O corpo como templo da alma, poesia e fotografia

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O site de relacionamento Myspace.com ostenta entre seus membros, verdadeiras mentes brilhantes. Músicos, artistas, dançarinos, fotógrafos e tantos outros talentos, que juntos expõem um pouco de seus trabalhos, para uma apreciação “democratizada” e globalizada. Foi assim que me deparei com o trabalho fascinante do fotógrafo africano que reside em Portugal, Jorge De Sousa.

Conversando com De Sousa, é possível perceber que a poesia não está presente apenas em suas fotografias, mas sim, na forma com que ele vê a vida como um todo.

Confiram agora a agradável entrevista que fizemos com esse admirável e talentoso artista da fotografia e, sim Jorge De Sousa, o seu trabalho é tão sugestivo quanto uma simples nuvem no céu!

T. Angel: Conte-nos um pouco sobre você? Formação? Principais trabalhos realizados?
De Sousa: Nasci em África, Moçambique, e trago sempre na memória o aroma da chuva a cair sobre a terra quente. Ainda jovem instalei-me em Portugal e fiz de Lisboa a minha base para viajar por toda a Europa.
Estudei Matemáticas, Gestão de Empresas e no campo das artes a minha formação é em Cinema, onde estudei para Direcção e Realização de filmes. Nunca cheguei a exercer a tempo inteiro, por motivos vários, mas principalmente porque nunca consegui apoios para a minha visão artística. Cinema é uma actividade que envolve muito dinheiro e em Portugal quase não existe uma indústria cinematográfica.
É assim, numa postura de realizador frustrado, que um dia descobri a fotografia. Trata-se de uma actividade ainda recente pelo que os principais trabalhos, acho, ainda estão para vir.

T. Angel: Pelo seu myspace, é possível sentir uma abertura bastante grande e amistosa para o chamado “networking” e contactos num geral. Seria esse o segredo para o aprimoramento profissional, numa sociedade cada vez mais globalizada?
De Sousa: O MySpace (e a Internet em geral) é o lugar mais democrático que conheço. Títulos acadêmicos ou sociais, curriculum respeitável ou outros atributos são coisas que não interessam. O importante é o produto do seu trabalho, aquilo que você tem para mostrar às pessoas. Se elas gostam da sua arte, fazem-no com sinceridade e sem estarem preocupadas se você é um mestre na actividade ou um simples entusiasta. Veja este exemplo: – Um vídeo caseiro feito de forma criativa e colocado no youtube é capaz de conseguir mais espectadores e aplausos do que muitas das grandes produções.
Na realidade, a Internet é o lugar mais democrático do planeta e o melhor veículo para divulgar o seu trabalho sem ter que se submeter a intermediários ou grupos manipuladores. Sem dúvida que este tipo de contacto, directo com o seu espectador “Global”, traz exigências bastante elevadas no aprimoramento. De repente, você está lado a lado com os melhores exemplos do mundo e muito naturalmente dá o seu máximo para conquistar o seu lugar.

T. Angel: Sabemos que podemos nos expressar e contestar o mundo através de imagens. Existe alguma motivação contestatória em seu trabalho?
De Sousa: Reconheço que sim, mas não é essa a minha intenção. Apenas gosto de contar histórias e procuro fazê-lo de forma original levando as pessoas a pensarem de maneira diferente.


T. Angel:
Você categorizaria o seu trabalho como sendo algo surrealista?
De Sousa: Eu seria a pior pessoa para classificar o meu trabalho e confesso que nem seria capaz de o fazer. Para mim é o produto de uma paixão que executo com muito prazer. Quando olhamos as nuvens, uns vêm dragões, outros vêm demônios, outros ainda vêm apenas belas figuras (formadas por vapor de água) pairando no ar. Por isso, deixo para o espectador essa categorização. Respeito todas as visões e só espero que o meu trabalho seja tão sugestivo como uma simples nuvem no céu.

