Corpos diversos repensam as masculinidades em novo videoclipe de Lineker

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Foto: Gabriel V. Neves / Divulgação

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Na música e na arte brasileira de modo geral as questões de gênero estão fervendo e não é de hoje, muito embora a bancada evangélica somada da força fundamentalista religiosa tente construir muros sobre elas. No Brasil, artistas como MC Linn da Quebrada, As Bahias e a Cozinha Mineira, Liniker, Rico Dalasam e Lineker fazem parte dessa linha de frente que tem nos oferecido musicalmente boas questões para repensar, por exemplo, o que é ser homem, mulher, os dois ou nenhum. 

Falando de Lineker (com e), o artista lançou o seu terceiro e autointitulado disco, que saiu em todas as plataformas digitais na terça-feira (8). Antes do lançamento do álbum, o cantor e dançarino mineiro compartilhou na quinta (3) via Youtube o primeiro single, “Alguém Segure Esse Homem“, que iremos escrever algumas linhas e você pode ouvir e assisti-lo no final da matéria. 

O conceito do videoclipe retomou uma proposta já lançada anteriormente no trabalho intitulado “MACHO” (2015), uma criação do Lineker em parceria com a diretora e coreógrafa Adriana Grechi. “Tanto essa dança quanto o meu novo single são reflexões sobre a construção social da masculinidade e sobre como pensar e/ou reconhecer as desconstruções de gênero não só através dos não-binarismos ou pela estética do feminino, como nas identidades de gênero trans-femininas, mas também a partir da estética do masculino“, explicou o cantor ao Noisey.

Além disso, falando do single, o Noisey vai dizer que “ela é uma faixa com um  arranjo, ao mesmo tempo, bem pop, mas meio loucão, desconstruído, com grooves assimétricos, meio imprevisível. Ela sintetiza uma busca presente em todo o disco. Já a letra da canção traz como tema central o desejo por um homem diferente do homem padrão, um homem que é impermanente, um homem que supera o mito do Éden, o arquétipo de Adão”.

Pensar sobre gênero é também pensar sobre estética e os corpos presentes no videoclipe  intensificam as questões que precisamos visitar e revisitar com mais dedicação, por exemplo, o que é ser homem ou o que um homem pode ou não fazer (no sentido da performatividade teorizada por Judith Butler). Importante lembrar, para não dizer essencial, que se olhe todo corpo como um campo político. 

A música nova de Lineker embala corpos de homens gays, héteros, mulheres, cisgêneros, transgêneros, não-binários, negros, brancos, gordos e magros. As modificações corporais estão ali colaborando com as construções identitárias, tatuagens, orelhas alargadas e perfurações adornam os corpos ali presentes, que dançam e cantam e contam sobre rupturas e tensões dos padrões de masculinidades. Aqui pontualmente, sentimos uma aproximação poética e política com o que desenvolvemos no FRRRKguys ao longo dos anos.

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Falemos da importante presença dos homens trans no filme, Heitor Girardi Marconato, que é um deles, afirmou ao site NLUCON “que participou da obra por indicação da militante Magô Tonhon. E que adorou a proposta de trabalhar masculinidades sem reforçar estereótipos e ainda explorar outras nuances”. Heitor disse na matéria:

 

“Fiquei feliz de ver lá homens trans e cis ampliando um leque de masculinidades. E por ver homens trans diversos entre si. Achei interessante também ver que a masculinidade também foi expressada na mulher. Foi um grupo bem diverso mesmo e eu gostei muito do resultado.”

 

Ainda na matéria do NLUCON, o modelo João Henrique Machado afirmou que achou que não fosse conseguir fazer algumas cenas, por se considerar bem disfórico, mas o deixaram confortável. “A música me encantou, assim como a letra e a ideia de repensar masculinidades. Quando assisti fiquei apaixonado”, contou. Sentimento que também teve Thomaz Oliveira ao participar e assistir. O modelo disse ao NLUCON que:

 “Além da representatividade, que é algo que pesou muito, afinal sendo trans negro e gordo, eu não me vejo por completo nos espaços, foi um presente da vida. Curiosamente fui gravar na véspera do meu ‘aniversário de nome’ – escolhido pela minha mãe. Então foi um trabalho muito significativo para mim, consegui me amar”.

