Identidade do atirador de Denver é divulgada

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Foto: reprodução/Google

Na noite do dia 28 de Dezembro a identidade e o perfil do atirador de Denver começaram a ser divulgados e traçados pelas autoridades dos Estados Unidos, pela grande imprensa internacional e redes sociais. Ele é apontado como o autor do assassinato de 5 pessoas, sendo 3 delas – até onde sabemos – diretamente ligadas com a comunidade da modificação corporal. Com a divulgação do autor do atentado, entramos em uma espécie ruim de pesadelo. É um terrível pesadelo tudo isso e que desnuda o adoecimento de nossa sociedade.

Lyndon McLeod, 47 anos, também conhecido pelo nome de Roman McClay, é apontado como o autor do bárbaro atentado que chocou ao mundo e deixou a comunidade da modificação corporal e freak em luto. Não é o primeiro e, infelizmente, não será o último atentado de Denver, considerando o histórico e a política armamentista dos Estados Unidos. O show de horror se repete de tempos em tempos: o atentado acontece, as pessoas morrem e nada efetivamente muda. Inércia que alimenta a milionária indústria armamentista.

O atirador também era ligado com a comunidade da modificação corporal, agora recomendamos fortemente uma pausa e a leitura do texto que publicamos AQUI, em que trabalhamos as diferenças entre comunidade da modificação corporal e comunidade freak. É importante.

McLeod tinha várias tatuagens, pequenos alargadores na orelha e aparentemente foi tatuador e proprietário de um estúdio. Tem sido divulgada suas ligações com figuras públicas conservadoras, seus ideais de extrema-direita e sua estreita relação com o neonazismo (apontado como supremacista branco, misógino, racista e anticomunista). É…

Sobre o atirador ter sido tatuador, Eric Escudero, diretor de comunicação de Denver, diz que McLeod nunca foi licenciado como um profissional da tatuagem ou proprietário de estúdio. “Se ele estava realizando qualquer tipo de trabalho com tatuagem em Denver, estava fazendo ilegalmente uma vez que ele não era licenciado” afirmou Escudero para o The Denver Post.

Todavia o nome de McLeod estava incluído no contrato de locação da All Heart Industry, um estabelecimento de modificação corporal licenciado em 2013, disse Escudero, ele era agente registrado da empresa. A All Heart Industry que também usou o nome de Flat Black Ink Corp., permitiu que sua licença de modificação corporal expirasse em 2014.

O endereço da All Heart Industry, então, passou a ser utilizado em 2016 pela Sol Tribe Tattoo & piercing, o estúdio em que Alicia Cardenas era proprietária. Posteriormente Sol Tribe mudou para o endereço atual na Broadway. Um dos indícios (e não o único) que sustenta a ideia das autoridades de que McLeod conhecia suas vítimas e havia planejado antecipadamente o atentado.

Aproveitaremos agora para elaborar uma retificação na publicação que fizemos AQUI, apontamos que Dano Blair havia sido assassinado no Sol Tribe Tattoo & Piercing em Denver, mas ele foi vitimado no Lucky 13 Tattoo & Piercing em Lakewood. Foram pelo menos oito ataques em diferentes pontos entre Denver e Lakewood, realizados em torno de uma hora e meia. Importante fazer a correção do que escrevemos anteriormente.

Com as informações mais organizadas e divulgadas pelas autoridades, soubemos que  a terrível violência começou por volta das 17:25 no Sol Tribe Tattoo & Piercing em Denver, onde McLeod matou Alicia Cardenas, 44, e Alyssa Gunn Maldonado, 35, conforme informou a KDVR. Jimmy Maldonado também foi ferido na primeira cena, baleado na região do peito e está hospitalizado em estado grave. 

Pouco tempo depois, Michael Swinyard, 67, foi morto a tiros em outro local de Denver, disse a polícia, dentro de sua casa. O tiroteio foi interrompido nas proximidades da Bannock Street e da Sexta Avenida – onde McLeod supostamente tinha sido dono de um estúdio de tatuagem, conforme informou a ABC news. Ninguém ficou ferido no terceiro tiroteio. 

A polícia de Denver mais tarde localizou o carro de McLeod e deu início à perseguição, trocando tiros antes que ele pudesse escapar. Pouco antes das 18h, McLeod assassinou o tatuador Danny Scofield, 38, no Lucky 13 Tattoo na Kipling Street em Lakewood, também de acordo com a KDVR

Os policiais localizaram novamente o carro do suspeito na área comercial de Belmar e novamente trocaram tiros com o homem. McLeod então escapou para o Hotel Hyatt e matou uma balconista, Sarah Steck, 28. Depois de deixar o hotel, ele atirou e feriu um policial de Lakewood, disseram as autoridades. O policial ferido, cujo nome não foi divulgado, foi submetido a uma cirurgia na noite de segunda-feira. A polícia e o, então suspeito, trocaram tiros pela terceira vez e o atirador morreu. Não ficou claro se os policiais atiraram nele. As investigações seguem acontecendo pelas autoridades e, aos poucos, vão sendo divulgadas pela imprensa.

Lyndon McLeod era autor de livros de ficção e assinava os títulos como Roman McClay. Suas obras pregavam a supremacia racial branca e uma suposta superioridade biológica de homens sobre mulheres. E falamos acima que tudo parece um grande pesadelo, e agora chegamos ainda mais no fundo do poço. Dois dos nomes reais das vítimas, Alicia e Michael, foram utilizados por eles nos livros, inclusive, em ataques similares. O segundo indício de que ele conhecia de fato as vítimas e tinha arquitetado o atentado com antecipação. A publicação do livro data o ano de 2018. Ele escrevia sobre assassinatos similares, rancores pessoais, desejo por vingança em seus três livros, focados na raiva, violência e desigualdade econômica. Para além de expor os seus posicionamentos políticos extremistas, ele chegou a retratar, repetimos, ataques extremamente similares aos que realizou nesta semana, utilizando os nomes de algumas das vítimas.

Na primeira publicação de McLeod, um personagem nomeado Lyndon MacLeod utiliza equipamento policial e mata um outro personagem chamado Michael Swinyard em seu apartamento na Williams Street. A roupa descrita na cena é idêntica a que ele estava usando durante os atentados. Na segunda publicação, uma vitima de assassinato é nomeada como Cardenas, e também descreve um ataque em um estúdio de tatuagem na Sexta Avenida. No livro, o personagem Lyndon metralha um estúdio de tatuagem e mata diversas pessoas, incluindo a proprietária.

Ficção e realidade se chocaram diante do ressentimento e em nome da fixação e desejo de morte de um neonazista. Precisamos dar o nome certo para as coisas. Ele matou e ele ter também morrido não resolve coisa alguma, ao contrário. Tudo isso escancara – mais uma vez – a sociedade doente que temos e a responsabilidade ética e dever moral que nós que continuamos temos na luta contra as ideologias da necropolítica como o fascismo e o nazismo. Temos o dever moral pelos que se foram e pelas novas gerações que chegarão. É uma responsabilidade nossa que aqui ficamos.

O atentado de agora em Denver é uma tragédia sem igual. Quanto mais sabemos, menos gostaríamos de saber. Mas para nós, não saber e não falar sobre, implica em nossa própria sobrevivência (e da nossa gente). É parte da nossa responsabilidade também.

Precisamos de tempo para assimilar tudo isso por agora. Respirar por um minuto ou dois…
Que difícil, que dolorido. Força e coragem para nós que ficamos.

Ps. Para turma da modificação corporal brasileira alinhada – conscientemente ou não – com a extrema-direita, esperamos de coração que vocês aprendam algo com essa tragédia.

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