2º Censo Brasileiro de Suspensão Corporal – 2018

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2º Censo Brasileiro de Suspensão Corporal do Instituto Freak (IF) é uma iniciativa da plataforma FRRRKguys em parceria com o Grupo de Estudos Sobre Modificações Corporais (GESMC).

Buscou-se através dessa iniciativa conhecer um pouco mais sobre a prática e praticantes da suspensão corporal no Brasil.  A pesquisa realizada eletronicamente aconteceu de Fevereiro a Dezembro de 2018. O total de 49 pessoas responderam as questões e através dessas respostas conseguimos desenhar os resultados abaixo. Importante citar que o 1º Censo de Suspensão Corporal (2017) teve o número de 88 pessoas participando. A maior parte das pessoas que responderam o censo vivem em São Paulo, seguidamente por Minas Gerais, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Contamos também com uma participação de Buenos Aires, Argentina. Como a história da suspensão corporal no Brasil é bastante influenciada pela Argentina e vice-versa, é um dado que vem colaborar com a construção do presente material.

Confira abaixo os resultados detalhados:

Embora seja predominante a presença de pessoas cisgêneros (71%), é importante perceber que outras identidades de gênero – além do binarismo – aparecem no esquema. Foi percebido ainda que existe uma confusão do que é identidade de gênero e orientação sexual.

Assim como há uma diversidade significativa de gênero, existe uma diversidade sexual bastante relevante. Embora a maior parte das pessoas se declarem heterossexuais (42%), é importante perceber a quantidade de pessoas que se declaram bissexuais e demais variações. É um dado importante porque usualmente a bissexualidade é invisibilizada. É um dado importante saber que temos diversidade sexual dentro da comunidade da suspensão corporal, em um país extremante violento para população LGBTQ+.

Percebemos que a maior parte das pessoas que participaram do Censo têm ente 20 e 30 anos (66%). Todas as pessoas que participaram iniciaram na suspensão corporal depois dos 18 anos de idade. O que fica claro é que não existe uma idade limite, em outras palavras, a idade não é uma barreira para quem deseja praticar suspensão corporal. Consideramos apropriado que se espere os 18 anos afim de que a decisão em se suspender tenha passado por um processo de maturação.

A maior parte das pessoas (38%) que responderam o censo estariam dentro do que se entende, segundo o IBGE, por Classe D.

As pessoas que optaram pelo Outro, em sua maioria se identificam como pardas e mestiças.  Nós não utilizamos na pesquisa os termos moreno/mulato/pardo como opções na pesquisa por serem considerados termos racistas pelo movimento negro. Sobretudo por sugerirem “embranquecimentos” e “clareamentos” e sentidos pejorativos. O grande número de pessoas brancas (69%) deveria suscitar na comunidade da suspensão corporal uma reflexão crítica e profunda acerca das questões de etnia, raça e cor.

A maioria das pessoas (45%) que responderam a pesquisa declararam ter apenas o Ensino Médio completo. Cruzando essa informação com a profissão, percebeu-se que a grande maioria das pessoas que participaram do Censo atuam como profissionais da modificação corporal,
body piercers e da tatuagem. No entanto, existem estudantes, assistentes administrativos, professoras, artistas, biólogas, designers, videomakers e variadas tantas profissões.

A grande maioria das pessoas que responderam o censo não fazem parte de nenhuma religião. Muitas pessoas se declararam agnósticas e outras disseram que acreditam em uma força metafísica ainda que não esteja relacionada com religião alguma.

Ainda que não seja regra, um dos cuidados que muitos e muitas profissionais da suspensão corporal tomam e indicam é justamente com a alimentação. Algumas pessoas acreditam que cuidando da alimentação nas vésperas de se suspender é possível potencializar a experiência, sensações e sentidos. 

O preconceito contra a suspensão corporal ainda é muito forte, 94% das pessoas que participaram do Censo disseram haver preconceito social com a prática. Segundo os dados da pesquisa ele é bastante forte dentro das próprias famílias e ciclos de relacionamentos (amizade e amoroso), o que tem gerado briga, desconforto e violências. Muitas pessoas alegaram ser insultadas pela internet e algumas acreditam que podem ter o trabalho afetado. Há muitos casos de ofensas que partem de grupos religiosos, alegando que a prática da suspensão é ligada com algum tipo de adoração ao demônio ou possessão. A grande maioria das pessoas relatou que são chamadas de doentes mentais, o que é sobretudo uma tentativa violenta de patologização e uma forma autoritária de controlar o que o outro pode ou não fazer com o próprio corpo. Há uma grande associação também entre suspensão corporal com a uso abusivo de drogas. Há relatos também de que se espera que a pessoa se machuque seriamente praticando suspensão, ou seja, o desejo de que a pessoa que decida fazer uma suspensão corporal seja punida (ferida) por sua escolha. Segundo os dados, o preconceito se manifesta, sobretudo, pela ignorância e completo desconhecimento sobre a prática.

E para tristeza da turma que torce para que as pessoas se machuquem (sejam punidas), são raros os casos em que uma pessoa se machuque fazendo suspensão corporal. Embora a  prática seja considerada agressiva, violenta e arriscada, poucas pessoas alegam terem se machucado. O que indica que embora a prática seja segura (mais do que a maioria acredita ser), existe riscos e que podem ser intensamente reduzidos quando se procura um profissional capacitado para realizar a suspensão. Nunca faça uma suspensão corporal sem o devido acompanhamento profissional. 

Cada pessoa busca a suspensão corporal por uma motivação. A grande maioria ( 47%) decide se suspender como forma de autoconhecimento. A superação dos limites psicofísicos é um dos fortes motivos também. O mais interessante é que a maioria das respostas reforçam o quanto a suspensão corporal pode ser diversa e difícil de definir como sendo uma única coisa, tamanha sua complexidade. A maioria das pessoas dizem que a suspensão corporal alterou a forma com que elas sentem o mundo e olham para si próprias, outras dizem que tudo mudou depois de passar por uma suspensão. Grosso modo, o despertar da consciência corporal e o poder da mente aparecem de diferentes formas nas respostas e muitas delas apontam sobre um ganho de força, coragem e resistência. Ah! E o equilíbrio.

Em uma escala de 0 (pouca dor) a 10 (muita dor) para se entender quão dolorosa é a prática, a maioria respondeu como 3. E o máximo de dor que chegaram na escala foi 8. Essa informação quebra um pouco a ideia do senso comum que existe de que a suspensão corporal seja extremamente dolorosa e só ou a busca pela dor e só. Há algo de maior na prática. A dor da suspensão corporal existe, é parte do processo, varia de pessoa para pessoa e também com a posição escolhida. Segundo os dados da pesquisa, a posição mais popular e menos dolorosa é a chamada Suicide Suspension.  Algumas pessoas disseram que a Ressurection é dolorida. Mas nunca haverá um consenso, o que reforça que cada experiência é única e varia de pessoa para pessoa.

Esperamos que com essa pesquisa possamos nos conhecer – um pouco mais – enquanto pessoas que partilham uma prática secular de uso do corpo. Esperamos também que possa ser um material informativo e educativo para quem se interessa pelo assunto. E com isso, possamos ir desmontando gradativamente os – tantos – preconceitos que pairam sobre a suspensão corporal. Nosso mais sincero agradecimento para cada pessoa que participou do censo e nos ajudou na divulgação.

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