Foto: Sauntering / divulgação
O quanto você conhece sobre a história da modificação corporal do Brasil? Essa é a pergunta que tem inquietado o FRRRKguys, considerando que pouco conhecemos sobre as histórias e personagens que habitam regiões além do eixo São Paulo e Rio de Janeiro. Assim, afim de retirar as pedras que foram postas sobre o assunto, partimos literalmente para a estrada para documentar em vídeo um pouco do que já aconteceu e do que vem acontecendo no que se refere aos variados usos do corpo e a nossa primeira parada foi em Belo Horizonte, Minas Gerais.
(T. Angel conversando com o tatuador Miguel Santos)
Sauntering é a nova produção do FRRRKguys e surge da parceria de T. Angel com César Pessoa, que assinam a direção da primeira temporada do filme. A iniciativa é independente e é importante sublinhar isso. O título do filme – que diz muito sobre a posição e intenção que move o projeto tal qual as pessoas que o idealizaram – foi retirada do ensaio “Caminhar” de Henry David Thoreau (1817-1862), autor do clássico Desobediência Civil. O filósofo estadunidense apresentou em seu texto que sauntering é:
“(…) palavra esplendidamente derivada de “pessoas vadias que erravam pelo país, na Idade Média, e pediam esmola sob o pretexto de irem à “la Sainte Terre”, à Terra Santa, até as crianças exclamarem “Lá vai um Sainte-Terrer”, um “Saunterer”, um da Terra Santa. Os que nunca vão à Terra Santa nas suas peregrinações, como pretendem, são, em verdade, meros vadios e vagabundos; mas os que lá vão ter são “saunterers”, no bom sentido que tenha em vista. É certo que alguns derivariam a palavra de sans terre, sem terra ou pátria, o que, portanto, no bom sentido, significará – não tendo pátria determinada, mas igualmente tendo sua pátria em toda parte. Pois este é o segredo do vitorioso “sauntering”.”
Desde que começamos os primeiros diálogos sobre a construção do projeto, pensamos em desbravar as pesquisas das modificações corporais em diferentes territorialidades. Assim, o filme que se pretende construir alia o nomadismo de práticas culturais não usuais ou contraculturais em uma perspectiva próxima do que se configura como documentário. Contar sobre histórias através das arquiteturas espaciais e dos corpos de cada região é ao mesmo tempo buscar entender como essas relações se construíram e se constroem historicamente.
Como os corpos com modificações corporais são ainda vistos – em sua maioria – como corpos vadios que erram pelos países afora, com a plena consciência de que vivemos tempos obscuros principalmente nos assuntos acerca do corpo – que em muitos momentos nos atiram para a Idade Média e se assumindo como um projeto independente e assim, esmolando para a construção da ponte que nos levará para o que entendemos – dentro de nossas perspectivas de vida e de mundo – aquilo que seria a Terra Santa ou podemos chamar, a construção de um mundo acessível e menos violento para todas as pessoas.
Também nos apropriamos da própria derivação da palavra Saunterer, que de um lado pode ser de Sainte-Terrer (um da Terra Santa) como de outro de Sans Terre (sem terra ou pátria). Uma vez que buscamos trabalhar com a noção de nomadismo e entendendo a urgência do combate das xenofobias e racismos velados ou escancarados, nos assumir como um filme que não está fixo em terra alguma é também um posicionamento crítico do mundo em que nos inserimos e do mundo que pretendemos colaborar para a construção.
As filmagens da primeira temporada de Sauntering já foram concluídas, a expectativa é que o material já esteja disponível no canal do Youtube do FRRRKguys em Novembro. Acompanhe a fanpage do projeto para receber todas as atualizações que virão daqui para frente.
1 thoughts on “Nova produção do FRRRKguys busca conhecer a história da modificação do corpo ao redor do Brasil”