Tatuagem

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Podemos dizer que hoje a tatuagem é uma das práticas da modificação corporal que melhor foi assimilada por quase todas as sociedades do mundo. Sua história ainda é cheia de lacunas, mas sempre nos fazendo pensar que o ato de marcar a pele com tinta tenha acompanhado o homem secularmente. O Brasil é um grande berço para a prática e diversas tribos indígenas tinham a tatuagem – ainda que não com esse nome exatamente – constituindo sua trama sócio-cultural. No começo do século XX a tatuagem já se enquadrava entre as “pequenas profissões” no Rio de Janeiro e aspirava ser uma profissão “muito mais interessante” e rentável “que a de amanuense de secretária”, como diz João do Rio no livro “A alma encantadora das ruas”, 1908.
Hoje temos uma alta quantidade de excelentes profissionais espalhados por todo o Brasil. Sem contar que inclusive se tornou possível “exportar” talentos brasileiros em potencial para Europa, Ásia e outros países da América.
Ainda que tenhamos muitos entraves no que concerne a tatuagem brasileira, já é possível dizer que inúmeras batalhas foram vencidas, como o próprio tempo e toda estigmatização que rondava o ato de marcar a pele.
Conversamos com alguns tatuadores para discutir alguns temas e saber como anda a tatuagem no Brasil, confira!

T. Angel: Seu nome, cidade, Estado e loja que tatua atualmente?
André Cruz: André Luiz da Cruz, tatuando no Iritsu Tattoo Shop em São Paulo.
Adrien Dorme: Adrien Dorme, paulista e tatuando em Goiás no Jander Tattoo Estúdio.
Fabio Marinho: Fabio Marinho dos Santos, tatuando no Titão Tattoo Estúdio, São Paulo.
Júlio César: Júlio César, Osasco (São Paulo) e tatuando no Tattoo Jungle.
Léo Neguim: Leonardo Ferreira do Nascimento (Léo Neguin), tatuando em São Paulo no Estúdio Don Rodrigues Tattoo.

T. Angel: Formação? [Escolar, técnica, acadêmica]
André Cruz: Ensino médio completo.
Adrien Dorme: Ops…
Fabio Marinho: Segundo grau completo e cursos de Artes Visuais e História da Arte.
Júlio César: Ensino médio e cursos livres de desenho.
Léo Neguim: Segundo Grau Completo.

T. Angel: Quanto tempo tatua profissionalmente?
André Cruz:
Tatuo profissionalmente há 4 anos.
Adrien Dorme: Sete anos.
Fabio Marinho: Tatuo há 7 anos no mercado.
Júlio César: Aproximadamente oito anos.
Léo Neguim: Há dez anos.

T. Angel: Você considera obrigatório o conhecimento em técnicas de desenho para se tornar um bom tatuador?
André Cruz: Sem desenho não existe artista, existe somente “tatuadores”.
Adrien Dorme: Não existem tatuadores copistas que tenham trabalhos realmente reconhecidos, o princípio básico pra se tornar tatuador é ser um desenhista.
Fabio Marinho: Considero um conjuto de preparação, mesmo exercendo a função e principalmente de desenho, pelo fato de desempenhar a arte em aplicação.
Júlio César: Com certeza. Ttodo bom profissional hoje em dia tem que ter uma boa visão de desenhos, até mesmo para poder dar uma melhor opção para seus clientes.
Léo Neguim: Totalmente, a base da arte de tatuar sempre foi o desenho, não entendo como um tatuador pode se dar ao luxo de não desenhar.

