Anarchy Parlor

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Parlor

Chega em 19 de Junho de 2015 nos cinemas o filme norte-americano Anarchy Parlor, escrito e dirigido por Devon Downs e Kenny Kage. Seguindo o gênero de horror, Parlor conta a história de um grupo de norte-americanos que vão passar férias em Vilnius, capital da Lituânia. Os jovens acabam cruzando com um tatuador maníaco e sua aprendiz, além de esbarrar em uma espécie de tráfico de órgãos.

No elenco temos a atriz e tatuadora Sara Fabel e o ator Robert LaSardo, conhecido por participar de vários filmes e séries, sendo o seu corpo bastante tatuado uma de suas marcas registradas. Guardem essa informação, isto é, que ambos são tatuados de verdade pois a usaremos mais adiante.

O cinema norte-americano – não só o de horror obviamente – tem uma certa insistência racista em apresentar pessoas norte-americanas em situação crítica em países latinos e também naqueles que compõem o Leste Europeu. O exotismo inicial abre portas para um escoar de preconceitos contra esses lugares e concomitantemente com as pessoas que habitam essas terras. Poderia facilmente citar no mínimo 10 filmes que já fizeram isso.

Anarchy Parlor não inova e opta pela reprodução do mais do mesmo. Faz o que Hostel (2005) já tinha feito ao mostrar turistas sendo massacrados no Leste Europeu, apesar dos diretores negarem a similaridade em entrevista para o Dread Central. A resposta não convenceu muito, assim como o próprio filme também não. Uma das diferenças que os diretores pontuam é sobre a estória do filme girar em torno do personagem “The Artist”, o tatuador maníaco e sua aprendiz também maníaca, Uta. É bem verdade que apesar da tatuagem hoje ter sido assimilada pela cultura de massa, ainda existe sobre ela um olhar de exotismo que preferimos chamar de preconceituoso, que indica algum tipo de atavismo e psicopatia, basta CLICAR AQUI e ver a matéria exibida recentemente pela Rede Record. O filme, a sua maneira, reforça essa ideia.

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O cinema norte-americano – não só o de horror obviamente – tem uma certa insistência sexista e machista em explorar o corpo das mulheres. Cenas de sexo avulsas com ênfase nos seios das atrizes tentam chamar a atenção e nem no momento em essas mulheres estão sendo torturadas na ficção há uma trégua. A maníaca e aprendiz é uma caricatura da caricatura, tudo é exagerado em sua personagem e atuação. A necessidade de sempre ter a personagem de Sara Faber com pouca roupa atende a mesma lógica dos comerciais de cerveja, é usar o corpo da mulher como objeto com a proposta única de vender um produto, no caso vender o filme. Isso não nos soa muito bem e só demonstra a fragilidade de tudo.

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Além do racismo e sexismo, reforçar o imaginário de que pessoas que vivem a modificação corporal sejam maníacas e psicopatas também não é novo, Mórbido Silêncio (1998) já fez isso e depois dele no mínimo outros 5 títulos também já o fizeram. O mais curioso é que não temos um outro filme para equilibrar essa balança. Não há uma filmografia que mostre as práticas de modificações corporais em um contexto comum ou no mínimo longe da patologia. Talvez seria assustador para a sociedade tradicional conhecer essa possibilidade, isto é, a de que somos gente.

Como escrevi acima, o ator Robert LaSardo é um tatuado e a atriz Sara Fabel é tatuada e tatuadora, imagino que ambos conheçam um pouco da história dessas práticas e que inegavelmente sintam o peso que o corpo modificado tem. Fico me perguntando o que poderia ter levado ambos a aceitarem a participar do filme… Fico pensando na responsabilidade que temos em colaborar com a ruptura de estigmas e preconceitos acerca do corpo modificado… Penso principalmente que temos responsabilidade sim, o que abarca recusar propostas de projetos que tendem a nos estigmatizar e nos desumanizar mais.

Anarchy Parlor não convence e ao optar pela reprodução do senso comum em excesso e pela violência simbólica contra determinadas populações, culturas e práticas. É um horror que assusta pela mediocridade, nada além disso.

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