (25) e como profissional (1 ano e pouquinho), e ainda assim vejo coisas que sempre me deixam satisfeito e orgulhoso de ter escolhido ela pra dividir o Projeto comigo, agora imagina outras tantas perfuradoras q conheço aí pelo Brasil com uma bagagem e experiência muito maior?! Nós (homens e mulheres) precisamos incentivar mais as nossas lindas e competentes Perfuradoras.. Parabéns Fabi e Thi..

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