Uma conversa sobre corpo e gênero com Brandon Bec

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Fotos: Renata Quigua 10588630_764212680308611_374058453_n

Poucas pessoas sabem que a presença de homens transexuais sempre rondaram a história do FRRRKguys. Esses homens que foram socialmente invisíveis por tanto tempo são muito importantes para nós. Falar sobre eles é ao mesmo tempo falar sobre a visibilidade trans e isso muito nos interessa, politicamente falando.

O primeiro homem transexual que chegou ao FRRRKlog foi um espanhol. Naquele momento nossos entendimentos sobre a questão de gênero era bastante limitada e sem dúvida alguma aquela presença nos deu um novo vigor e impulso. Entendíamos através dele que se a nossa proposta era falar sobre a beleza masculina oriunda das práticas de modificação corporal, não nos interessava saber se o rapaz seria cisgênero, transgênero ou sem gênero. Tão pouco utilizar essas classificações como forma de separar e segregar pessoas. A nossa ideia sempre foi falar de e compartilhar beleza e, para nós, não há nada mais belo e potente do que viver a vida sendo aquilo que se é. Sim, isso significa que levantamos a bandeira trans e o faremos quantas vezes for necessário.

Tentamos ao longo desses anos todos falar sobre a diversidade sexual e de gênero com todo o respeito que o assunto pede. Nunca foi a nossa intenção fazer polêmica ou sensacionalismo da existência das pessoas. Pelo contrário, tratar suas particularidades, subjetividades e pluralidades com atenção, respeito e carinho era o mínimo que poderíamos fazer. Talvez essa nossa postura ideológica nos afastou de muitos leitores e leitoras, mas está tudo bem, honestamente não temos a menor preocupação com isso. Nossos textos sobre as pessoas trans* ou que rondam as questões de gênero estão sempre entre os mais lidos e isso sim é importante para gente. Saber que existe um interesse ou uma inquietação com força suficiente para mover pessoas para ler sobre isso. Ou ainda, nos interessa saber que as pessoas trans* leiam e se sintam representadas pela nossa fala.

Toda essa introdução é para dizer que entrevistamos o tatuador Brandon Bec de Manaus, Amazonas. Ele é um jovem transexual com uma relação bem bonita com diversas práticas de se modificar o corpo. Profissionalmente falando, é um tatuador muito talentoso e que cada vez mais admiramos o trabalho. Nada melhor como conhecer um pouco mais sobre ele, através de seu próprio discurso. Dito isso, confira abaixo a nossa entrevista exclusiva. Boa Leitura!  

T. Angel: Nome, idade e cidade?
Brandon: Brandon B. Dias , 25 anos, Manaus.

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T. Angel: Qual a sua identidade de gênero?
Brandon: Homem transexual.

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T. Angel: E a sua orientação sexual?
Brandon: Heterossexual.

T. Angel: Qual a sua formação?
Brandon: Ensino médio.

T. Angel: E sua ocupação atual?
Brandon: Desenhista e tatuador.

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T. Angel: Há quanto tempo começou a fazer sua transição?
Brandon: Eu acredito que a transição começou logo quando me percebi diferente e que não me identificava com o gênero que me foi designado. A transição física comecei antes de me perceber trans a mais ou menos 6 anos, com pequenas mudanças como vestimenta e corte de cabelo.

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T. Angel: Quais as modificações corporais de redesignação que rondaram o seu processo?
Brandon: Até agora apenas mudanças resultantes do tratamento hormonal e adequação do meu corpo através da alimentação e exercícios físicos.

T. Angel: Quais você pretende fazer?
Brandon: Pretendo fazer algumas cirurgias até me sentir totalmente bem comigo mesmo, não descarto nenhuma possibilidade mas meu próximo passo com certeza é a mamoplastia masculinizadora.

