Catarse: Uma história em quadrinhos busca alertar sobre os perigos da automutilação

Foto: divulgação

“Quando uma escola perde um estudante para o suicídio, a coisa vai além de uma carteira vazia dentro da sala de aula. Somos nós, falhando como sociedade.”
Projeto Por Enquanto

Se você olhar os pulsos de um adolescente, provavelmente encontrará pulseiras coloridas ou um relógio da moda. Talvez encontre um bracelete cheio de atitude ou uma fitinha do Senhor do Bonfim. Mas… talvez encontre cicatrizes fininhas, uma ao lado da outra. A cada cinco estudantes brasileiros, um já se cortou de forma proposital, pensando nisso, surgiu o Por Enquanto, que é um projeto de história em quadrinho que pretende falar sobre automutilação entre jovens. 

Vanessa Bencz, idealizadora do projeto, tornou público que quando tinha 13 anos se cortei de forma proposital pela primeira vez.

Lembro que eu estava na escola e havia acabado de receber meu boletim: tirara zero em matemática. Eu sabia que ia reprovar. Sabia que decepcionaria meus pais, já decepcionados com esta filha chamada de ovelha negra da família. Então, busquei meu estilete enferrujado no estojo de canetas e, sem pensar muito, cravei-o na pele do braço. Ficou uma cicatriz fininha e dolorida.
Na época, eu achava que merecia aquilo. Era a minha punição por ser uma burra, por ser uma vergonha. Eu merecia ter a pele machucada – era como eu me sentia por dentro.”

Você já ouviu falar em automutilação?
Automutilação é quando uma pessoa machuca o próprio corpo por querer, causando dor física para que isso, de alguma forma, diminua sua dor emocional. Em outras palavras, a automutilação está relacionada com algum tipo de sofrimento psíquico ou distúrbio emocional. 

Automutilação é um problema de saúde pública. As estatísticas mostram que o número de suicídio entre jovens de 10 e 14 anos aumentou 40% nos últimos dez anos. No Brasil o número tem aumentado de modo significativo. Algumas populações, de modo sintomático, estão mais vulneráveis ao suicídio, por exemplo, as pessoas trans*, lésbicas e gays. Sintomático pelo conhecido histórico processo desumanizador que essa população enfrenta.

É preciso, urgentemente, falar sobre automutilação nas escolas. Vanessa Bencz acredita que pode oferecer às escolas brasileiras uma ferramenta para isso, ou seja, combater a automutilação e ao mesmo tempo alertar sobre o suicídio. Você também pode colaborar, através de doações no Catarse para que o projeto se concretize.

Trouxemos esse assunto para o FRRRKguys por dois motivos:
1) Pois acreditamos na importância de se falar sobre a automutilação e suicídio, como parte de um processo de prevenção e educação;

2) Por saber – com base em vivência e pesquisa – que o discurso que pretende patologizar e criminalizar as práticas de modificação do corpo – tatuagem, body piercing, escarificação, implantes – se debruça na ideia de que o que nós fazemos com os nossos corpos é o reflexo de um processo de automutilação, o que é um gigantesco equívoco.  Importante ter bem claro que a automutilação faz parte de um processo de sofrimento psíquico, muitas vezes ligado com a depressão. A modificação corporal – que sim, inclui a realização de cortes feitos propositalmente – é uma prática cultural e um fenômeno social presente em diferentes espaços e tempos e que pode estar relacionado com: a construção da identidade de uma pessoa; a subjetividade de cada pessoa; e ainda, podendo fazer parte de crenças religiosas, místicas e de conexão com o sagrado; 

É muito importante ter a sensibilidade em separar uma situação da outra, o que é facilmente identificável, até mesmo para que a nossa ajuda seja efetiva e não apenas uma forma de reprodução cínica de preconceito e julgamento moral. 

 

 

APOIE O PROJETO:
https://www.catarse.me/porenquanto

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