 

Ainda sobre os modelos trans, Lineker contou em entrevista ao LadoBi que:

“Eu conhecia alguns de vista, mas todos foram indicações super preciosas da Magô Tonhon, do [SSEX BBOX]. A gravação foi um dia muito intenso pra todas as pessoas da equipe, foi um dia de muito afeto e cumplicidade. Para mim os encontros que meu trabalho me proporciona são sempre muito especiais, e esse foi um deles. Fiquei muito encantado com as histórias de cada um, e muito honrado por ter a oportunidade de trabalhar com todos eles.”

Especificamente sobre o videoclipe de “Ninguém segura esse homem“, o cantor explicou ao Noisey que:

Ao trazer a metáfora, na letra da canção, desse homem ‘pós-Adão’, eu quis propor no clipe um olhar para as masculinidades que extrapolam os limites da masculinidade hegemônica (do homem cis  e heterossexual), de pessoas que as experimentam na materialidade de seus corpos de formas que transcendem os padrões convencionais, seja por suas sexualidades, seja por suas identidades de gênero (por isso trouxe personagens no vídeo desde homens gays cisgêneros até mulheres lésbicas masculinas e de homens trans).

Assim, parti de um ambiente típico da socialização masculina, o esporte, para brincar, tensionar e explicitar algumas relações bastante presentes e muitas vezes bastante reprimidas e negadas na construção das masculinidades. Basicamente, o clipe se alterna em dois ambientes: primeiro, o vestiário, lugar do tabu, das comparações dos corpos, do desejo reprimido e das brincadeiras em que o homoerotismo muitas vezes aflora, mesmo diante das repressões; depois, a quadra, o jogo em si. Sinto que, no geral, a ideia é reivindicar os espaços restringidos ao “homem padrão”, re-territorializando estes, fazendo-os matéria fluida, passíveis de ocupação por toda e qualquer performatividade.”

 

Confira logo abaixo o videoclipe:

Ficha técnica
 
Direção, roteiro, montagem e cor: Lineker
Fotografia e câmera: Gabriel V Neves
Still e câmera: Gustavo Lemos
Assistente de câmera: Berg Flores
Styling: Victor Hugo Yuuki
Lineker e elenco usam looks View01, Avah, Soy.vos e Bang Footwear
Maquiagem: Júlia Klemz
Coreografia: Danielli Mendes e Lineker
Performance: Ariel Silva, Danielli Mendes, Gabriel Tolgyesi, Heitor Girardi Marconato, Iolanda Sinatra, João Henrique Machado, Lineker, Thomaz Oliveira, Wellington All
Música e vozes: Lineker
Produção musical e arranjo: Lineker e Montorfano
Baixo: Ivan Gomes
Bateria: Mariá Portugal
Guitarras: André Bordinhon
Programações: Guto Gonzalez
Teclados: Chicão
Captação e edição: Guto Gonzalez e Montorfano (Estúdio Lamparina)
Mixagem: Guto Gonzalez
Masterização: Carlos Freitas (Classic Master)
Produção executiva: Iolanda Sinatra
Arte gráfica: Giovanni Pirelli

REFERÊNCIAS
Lineker em seu novo vídeo: Alguém segure esse homem
http://musicainspira.com.br/2016/11/05/lineker-em-seu-novo-video-alguem-segure-esse-homem/ 

Homens trans e cis (des)constroem masculinidades em novo clipe de Lineker
http://www.nlucon.com/2016/11/homens-trans-e-cis-desconstroem.html

Lineker: “Precisamos começar a pensar em masculinidades, no plural”
http://ladobi.uol.com.br/2016/11/lineker-alguem-segure-esse-homem/

Lineker brinca com as várias nuances da masculinidade no clipe de “Alguém Segure Esse Homem”
https://noisey.vice.com/pt_br/article/lineker-alguem-segure-esse-homem-clipe

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