Entrevista Muse From Hell

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Body piercer, modelo, performer, hostess, maquiadora, massagista e tantas outras competências numa única mulher. Muse From Hell, fala um pouco pra gente sobre sua relação com a modificação corporal e sua trajetória nesse universo.

Um corpo admiravelmente em constante metamorfose e com uma mente brilhante. Acompanhem na entrevista abaixo!

T. Angel: Quando e como você inicia o seu processo de modificação corporal?
Muse from Hell: Meu processo iniciou-se com 19 anos como reações à expressões reprimidas. Depois, as modificações tornaram-se registros de fatos e aprendizados marcantes, intenções futuras ou construções de uma mitologia pessoal, através de símbolos, ícones ou personificações.

T. Angel: Quando você começa atuar profissionalmente como piercer?
Muse: Em 2003, depois de uma viagem de dois anos por alguns países (Japão, Tailândia, China, Índia, Espanha, Portugal, Alemanha, México, Guatemala, Honduras, Nicaragua, Costa Rica, Panamá, Colombia, Equador, Perú e Bolívia) em que fiquei fascinada pelas diferentes culturas, cerimônias, rituais e artes corporais.
Decidi me dedicar à arte de ornamentar as pessoas e auxiliá-las em seus processos de construção de identidade visual.
Então fiz cursos de body piercing básico e avançado, anatomia, fisiologia da pele, cinesiologia, primeiros socorros, biossegurança e controle de infecção, pratiquei bastante e comecei a atuar.

T. Angel: Conte um pouco da experiência em trabalhar no filme “Encarnação do demônio” do Zé do Caixão?
Muse: Foi uma experiência marcante!
Minha boca foi suturada sem anestésico numa cena no purgatório (as caretas de dor não foram interpretadas). Rogério Miranda (Legume) realizou o Lip Sewing com o uso de luvas cirúrgicas, fato ironizado pelos críticos devido à ambientação do filme, porém elogiado pelos profissionais de modificação corporal. No final da gravação, José Mojica Marins agradeceu pessoalmente ao elenco e, ao contrário de Zé do Caixão, rogou bençãos a todos.

T. Angel: Vimos alguns trabalhos que você realizou como modelo. Existe um mercado para isso? Se sim, o que esse mercado espera de uma modelo “freak”?
Muse: Existe mercado para perfis e estereótipos. Conheço modelos modificados padrões que tem bastante trabalho. Eu sou um modelo a não ser seguido: dificilmente procuram para um trabalho comercial alguém com todas as minha características.
Surgem apenas propostas de trabalhos artísticos independentes, normalmente mal ou não remunerados. Para se ganhar dinheiro, é necessário caber dentro de um rótulo.

T. Angel: Tatari Gami é um projeto musical do qual você faz parte. Conte um pouco sobre o projeto:
Muse: Tatari Gami é o nome de um demônio da floresta vingativo e destrutivo. Do mesmo modo, a banda trata com o mesmo instinto visceral, temas como relacionamentos humanos e a relação do homem com seu meio.
É um projeto que tem raízes no Industrial e EBM, mas também tem elementos de Heavy Metal, Punk Rock, Mangue Beat e World Music.
Começou em 2006 como um projeto solo de Helldrigo. Em 2008 fui convidada para ser vocalista e depois passei a contribuir com idéias e referências.
Os shows do Tatari Gami são conhecidos pela forte caracterização e performance dos integrantes no palco.

T. Angel: Previsão para algum show ao vivo?
Muse: O próximo show será nesse domingo, 05 de setembro · 18h30 na Via Underground no Rocker Club – R. Augusta, 901 –
Lista: tatarigami@ymail.com R$ 8 (Mulheres Vip até 19h).

T. Angel: Lip sewing, suspensão corporal, play piercing e outros “jogos corporais” como o Shibari, o que você busca com essas práticas?
Muse: O Lip Sewing e o Shibari são um reprodução potencializada da sensação de impotência e do estado limitante da existência física, a fim de estimular reações.
Os Plays Piercings são mais discontraídos, mas servem para confrontar a idéia da sacralidade e intocabilidade do corpo. Concomitante e antagonicamente, relembram o milagre da regeneração física.
As minhas Suspensões foram rituais, em momentos significativos da minha vida e com a finalidade de transcender alguns limites. A primeira foi um Super-Woman, um rito de passagem no começo do Retorno de Saturno. A segunda foi um Suicide de um gancho em um momento de desapego à velhos conceitos e a terceira foi um vertical pelo peito no dia de meu aniversário que finalizou um ciclo.

T. Angel: A suspensão corporal ainda hoje é um tabu em nossa sociedade, assim como a nudez. Em todas as suas suspensões você esteve nua, existe alguma discussão através disso?
Muse: Cada Ser ao nascer em uma sociedade, está sujeito a suas leis, regras, normas, tabus, conceitos, costumes e tradições.
Estar suspensa nua é estar livre de todo esse peso da hetero-regulação.
As minhas suspensões não foram públicas, assim como não sinto necessidade de enfrentar, provar ou explicitar minha não submissão aos moldes sociais. É apenas um memorial de quem eu realmente Sou.

T. Angel: O que você pensa sobre o cenário da modificação corporal nacional?
Muse: Assim como todos os cenários, tem um pouco de segregação, rivalidade e guerra de egos, mas também tem união, organização e solidariedade. Acho que a quantidade de adeptos e profissionais responsáveis e competentes é bem significativa aqui no Brasil.

T. Angel: Deixe uma mensagem para todos que nos lêem:
Muse: Julgamentos e intolerância a tudo que é diferente, infelizmente são comportamentos presentes em quase todos os grupos sociais em diferentes escalas, mas que se levados ao extremo, podem levar a resultados como o holocausto!

CONTATO:
E-mail: milzek@hotmail.com
www.myspace.com/tatarigami

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