The 100: série explora o universo das modificações corporais

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Nyko e Indra. Foto: reprodução / Google

Temos a ideia de que as melhores produções, da grande indústria do audiovisual, que trataram sobre as modificações corporais, são aquelas que não assumiram a temática como assunto principal. Todas as outras, isto é, as que partiram das modificações corporais para o desenvolvimento de seus respectivos roteiros, cometeram a grande falha de sempre encaminhar o assunto para a vilania, patologia, psicopatia ou aquilo que é mau ou aquilo que precisa ser corrigido, reforçando assim todos os estereótipos possíveis e imagináveis sobre uma determinada população e prática cultural. 

Recentemente escrevemos um texto sobre a popularização da tatuagem em séries, a exemplo de Teen Wolf (EUA, 2011). Agora escreveremos sobre The 100 (EUA, 2014), que em suas quatro temporadas, tem ido muito além da tatuagem. 

The 100 (pronuncia-se The Hundred) é uma série de televisão norte-americana desenvolvida por Jason Rothenberg, transmitida pela emissora The CW desde 19 de março de 2014. No Brasil, a série foi exibida pela MTV Brasil, e agora é exibida pela Warner Channel e conta com duas temporadas na Netflix. É baseada no livro homônimo The 100 (2013), o primeiro de uma série de Kass Morgan. No Brasil a obra foi publicada como The 100 – Os escolhidos pela editora Galera Record.

A sinopse de The 100 diz que:

A série se passa 97 anos após uma guerra nuclear devastadora que dizimou quase toda a vida na Terra. Os sobreviventes conhecidos são os moradores de doze estações espaciais em órbita da Terra, que já viviam nesta antes do fim da guerra. As estações espaciais se uniram para formar uma única estação, chamada “Arca”, onde cerca de 2,400 pessoas vivem sob a liderança do Chanceler Jaha. Os recursos são escassos e todos os crimes, não importando sua natureza ou gravidade, são puníveis com a morte por ejeção ao vácuo (“flutuante”), a menos que o autor do crime seja menor de 18 anos. Depois dos sistemas de suporte de vida da Arca serem encontrados falhando criticamente, 100 prisioneiros juvenis são declarados “dispensáveis” e enviados para a superfície em uma última tentativa de determinar se a Terra é habitável novamente em um programa chamado “Os 100”, do qual a série recebe o nome.

Os adolescentes chegam em um belo planeta que eles só têm visto do espaço. Era suposto que eles encontrassem refúgio e suprimentos em uma antiga instalação militar chamada Mount Weather, mas aterrissaram um pouco distantes dela. Confrontando os perigos deste mundo novo acidentado, eles lutam para formar uma comunidade experimental. No entanto, eles descobrem que nem toda a humanidade foi exterminada; algumas pessoas na Terra, chamados de “Terrestres“, sobreviveram à guerra, e ainda há mais perigos à espreita – Ceifadores (terrestres que se tornaram canibais) e “Os Homens da Montanha“, que vivem na base onde os jovens deveriam ter aterrissado.

Os 100 jovens enviados encontram vários sobreviventes da guerra nuclear. Os primeiros sobreviventes encontrados, vivem em uma forma de sociedade tribal e guerreira, e dispostos a defenderem seu território se tornam hostis. Enquanto isso, a “Arca” tenta monitorar os sinais vitais dos 100 enviados para descobrir se a terra é habitável, mas passa uma crise política interna, que se agrava conforme seus recursos de sobrevivência se tornam escassos. A descoberta se a terra é habitável e uma possível evacuação torna-se uma corrida contra o tempo, assim como a luta por sobrevivência dos 100, já em guerra com os “Terra-Firmes”.”

Apresentação feita, falemos um pouco sobre The 100. Um termo muito utilizado na série é clã, é assim que as populações se identificam e se dividem, somando um total de 12 (na verdade 13, contando com o povo do céu). A Comandante, o mais alto posto na hierarquia, é quem lidera todos os clãs contando com um diálogo com seus respectivos embaixadores. Embora nem todos apareceram ainda nas quatro temporadas, são eles: Trikru (Woods Clan), Azgeda (Ice Clan), Floukru (Boat Clan), Sankru (Desert Clan), Yujleda (Broadleaf Clan), Delfikru (Delphi Clan), Trishanakru (Glowing Forest Clan), Ouskejonkru (Blue Cliff Clan), Podakru (Lake People), Ingranronakru (Plains Riders), Boudalankru (Rock Line Clan) e Louwoda Kliron (Shadow Valley Clan).