T. Angel: Conte-nos como é trabalhar “diferentemente” com uma iconografia cristã, numa sociedade onde a grande massa ainda é movida por preceitos tradicionais do cristianismo?
De Sousa: A minha educação foi assente na mais louvável conduta Católica. Sou baptizado, fiz a primeira comunhão, não faltava um domingo na missa e depois de me confessar, rezava ajoelhado para me redimir dos meus pecados. E foi assim até ao dia em que percebi que todo o universo Católico, incluindo as diferentes correntes do Cristianismo, não passavam de esquemas muito bem montados para manipular as pessoas, aterrorizando-as com a idéia do céu e do inferno para as controlar e extorquir-lhes o dinheiro. Nesta medida sou um Católico dissidente, mas continuo a acreditar em Deus, um Deus que nada tem a ver com essa figura inventada pela igreja católica. O meu Deus não condena ninguém, não excomunga, não pede dinheiro nem manda as pessoas para a fogueira. Vivo em harmonia com Ele e todos os dias lhe agradeço pelo milagre da vida.
Todos temos um livro preferido e o meu é a Bíblia, que considero a maior ficção de todos os tempos. Nesta compilação de textos, através de elaboradas metáforas, podemos encontrar grandes ensinamentos e o mais profundo dos conhecimentos sobre a condição humana. Aconselho vivamente a lerem a Bíblia até porque é um livro muito fácil de abordar e de conteúdo fascinante. Na minha produção artística, limito-me a interpretar, com o máximo de rigor e sem pretensões, algumas das passagens desta extraordinária ficção.

Tenho recebido algumas críticas oriundas dos sectores mais conservadores e fundamentalistas do Cristianismo, mas talvez, pelo carácter sério com que abordo este tema, acaba por não sobrar muito espaço para os argumentos dessas pessoas ofendidas pelo meu trabalho.Aliás, pela minha experiência pessoal e pelo conteúdo de algumas das abordagens que tenho recebido, concluo que estes fundamentalismos religiosos só encontram terreno fértil dentro de certas mentes ignorantes.

T. Angel: A sua vontade de capturar o “estranho” é o que levou trabalhar com corpos modificados?
De Sousa: Sem dúvida! Fascino-me pelo estranho e considero de extrema beleza corpos modificados ou com características fora do comum. Ando sempre à procura de novos modelos nesta área. Quem quiser colaborar comigo poderá contactar-me para o seguinte e-mail: desousaphoto@gmail.com.

T. Angel: Qual a sua relação com a body modification e/ou com a body art?
De Sousa: Tenho para mim que o corpo é o templo da alma. Cabe a cada um tratar do seu corpo da forma que bem entender e de maneira que cada um se sinta confortável no corpo que habita. Tudo na natureza está num processo contínuo de busca pela perfeição, pelo que incluo o body modification neste processo. Neste caso, não só em busca de um corpo mais perfeito, mas também na construção de um templo mais belo para acolher a sua alma.

T. Angel: Deixe uma mensagem para todos aqueles que pretendem trabalhar com a fotografia…
De Sousa: Quebrem as regras, mas primeiro aprendam a dominá-las.

FIM.

Deixamos nosso agradecimento ao Jorge De Sousa, por toda atenção e amabilidade em nos responder tão prontamente.

CONTACTO:
www.myspace.com/desousaphoto

* Entrevista feita via e-mail.

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1 thoughts on “O corpo como templo da alma, poesia e fotografia”

  1. Releitura Foda ao Extremo !!!

    Paguei um pau de verdade !!!

    O cara é fera mesmo !!!

    Além de usar obras excelentes como base, ele abusa

    da simbologia através de ícones da estética underground contemporânea.

    A clássica Santa Ceia de Da Vinci e a barroca Descida da Cruz de Peter Paul Rubens,

    ficaram extremamente interessantes sob a perspectiva dele.

    Fiquei extasiado com a composição e com forma que ele polemiza a linguagem

    usufruindo de corpos modificados.

    Excelente !!!

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