Africanidade, ancestralidade e o compartilhamento na vida e obra do artista Wild Wilde

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Fotos: acervo Wild Wilde
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“A felicidade só é real quando partilhada”
Christopher McCandless

Desenhar e pedalar são duas atividades que acompanham a vida de Wild Wilde, artista de São José do Rio Preto, interior de São Paulo.  Tanto é verdade que ele nos contou que não tem uma memória de algum momento em sua vida que estivesse desconectado do que ele chamou de duas artes. Ainda pensando sobre as constâncias na vida de Wilde, aparece fortemente sua conexão com a floresta, terra, índios, negros e, em suas palavras, “tudo que é de origem ancestral, culturas, povos, animais, plantas”… E é justamente sobre todas essas relações que nos propusemos a escrever.

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Conhecemos Wild Wilde durante a 1ª Semana de Arte Corporal de Rio Preto, realizada em Abril. O artista esteve ao longo do dia pintando na frente do espaço que promoveu o encontro, conforme fotos que fizemos lá e pulicamos agora aqui abaixo. Ficamos ali observando não só a produção do artista, mas tudo aquilo que o cercava e o nosso interesse só aumentou, tanto que agora rabiscamos essas linhas.

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O que de imediato captamos foi a forte presença da influência da cultura africana na produção de Wilde, o que não é muito comum – por mais contraditório que isso possa soar – dentro do campo da tatuagem e demais técnicas de modificação do corpo. O artista nos contou que a africanidade presente em sua obra – que como veremos não se dissocia em nada de sua vida – se deu de modo consciente e inicialmente através das aulas de capoeira, onde houve uma ponte até o universo do Candomblé. Relação que já passa dos seus 15 anos e onde Wilde diz permanecer como um curioso e estudante. Forçamos um pouco mais e questionamos o artista em como ele particularmente enxergava – especificamente dentro do campo da tatuagem – a presença da africanidade. Wilde nos respondeu que a tatuagem para ele “é origem ancestral da arte eu a vejo em todos os grafismos étnicos do mundo“, enfatizou.

Oxalá implorando aos pés de Oxum, ilustração que(Oxalá implorando aos pés de Oxum, ilustração de 2011 para o livro “Contos e Crônicas do Mestre Tolomi”.)

oxum 2010(Oxum, 2010)

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D'Obaluaê 2010(D’Obaluaê, 2010)

Elegun de Xangô 2012(Elegun de Xangô, 2012)

A partir desse universo de cosmovisão diversa ao mesmo tempo ancestral e futurista eu venho falando ao passo que absorvo o conhecimento em diversas artes”, diz o artista, que assim tem explorado as linguagens da tatuagem, grafite, ilustrações, telas, intervenções, aquarelas, aerografias, desenhos e a lista segue ultrapassando até mesmo as próprias linguagens, sendo transdisciplinar e indomável.

Em 2011 Wild Wilde teve a oportunidade de ilustrar cinco contos para um sacerdote iorubá. Além de ter produzido a capa de um doutorado de um pesquisador norte-americano. Ainda falando sobre o iorubá, o espaço onde abriga o ateliê do artista é denominado Oná Imó, que significa o caminho do conhecimento.

13514384_1119112471443736_925492601_n(Fotografia da Capa do livro “Contos e Crônicas do Mestre Tolomi”.)

13530464_1119112928110357_808627464_n(Detalhe do livro “Contos e Crônicas do Mestre Tolomi”.)

Os seus trabalhos já foram exibidos no Sesi, Sesc, shoppings, escolas, centro culturais e através de várias intervenções pelas ruas das cidades por onde ele tem caminhado. Além de estar nesse exato momento também em caminhada ao redor do globo, marcada feito tatuagem na pele de tantas gentes.

Falando sobre a pele e também reconhecendo a carência de conteúdos acerca da tatuagem em pele negra, buscamos ouvir os conhecimentos do artista sobre o assunto. Como profissional, nos contou Wilde, ele sempre procura aproveitar o máximo da própria pele na construção da arte. Disse ainda, que é preciso observar os diversos tons de pele negra, ser criterioso e criativo, pois nem todas as linguagens e cores existentes se aplicam a pele negra. “Aí a importância de conhecer, pesquisar e permanecer um estudante sobre a África e seus elementos visuais, grafismos, desenhos, estética para se realizar um trabalho que dialogue com a pele e se obtenha o melhor resultado“.

