Breno Faria do Café com teu pai é um redpill e influenciador digital. Sua conta no Instagram tem no momento que escrevemos este texto o total de 455 mil seguidores.
O termo redpill é uma deturpação da ideia da pílula vermelha apresentada no filme Matrix (EUA, 1999). Na ficção o personagem Morpheus apresenta ao protagonista Neo duas pílulas, uma azul e uma vermelha, esta última oferecendo a possibilidade de acordar para a realidade. Importante pontuar que o clássico do cinema foi dirigido por duas mulheres trans, as irmãs Lana e Lilly Wachowski.
Segundo o Politize!, “os redpillers afirmam que os homens perderam espaço ou poder social diante das conquistas femininas nas últimas décadas e, por isso, precisariam “despertar” para essa nova realidade e agir de forma estratégica para recuperar sua autoestima, autonomia e “posição natural” na sociedade“. Sustentando esse pensamento estão: o realismo social, masculinismo, críticas ao feminismo e dinâmicas de poder nas relações afetivas (cis-heteronormativas).
Retornando ao influenciador, que oferece cursos (ele chama de Masterclass, porque a autoestima do homem branco cis-heterossexual não tem limites) para mulheres serem mulheres na perspectiva recatada e do lar, leia-se submissa e explorada pelo patriarcado. Um dos cursos tem o valor médio de R$700,00, no entanto, a formação acadêmica do cidadão não aparece em nenhum lugar. Não se sabe se ele é psicólogo, terapeuta, se concluiu o ensino médio ou se é apenas um homem cisgênero, heterossexual, branco e sem deficiência com muita autoestima para achar que pode ensinar e estabelecer regras sobre o que uma mulher pode ser e precisa fazer.
Estamos trazendo esse caso para o FRRRKguys porque o influencer trata sobre mulheres com modificações corporais em um dos seus vídeos. Ele afirma que “mulher de cabelo colorido ou que se enche de piercing ou que tem um monte de tatuagem, tá dando um claro sinal de ausência paterna, é rebelde e quer chamar a atenção”. Não menciona estudo científico algum que apresente esses dados e trabalha na perspectiva daquilo que é pior do senso comum e estereótipo, mostrando que não apenas desconhece a história das mulheres, como tão pouco sabe algo sobre a história das modificações corporais. Ele é oportunista, desonesto e hipócrita, porque o influenciador em si tem o corpo todo tatuado: os dois braços fechados, a mão tatuada, o peito, a barriga e as pernas. Sobre as suas tatuagens, ele diz que que é só um desejo de ser “diferentão” e que acha que é um “jovem rebelde”. Na cabeça dele mulher tatuada é sinônimo de trauma freudiano, por sua vez, homem tatuado é o desejo de ser diferente, estilo ou qualquer coisa positiva que o valha. Em outras palavras, para ele mulheres não podem se tatuar e homens sim.
ADENDO: Jovem rebelde definitivamente é algo que o influencer não é. É apenas um homem cis – playboy – com algumas tatuagens e um pensamento reacionário e autoritário sobre mulheres (e não só elas).
A ideia de Breno Faria sobre mulheres modificadas não se diferencia em nada da visão do Rodrigo Constantino, ícone da extrema-direita brasileira. Em 2013 Constantino foi responsável por um linchamento virtual de uma mulher modificada como escrevemos AQUI. Os discursos de ódio são similares: “falta de surra”, “falta de carinho” e o clássico “desesperada por chamar a atenção”.
Além do sexismo machista com viés misógino e normativo compulsório, o influenciador é também racista com pessoas asiáticas. Em um dos seus vídeos ele interpreta um sábio chinês, se veste como o que ele entende que seja um mestre e fala tudo errado, trocando o R pelo L. É racista, mas quer passar a imagem de descolado, inteligente e engraçado. É racista!
No momento a comunidade da modificação corporal tem debatido muito sobre as violências contra as mulheres. É importante que esse tipo de pauta seja incluída na discussão, reflexão e ação. Verificamos que quatro pessoas que seguem o nosso trabalho no Instagram, seguem o dele também. Todas as 4 pessoas são modificadas, algumas trabalham com modificações inclusive. Se estamos trabalhando coletivamente no enfrentamento das violências contra as mulheres e buscando construir uma comunidade mais segura, esse tipo de influenciador redpill, misógino e racista não deveria receber o nosso apoio, pois sim, quando você segue uma figura como esta, você está apoiando e afirmando as barbaridades que ele diz e que lucra com isso.
Por essas e outras que repetimos tanto sobre a diferença entre a comunidade da modificação corporal e comunidade freak. Ele também tem o corpo modificado, mas nem por isso vai se sentar na mesma mesa que nós, porque o discurso dele prejudica a vida e gera efeitos catastróficos na vida de muitas mulheres.
Atenção com quem seguimos, atenção…
REFERÊNCIAS
O que significa o termo redpill?
https://www.politize.com.br/o-que-significa-redpill/
MACHO PALESTRINHA DÁ (E VENDE) LIÇÃO DE MORAL PARA MULHERES
https://www.youtube.com/watch?v=QLpgQsxNCjY