Foto: Neobeck Benedito/Reprodução Facebook
Na manhã de hoje, 22 de Abril, morreu André Pomba, aos 59 anos de idade, depois de uma luta contra um câncer no estômago. Pomba foi DJ, músico, produtor, jornalista e agitador cultural muito ligado com a cultura underground, LGBTQIAP+ e da noite de São Paulo. Para nós, um grande aliado da comunidade freak.
Pomba guiou por muitos anos o Projeto Grind no clube Alôca, criando um espaço seguro em 1998 para que pessoas LGBQTIAP+ pudessem mergulhar no rock ‘n roll. Foi a primeira iniciativa do gênero em São Paulo. Os clubes e boates LGBTQIAP+ não abriam espaço para o rock e, por sua vez, o espaço do rock não era seguro para pessoas LGBTQIAP+.
Enquanto jornalista, para nós, os destaques do trabalho de Pomba estavam na Revista Dynamite e no próprio Grind Zine. Um zine de bolso que falava sobre o que acontecia no projeto, mas também trazia entrevistas e informações preciosas sobre a cultura underground dentro dos recortes das artes, música e comunidade LGBTQIAP+. Aprendemos muito nessas curtas leituras.
Pomba foi candidato para vereador (2016) e deputado federal (2014) pelo Partido Verde e, além de ser um dos poucos candidatos aberta e assumidamente gay, era um dos raros que pautava em seus projetos a área da tatuagem e do piercing. Trocávamos muito sobre essa questão, na época, e era sempre bonito sentir a sua preocupação e sua consciência muito firme sobre a defesa da autonomia sobre o próprio corpo.
“Sou um defensor intransigente das liberdades individuais e da autonomia sobre o próprio corpo. Dentro do Congresso, lutarei contra vários projetos que tramitam no Congresso para limitar as atividades de tatuagem, body piercing e modificações corporais. E me empenharei para que seja aprovado um projeto para proibir a discriminação de pessoas com tatuagens e piercings, principalmente em concursos públicos.
Ao mesmo tempo para proteger os bons profissionais, vou discutir com tatuadores e body pierciers, uma proposta de consenso para regulamentação da profissão e da atividade profissional a nível federal, evitando que Estados ou municípios restrinjam ainda mais essa atuação de forma unilateral.”
Andre Pomba, 2014.
Aliado da nossa causa, assinou o abaixo-assinado contra a o projeto de lei fascista que pede a criminalização do eyeball tattooing. Além disso, foi um grande apoiador na ocasião da publicação do livro A modificação corporal no Brasil – 1980-1990 de autoria da T. Angel. Ajudou e não foi pouco.
Algumas coisas a gente não mensura, mas o Pomba é muito importante para nossa história, dessa maneira imensurável mesmo. Embora a gente tenha o agradecido muito, nunca saberemos se ele teve a consciência do grau dessa importância. Na dúvida, registramos aqui.
Em 2006, quando decidimos que teríamos o primeiro encontro do FRRRKguys, foi o seu Dynamite pub que nos acolheu ali na Região de Pinheiros. E nos acolheu por muitos anos e festas depois. E quantas histórias e amores foram vividos naquelas saudosas e esquisitas noites.
Quando do nosso aniversário de 5 anos, em 2011, mais uma vez o seu espaço nos acolhia, ainda Dynamite só que em endereço novo, no Bixiga. O presente foi tê-lo discotecando para nossa gente freak. E como não poderia deixar de ser, foi memorável com aquele set clássico e que a gente sorria dizendo: Pomba está tocando.
Somos agradecidas demais por toda potência radiante com que o Pomba nos atravessou e marcou a nossa história. A sua vida mudou os rumos e os caminhos, abriu portas, destruiu paredes, fez pontes… Criou espaços para nossa gente existir e expandir a vida. E isso, e tudo isso, exige no mínimo uma preciosidade e brilhantismo ímpar. Você seguirá vivo em nós, Pomba, enquanto estivermos aqui…
Descanse em paz.
Obrigada por tudo! Obrigada por tudo!