Remoção de orelha, pigmentação dos olhos e outras conversas com Bruno Palhano

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Fotos: acervo Bruno Palhano


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Durante esses dez anos de estrada, o FRRRKguys tem tentado mostrar que existem incontáveis formas de modificar o corpo. Nas mais diversas sociedades e nos mais distintos tempos. Algumas técnicas são amplamente difundidas e vendidas como se fossem “naturais”, quando na realidade todas fazem parte de um longo processo de construção que é social e histórica, como afirmam estudiosas e estudiosos da antropologia do corpo. Não é verdadeira a ideia do natural quando pensamos técnicas que modificam o corpo humano. No entanto, não é só o corpo que passa por uma construção social, mas como enxergamos os corpos – nossos e dos outros – também. Assim, gostar ou não, achar bonito ou não, achar grotesco ou não e todas as sensações que existem nos espectros dessas posições passam por essa construção e são embebidas ainda por um discurso da ordem moral.

Nós temos um ponto de vista sobre modificações corporais e cada um de vocês que estão a nos ler agora, outro. Podemos concordar em alguns momentos e outros não, o que é completamente sadio e importante para o desenvolvimento de toda a sociedade que promove a alteridade e tenha uma perspectiva democrática. Só a diversidade salva e isso abarca ter posições e crenças que divergem. O que não nos faz inimigas e inimigos – ou não deveria fazer -, só discordamos sobre alguns assuntos e que bom. O que não podemos concordar e o que não podemos aceitar passivamente é que essa divergência contribua para a perseguição e/ou extermínio de pessoas. Pessoas, é disso que tudo se trata…

Esta entrevista é com uma pessoa de verdade. Aqui trazemos um diálogo no qual ela expõe o que pensa sobre o seu corpo e a relação deste com a sociedade. Novamente, o entrevistado fala sobre o seu próprio corpo, sobre aquilo que  ele é e sobre o que acredita. Se você acha que não tem a maturidade suficiente para lidar com as questões que o título aponta – amputação, pigmentação do globo ocular, etc -, e sobretudo, respeitar a experiência da pessoa entrevistada- assim como espera ser respeitada e respeitado -, talvez esse não seja um material adequado para você.

Bruno Palhano, um jovem body piercer do Sul do Brasil, muito cordialmente nos recebeu para uma entrevista em que fala sobre suas experiências com as modificações corporais. Nós agradecemos publicamente por sua atenção e generosidade em compartilhar suas vivências.  Boa leitura para todas, todos e todes vocês!

T. Angel: Muito se fala sobre modificação extrema. Gostaria de saber o que pensa sobre essa expressão.
Bruno Palhano:
Modificação extrema! As considero como extremas quando você realmente modifica uma parte de seu corpo. Tattoos e piercings pra mim não são modificações extremas. Pra mim são apenas adornos… Alguns com pouco, outros com muito. Gosto de falar sobre modificações extremas. Acho que estamos criando um novo ritmo à humanidade. Digamos que uma nova espécie. A cada dia que se passa nos preparamos para sentir algo novo e maior que o anterior, isso me referindo a dor. Queremos sempre mais e isso é sempre a busca da superação tanto carnal como mental… Fora o preconceito.

13595549_973621212751621_1180436814_n(Bruno Palhano antes de algumas modificações corporais)

T. Angel: Qual a modificação que exigiu mais de você física e psicologicamente falando?
Bruno Palhano: Sem dúvidas a última, que foi a remoção de um membro.

13595467_973621739418235_390190023_n (1)(Após a remoção da orelha)

T. Angel: Você tem os olhos pigmentados. Gostaria de saber se teve sua saúde ocular prejudicada, se está ficando cego…. O que mais pode dizer sobre?
Bruno Palhano: A pigmentação dos olhos hoje ainda encontra alguns tabus. Não podemos garantir que daqui a dez anos não enfrentaremos algum problema. O procedimento foi simples e carinhoso. risos
Se eu tivesse quatro olhos pintaria os quatro. Hoje após quase um ano já com o procedimento, continuo com a visão perfeita. A única coisa que mudou é quando fumo muita maconha. Por conta da dilatação dos vasos sanguíneos do globo ocular, acho que agora como tem a tinta ocupando todo o espaço entre o globo e a esclera, eu sinto uma pequena pressão nos olhos. E em seguida uma dor de cabeça! risos
Aprendi a fumar menos, assim então evitando as dores… Fora isso tudo perfeito.