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Lúcido e consciente da importância da cultura para a sociedade, o artista disse em matéria do site Notícias do Bem que:

““Meu pai, Wilde, mesmo sendo uma pessoa muito simples, que nem chegou a completar o ensino fundamental, sempre teve uma sabedoria enorme e nos proporcionava acesso a livros, revistinhas de desenho, gibis e a música. Desde cedo, eu gostava de ler e esse acesso à cultura fez toda a diferença na minha vida”

 

Pensando além das artes e trabalhando pela democratização e compartilhamento da informação e no acesso à cultura, mais especificamente da literatura, ele criou a Geloteca, uma junção das palavras geladeira e biblioteca. Se apropriando de uma geladeira velha, ele cria um espaço para recebimento e distribuição de livros para a população. Tudo feito sem burocracia e gratuitamente.

13254330_1098383803516603_2240099287873898356_n(Até um par de sapato foi deixado na geladeira)

12990854_1077665405588443_1192081137928977075_n(Oná Imó, que significa o caminho do conhecimento)

A Geloteca funciona 24 horas por dia e sua logística de funcionamento é simples e, como dito acima, autossustentável. Os livros, revistas, gibis, CDs, DVDs são colocados na geladeira e todas as pessoas podem retirar o material que quiser, a hora que quiser, assim como fazer a sua contribuição através de doação. Manter a geladeira sempre cheia é importante, não por uma ostentação de excessos vazios, mas para que mais pessoas tenham acesso a diferentes publicações.

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A Geloteca fica localizada em frente ao ateliê do Wilde, que por dessas poéticas bonitas da vida, fica na Rua Machado de Assis, 266 e 268, nome do escritor brasileiro considerado o maior nome da literatura nacional, autor de clássicos como Dom Casmurro, Helena, Memórias Póstumas de Brás Cubas, etc.

Ainda sobre a Geloteca, na mesma matéria do Notícias do Bem, o artista diz que:


“Não é necessário fazer cadastro ou mesmo devolver o livro. A ideia é que o conteúdo seja passado para mais e mais pessoas. E o bom que aqui você encontra de tudo, uma variedade imensa de assuntos que vai da literatura, publicações didáticas, música ou até mesmo informativos sobre crenças e religião de todos os tipos.”

 

Ao que parece não só os livros estão sendo passados para frente, mas como a ideia em si. A ação tem sido multiplicada e servido como inspiração para outras pessoas, como o Valdecir Gerotto na cidade de Mirassol. Também o José Carlos Pontes, o Zé Galinha, decidiu transformar a geladeira velha em biblioteca em Rio Preto.

Em seu ateliê Wild Wilde desenvolve seu trabalho como tatuador, possui uma galeria de artes e promove outros projetos como Oficina de Artes Plástica e um grupo de estudo de Samba do Partido Alto que se reúne todas as segundas-feiras, às 19h20, para aprender, estudar e tocar o bom e velho samba.

Recomendamos que você acompanhe as atividades e trabalhos do artista através de sua fanpage e se possível pessoalmente. Valorizemos os artistas brasileiros. Laroiê!

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CONTATO
https://www.facebook.com/Wi7de-957644014288210/

 

REFERÊNCIAS
Geloteca disponibiliza livros gratuitos para toda a população
http://mirassolconectada.com.br/noticias/cultura-e-entretenimento/literatura/29-03-2016/geloteca-disponibiliza-livros-gratuito-para-toda-a/

Geladeiras velhas viram bibliotecas comunitárias
http://www.diariodaregiao.com.br/cultura/geladeiras-velhas-viram-bibliotecas-comunit%C3%A1rias-1.399486

Geladeira ganha nova função em projeto que disponibiliza livros gratuitos à população
http://www.noticiasdobem.com.br/listaprod/noticias-do-bem/geladeira-ganha-nova-funcao-em-projeto-que-disponibiliza-livros-gratuitos-a-populacao-categoria,1,176.html

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