No último 08 de Abril, a Walmart Johnsburg nos Estados Unidos publicou em suas redes sociais a foto de Christain, um funcionário com modificações corporais dizendo e agradecendo pelo ótimo trabalho realizado.
No Facebook, a publicação já passou dos seus 11 mil comentários e beira os 10 mil compartilhamentos. As reações e interações trazem um pouco de tudo, como qualquer publicação que ganhe a atenção pública nesse espaço eletrônico. Todavia, é inegável o impacto positivo que isso gera para as pessoas com modificações corporais diante de um debate antigo, que é a nossa exclusão do mercado de trabalho formal.
Certamente que ficamos felizes em ver Christain empregado, pagando as suas contas e vivendo a sua vida. Queremos e trabalhamos ao longo desses anos todos para que o mercado de trabalho seja menos excludente e discriminatório com algumas corporificações e subjetividades. Mas a crítica não pode estar em descanso. Não temos esse privilégio. Estamos falando da Walmart.
Existe um peso diferente quando temos uma pessoa com modificações corporais ou freak expondo, falando e comemorando a sua própria conquista em acessar o mercado de trabalho e quando uma grande corporação o faz. Pesos, medidas e intenções diferentes. Precisamos nos perguntar: ele queria isso? ele está confortável com isso? ele pediu por isso? como a decisão foi tomada? como o diálogo foi feito? houve diálogo? qual era a intenção? precisava? Outras tantas questões são possíveis. Estamos falando de Christain, mas podemos aplicar para toda e qualquer pessoa dissidente que esteja atuando no mercado de trabalho formal.
O sistema capitalista que explora Christain, eu e vocês que fazemos parte da classe trabalhadora, ora lucra e se beneficia com as nossas exclusões e a de grupos de pessoas historicamente marginalizados. Outrora lucra e se beneficia com a miragem da “inclusão” e da “diversidade” que é sempre uma maquiagem tosca do neoliberalismo para perpetuar a exploração e que não está preocupada e nem interessada em ir nas raízes dos problemas que perpetuam as desigualdades e injustiças sociais.
Estamos certas de que a imagem de Christain é utilizada pela corporação como uma forma de autocongratulação, algo como, “veja como somos benevolentes”, “somos uma empresa inclusiva” e essas baboseiras falaciosas todas que elas dominam bem. A corporação sabe que corpos como o dele não são – ainda hoje – bem vindos no mercado de trabalho formal, e que, dentro do sistema capitalista
paira uma suspeita de que ele não seja produtivo o suficiente. Ou pior, que produza insurgências.
Não precisamos e não podemos congratular uma grande corporação por estar fazendo o mínimo, isto é, não minar ou excluir pessoas por conta de seus corpos e subjetividades. Não há parabéns e nem tapinha nas costas pra eles. Não podemos aceitar tranquilamente ou com algum tipo de júbilo que essas grandes corporações sigam nos utilizando como propaganda de uma reparação histórica que eles não estão interessados em realizar. É miragem.
Walmart é uma corporação bilionária e não benevolente. Bilionários não deveriam existir. Fim.