O que é suspensão corporal?

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O curta ‘Coma’ (2011, Brasil) abordou a temática. Foto: Kill Iritsu

Suspensão corporal é uma prática em que o corpo humano é suspenso por ganchos que perfuram a pele. Historicamente não existe documentação de quando e exatamente onde tenha começado a prática, por sua vez, temos registros que se trata de uma cultura bastante antiga.

Sabemos que entre alguns povos nativos da América do Norte e na Ásia, com os hindus, a suspensão corporal fazia parte de suas respectivas culturas. Entre os povos tradicionais norte-americanos como rito de passagem e entre os hindus como devoção.

A imagem abaixo, uma pintura em óleo feita por George Catlin (1796-1872) em 1832, ilustra um ritual em que as suspensões corporais pelo peito e costas são utilizadas. George que foi um pintor especializado em pinturas dos povos nativos, acompanhou um ritual do povo Mandan. A obra está no Museu de Denver, Estados Unidos da América.

The Cutting Scene, Mandan O-kee-pa Ceremony. Pintura de George Catlin, 1832.

Das perfurações

A perfuração ou perfurações, usualmente, são temporárias. Em outras palavras, as perfurações são feitas pouco antes da suspensão corporal acontecer, momento em que os ganchos são colocados na pele. Ao final da suspensão corporal os ganchos são removidos e realiza-se um curativo para que as perfurações cicatrizem.

A variação de quantidade de ganchos é bem diversa, atende usualmente os anseios e desejos de quem vai se suspender com supervisão do profissional que realizará o procedimento. Há suspensão com um gancho e há suspensão com mais de 30 ganchos.

Cada gancho posto na pele, pode ser chamado também de ponto, ou seja, uma suspensão com 4 ganchos pode ser descrita como suspensão de 4 pontos.

Suspensão corporal realizada por Luciano Iritsu e Enzo Sato em artistas do Desvio Coletivo, São Paulo, 2011. Foto: Caroline Moraes

Das motivações

A suspensão corporal é uma prática muito antiga e muito complexa. Quando pensamos sobre o que leva uma pessoa a se suspender, precisamos saber que essas respostas nem sempre serão iguais ou nem parecidas. O ideal é sempre considerar o que cada pessoa diz sobre a experiência que teve ou pretende ter.

Se entendemos que no passado as suspensões praticadas pelos povos tradicionais norte-americanos e hindus tinham motivações espirituais, no tempo presente temos infinitas respostas, além obviamente – que ainda – a intenção espiritual e sagrada.

Hoje a suspensão corporal tem sido praticada como forma de autoconhecimento, diversão, esporte radical, arte, transcendência, rito de passagem, prática sexual e a lista segue sendo construída. A suspensão corporal é prática cultural viva e, como tal, seguirá se transformando.

Embora não exista documentação de sociedades que tenham usado a suspensão corporal como forma de violência e tortura, curiosamente o cinema e variadas produções em audiovisual seguem por essas vias. Buscam criar uma relação – quase sempre única – entre a suspensão corporal com a tortura e a violência, forçando a criação de um imaginário perverso e estereotipado sobre a prática e seus praticantes. Exemplos de filmes não faltam: Mórbido Silêncio (1998), O Último Rei da Escócia (2006) e o nacional Encarnação do Demônio (2008), todos funcionam com essa lógica.

American Horror Story – Cult apresentou a supensão corporal como tortura. Foto: reprodução/

Da história ocidental

Nos anos 70 do século XX a suspensão começava a integrar as práticas corporais dos povos ocidentais. Nos Estados Unidos da América o trabalho com suspensão corporal do Fakir Musafar (1930-2018) e na Austrália o trabalho de Stelarc (1946-) foram responsáveis em fazer com que a prática tivesse visibilidade e ganhasse novos praticantes.

O filme Um homem chamado Cavalo (1970, EUA) também teve a sua parte, mostrando um ritual que envolvia suspensão corporal de um povo originário norte-americano.

No Brasil, por sua vez, a prática começou a ser discutida e difundida com bastante força no final dos anos 90. Nomes como Andre Meyer (1969-) e Filipe Espindola (1975-) são importantes na propagação da cultura da suspensão corporal no Brasil.

Andre Meyer foi um dos primeiros brasileiros a se suspender em 1998. Foto: reprodução/Revista Trip

Dos cuidados

Como qualquer procedimento que você vá fazer no seu corpo, procure profissionais que tenham capacitação adequada. Capacitação adequada pode ser entendida também com o histórico para além da técnica, entrando no campo da ética. Recomendamos que você evite profissionais com histórico de violência, abuso e assédio sexual, para sua própria segurança.

Converse, tire todas as dúvidas, veja registros anteriores e não tenha pressa, o ideal é que a sua experiência seja positiva, inesquecível e, principalmente, segura. Nem sempre ter muitos seguidores em rede social é sinônimo de ter um trabalho sério, seguro e ético, tenha cuidado.

Algumas sugestões possíveis: antes de realizar a sua suspensão corporal se alimente bem, se hidrate, descanse e evite o consumo de drogas (lícitas e ilícitas). Depois de se suspender siga com uma alimentação boa e descansando adequadamente para que seu corpo se recuperar o quanto antes. Cada corpo reage de uma forma, procure escutar o que o seu está dizendo.

No vídeo abaixo você encontra alguns diferentes depoimentos de pessoas que já se suspenderam.

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