Foto: Artu Nepomuceno/Vogue Filipinas
“Aclamada como a última mambabatok de sua geração, ela imprimiu os símbolos da tribo Kalinga – significando força, bravura e beleza – na pele de milhares de pessoas que fizeram a peregrinação a Buscalan”
Vogue Filipinas
É comum, quando se pensa a história da tatuagem, que a primeira imagem que apareça seja a de um homem cisgênero, heterossexual, branco e jovem. Dentro da configuração do nosso sistema, inclusive considerando o movimento de quem conta e de quais histórias merecem ser contadas, é assim que tem sido. Estamos pensando aqui a tatuagem, mas sabemos que é uma configuração (patriarcal, cisheteronormativa, etarista e da branquitude) que impacta a história de todas as coisas.
Em uma escolha, pouco comum, a revista Vogue Filipinas trouxe em sua capa uma mulher tatuadora. Que não é branca e nem jovem e, com uma potência muito singular, que nos faz olhar para o que temos feito e nos ensina sobre o que podemos fazer para nossa comunidade da modificação corporal e freak.
Apo Whang-Od, também conhecida como Maria Oggay, com seus 106 anos de idade é a estrela da capa da revista Vogue de Abril. Começou a fazer tatuagens – sem máquina com a técnica hand-tapping – na adolescência, seguindo orientações de seu pai. Vivendo no vilarejo montanhoso de Buscalan, cerca de 15 horas ao norte de Manila, na província de Kalinga, ela é considerada a mambabatok – ou tatuadora tradicional de Kalinga – mais antiga do país. É a tatuadora viva mais antiga do mundo!
Uma vez, as tatuagens feitas à mão que Whang-Od cria usando apenas uma vara de bambu, um espinho de um pomelo, água e carvão, foram conquistadas por guerreiros indígenas Butbut. Ao longo de sua história tatuou mais mulheres do que guerreiros. Agora, visitantes internacionais que buscam seus desenhos geométricos exclusivos compõem grande parte de sua clientela.
A arte só pode ser passada para parentes de sangue, e Whang Od treinou suas sobrinhas-netas Elyang Wigan e Grace Palicas por vários anos. Como a própria publicação diz, a cultura sobrevive com representação, não apropriação.
A editora-chefe da Vogue Filipinas, Bea Valdes, disse que a equipe da publicação decidiu unanimemente que Whang-Od deveria ilustrar a capa. “Sentimos que ela representava nossos ideais sobre o que há de belo em nossa cultura filipina. Acreditamos que o conceito de beleza precisa evoluir e incluir rostos e formas diversas e inclusivas. O que esperamos falar é a beleza da humanidade”, acrescentou Valdes.
Por mais publicações que exaltem a história da tatuagem e das modificações corporais como um todo na perspectiva das mulheres, sobretudo, considerando a interseccionalidade entre classe, raça, idade, deficiência, sexualidade e gênero. Temos muito para aprender. Cuidemos de nossa história!
FONTE
Apo Whang-Od And The Indelible Marks Of Filipino Identity
https://vogue.ph/magazine/apo-whang-od/