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T. Angel: Você passou por um procedimento de remoção de orelha. Conte para gente qual foi sua motivação para realizar o procedimento?
Bruno Palhano: Não tive uma motivação para a remoção. Como citei antes acho que é a evolução e me senti na necessidade de fazê-la. Eu tenho interesse em saber como é o procedimento, o que se sente nessa hora e o que vou sentir depois. Acho interessante ir contra todos os princípios, já que quando “cortei a língua eu ficaria mudo, pintar os olhos me deixaria cego, e amputar uma orelha me deixaria surdo“… MENTIRA!
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T. Angel: Você me contou que não poderia citar o nome do profissional que fez o procedimento. Nós sabemos o motivo, mas queremos deixar a informação clara para as pessoas que nos leem e que não estejam cientes dessas situações. Por qual motivo não se pode contar?
Bruno Palhano: Existem N motivos para que o nome do profissional não seja citado em público. O mais forte e ignorante de todos é que somos proibido por lei de praticar esse tipo de mudança corporal em estúdios. Isso implicaria aos invejosos em cima do grande crescimento dele a denúncia. Infelizmente existe esse tipo de escrotisse em nosso meio.

13599692_973634099416999_1600732825_n(Pós procedimento já cicatrizado)

T. Angel: A gente percebe que a autonomia sobre o próprio corpo está muito longe de ser uma realidade no Brasil. O que pensa sobre esse assunto?
Bruno Palhano: A hipocrisia e a falta do que fazer é grande no povo brasileiro. O brasileiro gosta de falar da vida dos outros, porém nunca da sua. O giro de capital também conta. Jamais pagaria 50.000 mil por um procedimento em um estúdio. Se eu pedisse para um cirurgião que me fizesse a remoção, não sairia por menos de 50.000 mil reais. Já que um simples procedimento de silicone nos seios sai a 10.000 mil. Conta também que existem estudos até então comprovando os prós e os contras de um procedimento desse porte. Até então a concha da orelha é uma barreira onde as ondas sonoras batem e assim por sua vez são encaminhadas até o aparelho auditivo. Bom, eu fiz a remoção completa da concha e não há mudança alguma na minha audição. Gente, ninguém vai deixar de viver porque perdeu uma perna. Imagina se vai deixar por conta de uma orelha ou um dedo. Nós somos os novos testes para entender mais sobre o corpo humano.



T. Angel: Voltando a falar de sua orelha. Você removeu apenas uma, por qual motivo?
Bruno Palhano: Então, a intenção inicial era a remoção parcial do dedo anelar esquerdo. Isso passou pela minha cabeça há 2 anos, após esses dois anos de estudos em cima da técnica, recebi a notícia de que um dedo ainda seria difícil, porém uma orelha estava mais fácil. Aí então comecei a trabalhar a ideia durante um mês. Foi o tempo que levei conversando com alguns bons nomes que fizeram a remoção. Minhas perguntas foram das mais frequentes. Então me senti pronto e determinado para encarar este desafio. Foi feito em apenas uma porque tenho outros planos para a direita. risos
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T. Angel: Como foi o pós?
Bruno Palhano: Por incrível que pareça agi como se fosse um simples machucado. Acredito que nosso corpo trabalha sobre nossa mente e nada daria errado se eu esquecesse dela. Foram vinte e poucos pontos, alguns remédios básicos anti-inflamatórios e 7 dias depois já estava fazendo a remoção dos pontos. Pouco inchaço e bem pouca dor. Se não fosse planos diferentes, certamente eu removeria a outra parcialmente também.

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T. Angel: Você sente que alterou de alguma forma a sua audição?
Bruno Palhano: Jamais! Foi algo que pensei muito e a única coisa que me deixou ansioso, se eu realmente não sofreria alterações. Tudo ocorreu perfeito e continua sendo.

T. Angel: Conte para gente quais seus planos para futuras modificações?
Bruno Palhano: Futuras modificações, uhmm… QUERO MUITA COISA! risos
E elas estão por vir. A que me deixa mais ansioso ultimamente é a bifurcação peniana. É um próximo passo e que já está a caminho. Quero muito completar esse novo ciclo. Espero que consiga até o fim deste ano.

 

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