Que a suspensão corporal vem sendo – cada vez mais – apropriada pela mídia de massa já deixou de ser novidade. Também não é novo – na verdade já se tornou até um pouco desgastado – o estranhamento sobre a prática que essa mídia faz questão de frisar. Mostra-se tudo de maneira superficial, enquanto as pessoas que assistem se contorcem em seus lugares confortáveis e acabou o show. Na verdade há uma certa aparente necessidade de se mostrar como a massa rejeita a prática da suspensão, enfatizando essa posição com a repetição de imagens com as pessoas fazendo caretas e escondendo os rostos como crianças que têm medo do bicho papão. Nesse lugar midiático a suspensão ganha o status de “coisa estranha”, “coisa absurda” e/ou “coisa de maluco”. Grosso modo não passa disso, limitando talvez a inteligência ou capacidade de compreensão do público.
Nesse esquema, o reality America’s Got Talent esporadicamente tem levado para televisão um ou outro número de freak show. Não sei até que ponto é positivo para os artistas/pessoas, mas há quem goste, quem assista e quem consuma esse tipo de entretenimento. Esses programas normalmente têm uma coisa de ridicularização camuflada de humor que não nos agrada. O que parece não acontecer no âmbito da cultura de massa, visto o quanto a franquia lucra anualmente e se espalha pelos mais diversos países, chegando no Brasil pela Rede Record esse ano.
A República Tcheca e a Eslováquia também têm a sua edição e foi ela quem exibiu no ano passado uma demonstração de suspensão corporal. O CzechoSlovakia’s Got Talent levou a equipe do Suffering Guys para uma demonstração da suspensão através de um suicide de dois pontos. O programa exibiu o processo de perfuração, suspensão e deu espaço para que os convidados falassem, ainda que os jurados fizessem suas incansáveis caretas. Infelizmente não compreendemos o idioma e tão logo ficou impossível saber sobre o que falaram. A nossa sensação no papel de telespectador com conhecimento de causa é de um profundo esvaziamento da carga cultural, emocional e simbólica da prática. Tudo é muito cru.
A tendência é que isso logo aconteça pelo Brasil e acreditem, não vai demorar. Temos conhecimento que produtores do Qual é o seu talento? do SBT já rondaram alguns profissionais da suspensão nacional para ver a possibilidade de levar uma suspensão pra telinha. E a Rede Record que como falamos em breve vai ter o Brazil’s Got Talent também andou sondando profissionais para demonstrarem a suspensão. Mas atenção aos que toparem a jornada com a Record, cabe lembrar que a emissora vem tratando a prática da suspensão corporal, assim como das modificações corporais, com bastante ou total falta de respeito. Foi a Rede Record quem exibiu o terrível episódio da suspensão corporal que deu errado, resultando na queda da pessoa que estava suspensa e, que ficou conhecida mundialmente como Splash Suspension. Além disso, grande parte das matérias sobre body mods que a emissora produz acabam sendo replicadas no programa Fala que eu te escuto e consequentemente são descontextualizadas e recebem uma carga depreciativa, sendo colocadas e tratadas como marginalidade, desvio, patologia ou estabelecendo alguma relação com demônios, visto a posição cristã-conservadora do programa e da emissora em si. Cuidado com o contrato de permissão de uso de imagem, estejam certos do que estão assinando.
Sabemos que uma hora ou outra vamos ter essa situação e com ela o risco de ver bons profissionais sendo semi ridicularizados em rede nacional ou amadores fazendo um serviço sujo e mais uma vez manchando a imagem da prática da suspensão no Brasil. O lugar ideal seria que todos boicotassem a emissora pelo tratamento leviano das últimas décadas, mas sabemos que isso não aconteceria de fato. Ficamos aqui então esperando pelo que vem pela frente.
Não dá para chamar de freak show um programa que visa entreter um grupo depreciando outro, isso é outra coisa…
Confira abaixo o vídeo da suspensão que aconteceu no CzechoSlovakia’s Got Talent.