T. Angel: O que é fundamental para o bom desempenho de um profissional?
André Cruz: Amor, dedicação e atitude.
Adrien Dorme: Amor e um bom equipamento, o resto é tempo e dedicação.
Fabio Marinho: Sempre estar por dentro de cada item novo no mercado ou de técnicas novas, exemplos: tintas máquinas, equipamentos e formas de aplicação. Isso é fundamental!
Júlio César: Na minha opinião é a humildade, respeito pela profissão, responsabilidade e o principal, fazer seu trabalho com amor e dar o melhor de si.
Léo Neguim: Bom, primeiro a dedicação no estudo diário, depois um bom equipamento para facilitar o desempenho do trabalho e por último a humildade de estar sempre aberto para o aprendizado.
T. Angel: Qual sua opinião sobre as convenções de tatuagem?
André Cruz: “Divulgação” da arte (tatuagem) e mina de dinheiro para os organizadores.
Adrien Dorme: Eu gosto e participo de muitas, apesar de às vezes não concordar com as condições sanitárias e essas coisas. Mas em geral é positivo.
Fabio Marinho: As convenções de tattoo estão no mercado para conhecimento de produtos novos e técnicas novas. Para deixar muitos profissionais atualizado e dar mais chances aos novatos para exporem seus trabalhos, que tem qualidade, só não tem oportunidade pela panela que sempre será e sempre foi.
Júlio César: Eu particularmente gosto, é aonde você adquire conhecimento, faz amigos, contatos e fica sabendo de todas as novidades do nosso meio. Gosto e recomendo.
Léo Neguim: Gosto muito de participar, encontrar os amigos de profissão, ver as novidades, os profissionais que admiro trampando de perto, mas não gosto do clima que é gerado por alguns tatuadores por conta da competição.

T. Angel: Qual a sua concepção acerca das revistas de tatuagem que circulam nacionalmente?
André Cruz:
Revistas que não se preocupam com a qualidade, e por isso acabam banalizando o trabalho de bons artistas que temos de sobra no Brasil.
Adrien Dorme: As revistas nacionais tem melhorado nos últimos anos, mas é um processo lento e pra que todas elas se equiparem em nível, ainda vai levar um teminho.
Fabio Marinho: A minha visão é ampla pelo fato de estar no mercado de tattoo. Simplesmente propaganda e marketing, venda de imagem de seu trabalho e pago. Os melhores profissionais não expõem seus trabalhos pelo fato de ser pago e as revista não expoem pelo fato da grana! Então tudo gira em volta da grana!
Normal tudo funciona assim.
Júlio César: Não sei o que dizer você quase não vê mais fotos de tattoo nas revistas. Eu acho que deveriam mudar os conceitos e darmos mais evidência a todos os profissionais, pelos seus trabalhos e não porque eles anunciam. Essa é a minha opinião!
Léo Neguim: Tem boas revistas no mercado, mas tem umas que não gosto da qualidade gráfica e do conteúdo. Acho que da para conseguir um visual gráfico que valorize mais os trabalhos publicados.

T. Angel: Qual sua visão sobre o cenário da tatuagem no Brasil?
André Cruz: Não sei, me vejo fora dele e dentro do cenário da arte e por isso me foco somente nisso.
Adrien Dorme: Pergunta difícil essa. Acho que a cena é forte e a maioria dos artistas tem uma boa onda entre eles, no entanto, sempre tem alguém com o rei na barriga e esses devem servir de exemplo de como não se deve proceder.
Fabio Marinho: Creio que de uns 10 anos para cá mudou muita coisa no cenário. Desde os preconceitos das pessoas e profissionais descobrindo seu estilo de trabalho. Isso vem conquistando muitos outros países a fazer o intercâmbio de tatuadores.
Júlio César: Temos muitos profissionais bons aqui, mas eu acho que poderíamos fazer a coisa acontecer com mais carinho, mais dedicação.
Léo Neguim: Não estamos devendo nada para o cenário gringo. Tive a oportunidade de trabalhar na Europa e visitei algumas convenções por lá também. Sem duvida tem tatuadores excelentes lá fora, mas no Brasil estamos bem representados também, mas lamento muito a mentalidade de alguns que direcionam o cotidiano de um estúdio de tatuagem para um lado mais comercial, acho que a tatuagem enquanto arte tem muito mais a oferecer.

T. Angel: Existe o processo da ANVISA em relação a tatuagem, comente:
André Cruz: Importante em alguns pontos e totalmente desnecessária em outros.
Adrien Dorme: Acho importante e necessário, já estava passando da hora de alguém fazer algo a respeito. Pra quem é profissional de verdade não faz muita diferença, ninguém vai perder seu espaço. Já para os maus intencionados de plantão ou aqueles que não tem estrutura é correr ou desistir.
Fabio Marinho: Opinião formada, segurança para ambos os lados, tatuador e cliente. Lado ruim: sem chance para estúdios que não tem uma condição de ter equipamentos de alto padrão. Muitos profissionais perdendo seus estúdios. Sendo que ao invés deles ajudarem vão tirar o que os profissionais tem.
Júlio César: Eu acho viável porque tira aquela visão que a sociedade tem em relação ao nosso trabalho e a procedência do nosso material.
Léo Neguim: Lamento muito essa situação, prejudica muito o andamento da arte…
Ter que ser aprovado por um órgão que não tem tanto conhecimento de causa em relação a tatuagem prejudica muito todo o ramo.