Já que falamos que a Comandante é quem lidera todos os clãs, se faz importante destacar o protagonismo feminino na série, composto por importantes mulheres como guerreiras, comandantes, líderes e cientistas. São elas que movimentam a estória. 

Falemos agora sobre as modificações corporais presentes na trama. As tatuagens pretas fazem parte da cultura da maioria dos povos, principalmente no Trikru (Clã da Floresta). Os desenhos geométricos nos remetem aos tribais – muito populares no ocidente na década de 90 – e também aos desenhos do povo maori.

Indra tem um lado do rosto tatuado e o outro escarificado. Foto. reprodução / Google
Nyko e Lincoln. Foto: reprodução / Wikia
Nyko com suas tatuagens faciais. Foto: reprodução / Google
Gustus com várias tatuagens faciais. Foto: reprodução / Google

O cuidado com a tatuagem tem sido realmente grande, para se ter noção da proporção, na segunda temporada foi apresentado um desenho no braço de Lexa (A Comandante) e no episódio três da terceira temporada, o desenho havido sofrido uma alteração, foi ampliado. Uma das escritoras da série, Kim Shumway, quando questionada sobre essa mudança, respondeu que Lexa se tatuou nos últimos três meses e que as razões ela deixava por conta de nossa criatividade. 

Resposta de Kim no Twitter.
Tatuagem de Lexa na segunda temporada. Foto: reprodução / Google
Tatuagem de Lexa na terceira temporada.

As escarificações – presentes em igual medida que a tatuagem – fazem parte do processo de identificação dos clãs. Principalmente entre os Azgeda (Clã do Gelo) as escarificações aparecem nos rostos em grandes figuras geométricas.

Rainha do Gelo com escarificações na face. Foto: reprodução / Google
Rainha do Gelo com escarificações na face. Foto: reprodução / Google
Ontari do clã do Gelo. Foto: reprodução / Google

Além dessa escarificação desenhada, existe as marcas da morte, guerreiros e guerreiras a fazem em seus corpos por cada morte em batalha, normalmente nas regiões dos ombros, peito ou costas. No extra “Criando o mundo de The 100 – grounders, reapers and mountain mens‘ que acompanha DVD, Jason Rothenberg – diretor executo da série – afirma que eles de fato marcam o corpo por cada morte. 

A presença dos Ceifadores (reapers) sublinha o mergulho que foi feito na pesquisa no campo das modificações corporais. São os únicos que usam piercings faciais, correntes ligando as perfurações e implantes (que podem ser lidos dentro da categoria subdermais). Esse grupo na série representa os inumanos, são canibais e vendem os terrestres em troca de comida (os próprios terrestres) e droga. 

A droga vermelha é moeda de troca. Foto: reprodução / Google
Um ceifador. Foto: reprodução / Google

No extra do DVD é digno de nota a fala da figurinista Katia Stano explicando toda construção que foi feita e a importância do vestuário para composição da trama e frisa mais de uma vez sobre o uso de peles falsas na composição dos figurinos. Já as pessoas responsáveis pela maquiagem, Tanya Howard e Amber Trudeau, contam que o interesse em incluir piercing, tatuagens e implantes nos Ceifadores partiu de Jason Rothenberg.

Abaixo mais algumas imagens das personagens que carregam modificações corporais. 

Lexa apresenta tatuagem nos braços, nuca e costas. Foto: reprodução / Google
Indra e Roan. Foto: reprodução / Google
Octavia e Lincoln. Foto: reprodução / Google
Emori é uma nômade que apresenta tatuagens faciais. Foto: reprodução / Google

A série tem muitas nuances e tem recebido crítica positiva de público e mídia especializada. Questões filosóficas que rondam o campo da moral e da ética estão pulsando ferozmente em cada episódio. Destaca-se ainda, além do protagonismo das mulheres, a diversidade étnica no elenco e também a diversidade sexual. Há de se dizer que a protagonista da série é bissexual, há um casal gay e outras personagens lésbicas.  The 100 tem falado sobre modificações corporais de uma forma interessante e inspirado muitas pessoas ao redor do mundo a reproduzirem fragmentos de suas estórias em seus corpos. Aguardemos as próximas temporadas.  

Para finalizar, soma-se ao elenco a presença de Russ Foxxbody modifier canadense – como um ceifador. 

Russ Foxx como um ceifador. Foto: reprodução / IMDB

 

 

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