Foto: Camille Greenwell / Reprodução Facebook
Neste sábado, 10 de Fevereiro, morreu aos 34 anos de idade, a artista da dança brasileira, Mickaella Dantas. Ela estava internada por conta de um câncer no Hospital de São João, no Porto, Portugal, onde vivia e como dizia, “a terra que escolhi como minha“.
Nascida em 02 de Agosto de 1989 na cidade de Cruzeta, no interior do Rio Grande do Norte, Mickaella Dantas teve um primeiro diagnóstico de câncer aos 11 anos de idade e como consequência da doença passou pela amputação de uma de suas pernas. Essa experiência toda fez com que ela se aproximasse da dança, sobretudo das companhias que reuniam pessoas com deficiência e outras corporalidades.
Começou a dançar no Roda Viva, ainda no Rio Grande do Norte, posteriormente passando a integrar outras companhias na Europa. Dessa sua jornada, temos a sua participação na Companhia Dançando com a Diferença na Ilha da Madeira, Portugal. Destaca-se que as duas companhias citadas foram fundadas por Henrique Amoedo. Ainda em Portugal, Mickaella passou pelo Fórum Dança, em Lisboa, trabalhou com Paulo Ribeiro, com Clara Andermatt, fazia circo e pensava o corpo e a dança. “Dançar é partir, voltar e repartir”, em suas palavras.
Em 2017, a artista se mudou para Londres, onde esteve por cinco anos como parte do elenco da famosa e prestigiada Candoco Dance Company, também dedicada à dança inclusiva.
Ainda em 2017, quando assistiu o trailer da nossa websérie Sauntering, nos convidando para alargar os olhos, Micka compartilhou o vídeo e escreveu em sua conta no Facebook:
“quando você assistir pode se sentir assustado, ok… mas continue, se te deixares ir além do muro os teus olhos poderão ficar largos, largos, tão largos quanto a verdade. Isto é sobre a diversidade e respeito, sobre ti e o outro ao teu lado.”
De seus cadernos da dança de 2021, Mickaella escreveu:
“Em primeiro lugar o corpo
Em segundo a dança
Em primeiro a dança
Em segundo a vida
Em 1° a dança (novamente)
Em 2° o resto do mundo
Em primeiro lugar a vida
Um segundo… a dança calou”
Em 2014, tivemos a chance de conhecer pessoalmente essa pessoa e artista incrível. Na ocasião, participamos do 2º Encontro Inclusivo de Dança na Ilha da Madeira, Portugal.
Em Julho de 2023, já em tratamento contra o câncer, refletindo sobre o corpo e a experiência que estava passando, escreveu nas redes sociais:
“Ouvir o corpo para não parti-lo
Sinto minha estrutura frágil, meu sistema esquelético cansado, e pela primeira vez não o culpo. Meu corpo tem me sustentado com imensa perseverança, quimioterapia, radioterapia, doses fortes de medicação, efeitos das medicações, e dores.
Meu corpo, minha estrutura, minha fonte de energia, vitalidade, criatividade, força e dança, ele também tem o direito de se cansar, e tudo que eu posso fazer por ele agora é fazer muito pouco… aceitar ajuda física, agradecer por ele ter me sustentado tão firme até aqui e respeitá-lo.
A força se reconstrói a cada dia”
Micka foi essa pessoa que com sua arte e sensibilidade nos convidada sempre para ir além de todos os muros. Fazia-nos o convite também de olhar para o corpo que temos e somos com carinho e respeito. Não podemos nunca esquecer desses seus convites e toda vez que cruzarmos e atravessarmos as muralhas – não importando o seu tamanho – ela estará viva conosco. Você teve todo o direito de se cansar e de fazer pouco diante do tanto que fez para o mundo das artes. Você dançou, partiu, voltou e e repartiu e sempre seremos muito agradecides por isso. Obrigada por tudo e descanse em paz.