T. Angel: O que pensa sobre a Lei do Ato Médico?
André Cruz:
Uma lei ridícula, feita somente para arrecadar dinheiro, como todas as outras
Adrien Dorme: Acho que depende do ponto de vista. Não é tão negativo quanto parece ao mesmo tempo que assusta. Mas minhas idéias são um tanto quanto paradoxais então prefiro encerrar meu comentário por aqui!
Fabio Marinho: Tenho a plena convicção de que não terá nenhuma necessidade de um profissional que trabalha em outra área, como o medico. Sendo que tudo o que leva uma pessoa a ter um problema de alergia ou um câncer (como eles dizem), já está sendo fiscalizado pela anvisa, exemplo: tintas e padrão asséptico.
Júlio César: Estávamos muito bem do jeito que estávamos até que me provem ao contrario. O que eles querem? Que a gente estude medicina? risos
Léo Neguim: Acho que não cabe a eles entrarem tanto assim no nosso ramo, talvez a gente até use de alguns procedimentos cirúrgicos para executar nosso trabalho, mas biomédica é uma coisa e arte é outra totalmente diferente.

T. Angel: Qual a sua posição em relação ao SETAP?
André Cruz: …..
Adrien Dorme: Ainda não sou filiado e a última vez que telefonei lá buscando informações, soube que estavam com as atividades paralisadas temporariamente. Mas fiz um curso de biossegurança, organizado e ministrado pelo SETAP.
Fabio Marinho: Monopólio, acho que tudo começa a repercurtir um certo interesse do governo e pessoas do meio profissional. Isso seria mais um imposto sobre o serviço. Sem direito nenhum ao profissional, somente o quesito: trabalho!
Lado bom é que eles estão investindo na segurança, mas para todos será mais um custo, seja para o profissinal e/ou para o cliente. Será que o cliente está disposto a pagar um certo preço alto na tatuagem por tudo isso?
Ai está a pergunta que muitos vão querer saber.
Júlio César: Concordo, mas preciso me informar melhor para comentar a respeito.
Léo Neguim: É uma proposta feita com uma boa intenção, mas acho que as barreiras burocráticas que vem enfrentando está acabando com o brilho da proposta inicial

T. Angel: Qual o futuro da tatuagem no Brasil?
André Cruz: Trabalhos mais voltados para a arte e com muita qualidade, a nível de qualquer outro lugar do mundo.
Adrien Dorme:
Futuro é algo que só saberemos quando ele for presente, mas meus votos são de que seja cada vez melhor. Com essas novas leis e regulamentações só tende a melhorar.
Fabio Marinho: Acho que tem muito a crescer. Estamos no caminho certo, mesmo com as leis, sei que mais para frente. Se tivermos boas pessoas para auxiliar no intermediário, teremos profissional satisfeito e pronto para exercer o seu trabalho. Os brasileiros sempre foram criativos e tenho certeza que a safra nova vai arrebentar nas tatuagens. Com tudo isso, creio que teremos meios de acessibilidade de materiais que facilitam nossa profissão.
Júlio César: É como já disse, temos ótimos profissionais aqui no Brasil, mas se os oportunistas continuarem fazendo cursinho de vídeo-aula de solda de agulha e achando que pele humana é couro de porco, não vamos muito longe não. Os próprios “profissionais” banalizam a arte.
Léo Neguim: Se conseguirmos superar toda essa fase de ANVISA, Ato Médico e etc, temos ainda a questão da disciplina nos estudos da arte. Se todos entenderem isso a tendência é crescer.

FIM.

CONTATOS:

André Cruz: www.myspace.com/tattoolman
Adrien Dorme: www.myspace.com/adriendorme
Fabio Marinho: www.myspace.com/marinhodossantos
Júlio César: www.myspace.com/juliotattoojungle
Léo Neguim: www.myspace.com/leoneguin_tattoo

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