“Eu não sou o meu corpo, eu apenas vivo nele”
Fakir Musafar
Está acontecendo uma arrecadação de fundos para produção de um documentário inédito sobre Fakir Musafar (1930-2018). Para além da nossa profunda alegria em saber da iniciativa, dois pontos para nós são marcantes:
- O quanto a comunidade da modificação corporal precisa se organizar – dentro de si – para poder salvar nossas histórias e contar nossas histórias. E quase sempre, quando se trata de contarmos essas histórias com as nossas vozes, dependemos de uma ação coletiva para arrecadação de fundos. Mesmo em países ricos, quando se trata da nossa comunidade, é assim que tem sido e é assim que temos conseguido difundir e registrar o que temos feito ao longo do tempo;
- Nós no FRRRKguys e. por meio do trabalho da T. Angel em seus cursos, aulas, artigos e palestras. temos defendido a relação do movimento LGBTQIAP+ com a história da modificação corporal, de modo indissociável. O novo documentário reforça essa hipótese, como uma constatação, trazendo o Fakir Musafar como um ícone da modificação corporal e, em igual medida, para comunidade LGBQTIAP+. Nesse sentido, a urgência de se combater as alianças com o fascismo dentro da comunidade e o enfrentamento das LGBTfobias, em respeito obviamente aos direitos humanos, mas também em respeito e coerência com a nossa própria história, aquilo que pontualmente a comunidade freak tem se comprometido em fazer. Como um outro movimento, dentro do movimento da modificação corporal.
Abaixo traduzimos o texto da campanha e deixamos o teaser de divulgação, que nos deixou com muita vontade de ver mais, nele já temos falas de Annie Sprinkle, Cleo Dubois (companheira de Fakir), Jim Ward e Ron Athey. O filme é assinado por Angelo Madsen Minax e tem o título de A body to live in – Fakir Musafar and the body modification movement, em português: Um corpo para se viver – Fakir Musafar e o movimento da modificação corporal.
Tradução nossa do texto de divulgação:
“Os caminhos que nossos/nossas ancestrais queer pavimentaram são ricos e muitas vezes desconhecidos. O que podemos aprender com sua engenhosidade? Como podemos considerar a responsabilidade cultural dentro de um contexto histórico? Qual é a relação entre sexualidade e espiritualidade? Por que precisamos de rituais? Por que precisamos de arte?
Ao descobrir o trabalho de fotografia e performance do ícone LGBT e kink (termo usado para falar de práticas sexuais não normativas) Fakir Musafar (1930-2018), essas são apenas algumas das perguntas que A BODY TO LIVE IN faz.Filmado em rico filme de 16 mm e com extensos materiais de arquivo nunca antes vistos, A BODY TO LIVE IN é uma experiência visual envolvente e arrebatadora; um mergulho nas dimensões histórica, ética, artística e espiritual do movimento de modificação corporal.
Usando os primeiros experimentos de Fakir em jogo corporal e “flexibilidade de gênero”, seus trabalhos fotográficos e performáticos nos convidam a traçar o movimento de modificação corporal conforme surgiu na subcultura LGBT ocidental na década de 1970. O filme nos apresenta as primeiras figuras-chave – Fakir, Jim Ward, Doug Malloy – cujas experiências colaborativas em festas gays underground de BDSM levaram à primeira loja de piercings (Gauntlet Enterprises, Los Angeles, 1978), uma revisão subsequente dos DSMs (Diagnóstico e Manual Estatístico de Transtornos Mentais) definição de automutilação e toda uma subcultura. Participações de Annie Sprinkle, Ron Athey, Cléo Dubois, Idexa Stern, Jim Ward, Midori, Sheree Rose e outras provocam reflexões mais profundas sobre fazer arte, sobreviver à epidemia de AIDS, o papel do espiritual dentro do erótico e as dimensões éticas do fazer-mito.
A BODY TO LIVE IN foi escrito e dirigido por Angelo Madsen Minax, que participa de comunidades queer, trans, trabalho sexual e kink há mais de 15 anos. Ele conheceu a fotografia de Fakir pela primeira vez em 2003 como uma jovem pessoa trans e foi apresentado a Fakir em 2005. Os dois compartilharam a comunidade até a morte de Fakir. O filme de Madsen, “Kairos Dirt and the Errant Vacuum” (2017), sobre um romance queer multidimensional, foi um dos últimos filmes que Fakir viu no cinema antes de sua morte em 2018. Ele afirmou que era seu filme favorito.
O último longa-metragem de Minax, NORTH BY CURRENT, foi lançado com aclamação da crítica em 2021, estreando no Festival Internacional de Cinema de Berlim, Tribeca Film Festival e exibido na PBS. Ganhou um prêmio IDA de melhor roteiro, um Spotlight Award do Cinema Eye Honors, foi indicado ao Independent Spirit Award e listado nos 20 melhores filmes do ano da Rolling Stone. Mesmo com um histórico robusto de sucesso na criação de filmes inventivos, o conteúdo deste novo trabalho oferece desafios únicos para acessar apoio e financiamento: As pessoas têm medo de sexo. Independentemente de quão “progressistas” sejam ou gostariam de ser, nosso mundo puritano, patriarcal e heteronormativo impõe barreiras rígidas quando se trata de nudez, erótico, BDSM e transformação de gênero. Simplificando, este projeto se deparou com homofobia, transfobia e fobia sexual. Com essas barreiras sistêmicas em vigor, viemos à nossa comunidade para pedir seu apoio na realização deste importante novo trabalho. Nossas atuais necessidades urgentes de financiamento são especificamente para continuar a fotografia principal.”
Você pode saber mais sobre o projeto no link abaixo:
www.abodytolivein.com
Você pode fazer a sua doação clicando em:
https://donate.uniondocs.org/campaigns/a-body-to-live-in/