Shrek é uma franquia de animações norte-americana que chegará a sua 5ª aventura no final de 2026. É voltada ao público infantojuvenil, mas pessoas adultas reacionárias e conservadoras (principalmente homens) não estão contente com o que foi apresentado em seu primeiro teaser.
Tudo começou com Shrek em 2001, e seguiu em 2004, 2007 e 2010. No meio disso tudo, muitas derivações do filme do ogro verde mais famoso da cultura pop em jogos, curtas, musicais e etc. Mas a verdade é que de 2001 para 2025 andamos para trás como nunca imaginamos ser possível. Temos o nazismo de volta e crianças morrendo de doenças que haviam sido erradicadas por meio de vacinas, como o sarampo e a pólio.
Adendo: Essas crianças que morrem, em sua maioria, estão nas mãos das mesmas pessoas que dizem que não podemos falar sobre sexualidade e gênero nas escolas porque precisamos “proteger as crianças”. Esses grupos só querem o direito de discriminar e odiar deliberadamente mesmo. Não é nada e nunca foi sobre proteção.
No universo de Shrek, que se iniciou nos idos de 2001, já vimos uma personagem trans, a Doris, lutando ao lado das princesas, o Pinóquio de calcinha, o Gato de botas chapado. E a crítica aos padrões estéticos hegemônicos pela figura da Princesa Fiona. Há muito mais ao longo das aventuras ogras. E há entretenimento para quem gosta de animações assim.
No teaser divulgado recentemente, aparece uma das filhas de Shrek e Fiona que é a Felicia. A atriz Zendaya é quem dará voz e vida a personagem. Zendaya é uma atriz cisgenêro, guarde essa informação.
Felicia utiliza um piercing nostril de argola em seu nariz verde. O adorno tem incomodado muito essas pessoas adultas conservadoras e reacionárias, em sua maioria, homens. Fala-se que o filme é woke e que quer lacrar por conta de um piercing. Com isso também levantam a hipótese de que a personagem seja trans, ou seja, o delírio de quem realmente não tem o que fazer da vida, não tem fim. Não faria sentido contratar Zendaya, que é cis, para representar uma personagem trans, no caso. Ainda que se trate de dublagem, a pauta sobre o transfake tem sido longamente debatida no cinema e artes do corpo de modo geral.
Desconhece-se – porque são ignorantes – que o body piercing é milenar e ancestral. E talvez se conhecessem essa história, diriam também que é lacração, sobretudo considerando a origem não branca e não exclusivamente ocidental.
Desconhece-se – porque são fazem parte da comunidade – que ter body piercing ou qualquer outra modificação corporal não é sinônimo de que a pessoa – ou ogra – seja progressista e sensível o suficiente para ver o mundo de modo crítico. Falamos de comunidade freak hoje, justamente porque não queremos estar na mesma mesa – ou balaio – que essa gente com modificações corporais com inclinação fascista ou que dizem ser “neutras”. Não existe neutralidade, já aprendemos com o professor Paulo Freire, que todas as pessoas são movidas por bases ideológicas, algumas inclusivas e outras excludentes.
Desconhece-se – porque são ignorantes, ressentidos e seletivos – o próprio universo de fantasia dos ogros, orcs, goblins, trolls na cultura pop, seja no cinema ou no game. Desconhecem Warcraft, Senhor dos Anéis, Bright, até a animação infantil Trolls, em que algumas personagens têm piercing, sabe? A fantasia e a ficção de modo geral adoram se enveredar pelo universo das modificações corporais.
Adendo: Inclusive, podemos e precisamos problematizar o uso do piercing (e outras modificações corporais) para delinear uma vilania ou radicalidade, que é um estereótipo comum e frequente, na indústria cultural e que violenta a nossa comunidade. Podemos e precisamos inclusive pontuar o viés racista na obra do Senhor dos Anéis em relação aos orcs, especificamente.
Voltamos ao tempo em que o piercing move o debate da opinião pública e que nos escancara, mais uma vez, o quanto andamos para trás, que a legião de imbecis da internet está incontrolável e que diante disso tudo, devemos emanar o mantra: não alimente os trolls, não os seres da fantasia e do fantástico, mas os que forma a legião de imbecis com internet e um equipamento eletrônico em mãos e nada, absolutamente nada, na cabeça.