“O amor é a resposta não importa qual seja a questão”
Dr. Caligari
Em janeiro de 2015 tivemos conhecimento que o tatuador mineiro Alcides Corrêa, conhecido como Cidin, esteve atendendo o que seria o desejo do Victor, algo simples como ter desenhos em sua pele. Esperamos todo esse tempo para conversar com o tatuador e, assim, saber um pouco mais dessa história que é bonita e triste na mesma proporção. A espera se deu pelo respeito ao trabalho do profissional, a saúde do próprio garoto e todo o contexto da situação. Bem, hoje ouvimos mais dessa história, nos emocionamos muito e agora dividimos com vocês.
Alcides nos contou que o Victor era sobrinho de um grande amigo dele. Teve uma vida plena em saúde até os 12 anos de idade. Então, ainda aos 12 anos, passou a sentir fortes dores nas costas. Alguns exames médicos foram feitos e foi descoberto um tumor que estava comprimindo a medula cervical, impossibilitando que ele pudesse andar. Foi quando se fez necessário o uso de uma cadeira de rodas e foi justamente nesse momento que Alcides conheceu o garoto.
O tumor foi se tornando mais agressivo e com isso se espalhou por todo o corpo de Victor. Os remédios utilizados para combater o tumor, fizeram com que seu corpo ficasse bastante inchado durante o seu tratamento.
Victor seguia lutando bravamente contra o tumor e dentro das limitações da doença, buscava realizar os seus sonhos e vontades. Ter uma tatuagem em seu corpo era um desses sonhos. Quando o Alcides ficou sabendo disso, comprou algumas canetas e foi até a casa do menino, onde ele se encontrava acamado, e ali mesmo os desenhos foram feitos. O braço de Victor ganhou um belo e colorido desenho.
Para nós que pesquisamos as modificações corporais é muito poderoso saber que hoje uma tatuagem não só faz parte do imaginário infantil, mas de seus sonhos e principalmente possibilitando a criação de momentos muito especiais e raros, como este que escrevemos agora. Ideia essa que vem acompanhada ao ouvirmos sobre como o Victor ficou feliz naquele momento. A alegria do garoto foi tamanha, que o Alcides deixou as canetas para que então ele também pudesse desenhar. Na semana seguinte foi exatamente o que aconteceu.
Antes que o tatuador pudesse ter um novo encontro, e fazer um novo desenho em Victor, ele faleceu na flor de seus 14 anos de idade. Lutou bravamente até o fim e com aquela alegria típica de quando somos crianças e todo o universo é um gigantesco playground. Alcides lembra saudoso que o garoto era muito querido.
Um dos desenhos que o Victor produziu naquela semana foi tatuado em seu tio depois de seu falecimento. Posteriormente Alcides também tatuou o pai do garoto. Percebem o quanto aquele momento foi poderoso?
Uma frase muito marcante que o tatuador disse na primeira publicação que vimos e repetiu em nossa conversa de hoje é a seguinte:
“A felicidade que proporcionei para ele, nem se compara ao que me trouxe de retorno.”
Muitas vezes com muito pouco, podemos melhorar muito a vida das pessoas. Atitudes simples, mas que enriquecem afetivamente falando esse mundo nosso. Aqui é aquele momento bem peculiar onde as marcas corporais – ainda que temporárias e efêmeras – alcançam os cantinhos mais frios do nosso coração. É como se quiséssemos apenas recolher todas essas pessoas em um abraço e, exatamente nesse abraço morar.
Nossos mais sinceros sentimentos aos familiares de Victor. Que essa história aqueça os nossos corações e inspirem tantas e tantas pessoas. Agradecimento especial ao Alcides pela atitude e por generosamente dividir essa história conosco. Escrever sobre tudo isso é ao mesmo tempo homenagear a memória de Victor e também de todas as pessoas que estão lutando brava e diariamente contra o câncer. Todo nosso amor para vocês.
Tenho muito orgulho de ter o Alcides Correa vulgo “Cidin” como tatuador.
Sensacional! Parabéns ao tatuador e meus sentimentos aos familiares e amigos do garoto!
Cidin é a única pessoa autorizada a desenhar na minha pele. Adoro o trabalho dele e a pessoa incrível e simples que ele é.
Tive a honra de conhecer esse ser iluminado, fui enfermeira dele por algum tempo. Realmente ele era muito especial. O pai dele foi de uma dedicação exemplar. Nunca esquecerei o Victor e o Sr. Carlos. Uma lição de vida.