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T. Angel: Você acha que temos hoje um aparato do Estado (saúde, educação, trabalho) preparado para receber as demandas das pessoas trans? Fale um pouco sobre isso.
Brandon: Infelizmente nesses três âmbitos as pessoas não estão preparadas pra receber pessoas trans e os poucos direitos que nos dão são inundados de burocracia e constrangimentos. Acredito que ainda tem muito a melhorar, o que predomina é a ignorância e descaso. As pessoas não entendem o que é a transexualidade, e essa falta de informação faz com que ajam com preconceito e isso aumenta ainda mais a disforia de qualquer pessoa transgênera.

T. Angel: Conte um pouco sobre as demais modificações do seu corpo. Como começou seu processo?
Brandon: Comecei na adolescência com piercing/alargador, mas como sempre amei arte a tatuagem se tornou uma grande paixão e quando fiz a primeira tive consciência de que não ia parar. Pra mim a modificação corporal é uma das formas mais autenticas de expressão.

T. Angel: Quais as modificações que você já fez?
Brandon: Piercings na boca e tragus, alargadores nas orelhas e no septo, microdermal e tatuagens pelo corpo.

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T. Angel: Você acredita que as modificações corporais, pensando aqui a tatuagem, piercing, escarificação, implantes, podem colaborar contra o binarismo de gênero, cissexismo, homo, lesbo e transfobia? Comente.
Brandon: Acredito sim, as modificações corporais ajudam o indivíduo a se aceitar como um ser único e capaz de mostrar a sua individualidade. De certa forma essas modificações mostram a essência humana de ser autêntico até mesmo em uma sociedade onde qualquer um que esteja “fora do padrão” sofre preconceito.

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T. Angel: Em sua opinião a comunidade brasileira da modificação do corpo lida bem com as pessoas trans* e com a diversidade sexual de modo geral?
Brandon: Por ser um meio que já sofre muito preconceito acabam por se colocar um pouco mais no lugar de pessoas que também são diferentes do convencional determinado pela sociedade. No geral as pessoas que não lidam com isso não se esforçam pra entender e acabam julgando de várias formas.

T. Angel: Você também tem uma relação com a suspensão corporal. O que poderia nos contar sobre isso?
Brandon: Pra mim a suspensão corporal é um momento onde você controla seu corpo com a mente de uma forma mais intensa e entra em um contato mais profundo com seu interior. Além disso, proporciona uma sensação de liberdade que é um sentimento vital pra mim. Esses momentos se tornaram marcantes na minha trajetória e me ajudaram de certa forma a me sentir capaz de superar outros desafios.

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T. Angel: O que você diria para os meninos trans e que estão cheios de dúvidas e medos?
Brandon: Quando comecei a me entender também tinha muitos medos e inseguranças. Mas tentei ignorar esses sentimentos e me jogar de cabeça naquilo que me fazia bem. Sai de casa cedo e precisei arriscar e errar muitas vezes pra atingir meus objetivos e me sentir bem comigo mesmo, inclusive comecei minha carreira sendo reconhecido pelo meu nome de registro e ainda preciso lidar com isso. A vida é feita de persistência e você precisa ter confiança em si e ignorar a sociedade que vai tentar fazer você pensar que não é capaz ou que não pode ser quem quiser. Nem sempre o processo vai ser agradável, mas ter uma perspectiva positiva no futuro é o melhor caminho pra alcançar a felicidade de uma forma mais plena.

T. Angel: Se alguém quiser se tatuar contigo, como deve fazer?
Brandon: Tenho estúdio em Manaus – AM , mas quem estiver interessado em minha arte pode entrar em contato pelo meu perfil do facebook (Brandon Bec) ou instagram @brandon_bec e email: brandonbec.art@gmail.com

T. Angel: Deixe uma mensagem para todas as pessoas que nos leem.
Brandon: A todos que respeitam as diversidades e diferenças do mundo, vocês têm o meu respeito e admiração! Independente de cor, gênero, aparência física, somos todos humanos e eu realmente espero que essas diferenças sejam apenas detalhes um dia. Só depende de nós mesmos.

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CONTATO
http://instagram.com/brandon_bec

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